Sobre a proposta de polo socialista e revolucionário do PSTU
M. Tunes, coordenação da CST
O PSTU lançou o Manifesto por “Uma Alternativa Socialista e Revolucionária”. Nós, da CST, avaliamos positivamente essa ideia, pois possibilita um diálogo sobre um campo, polo ou frente de independência de classe. Uma frente de esquerda e socialista para construir as lutas contra Bolsonaro e o ajuste dos governadores e prefeitos e, também, para se apresentar como polo independente nas eleições, para enfrentar o projeto reformista e de conciliação com setores burgueses liderado por Lula. Defendemos unir todos que questionam a frente ampla de Lula. Seria positivo se os camaradas do PSTU se abrissem a essa possibilidade a partir desse polo.
O manifesto apresenta várias definições corretas, como a) a positiva retomada das mobilizações no Brasil; b) a necessidade de colocar para fora Bolsonaro sem esperar 2022; c) a necessidade de uma alternativa contra a conciliação de classes. Ao lado desses pontos, que concordamos, dialogamos sobre duas limitações ou equívocos do Manifesto: os camaradas não propõem a nenhum partido ou organização de esquerda a construção do referido polo. Nós, da CST, avaliamos que, na atual conjuntura, nenhuma organização isoladamente consegue ser uma alternativa. Por isso, devemos evitar autoproclamação ou sectarismo para construir um polo ou bloco de esquerda. O outro aspecto, ausente no Manifesto, é o combate às direções traidoras na luta de classes. Esses são temas que apresentamos numa reunião entre as direções nacionais do PSTU e da CST, acertando seguir compartilhando opiniões e dialogando.
Um polo, bloco ou frente para unir os que não estão na frente ampla
O manifesto não se dirige diretamente a nenhum partido ou organização política de esquerda para propor o polo. Fala genericamente em um “polo que aglutine todas as forças”, sem dizer quais seriam; dirige-se ao “movimento e organizações” sem definir nenhuma. Dá a impressão de que está mais dirigido ao “ativismo das lutas” e aos “ativistas que militam nas organizações sindicais, nos movimentos sociais e nos partidos políticos, mas não concordam com o limite da institucionalidade burguesa que seus dirigentes impõem a essas organizações”. Algo que nos levaria a uma proposta restrita, o que seria equivocado.
Nós, da CST, batalhamos no interior do campo de oposição do PSOL, liderado pelo deputado Glauber Braga e que agrupa MES, APS, Comuna, CST, LS e outras organizações. Fomos parte do bloco que polarizou o Congresso do PSOL pela candidatura própria e contra o apoio a Lula, um campo que se mantém no interior do PSOL. Do mesmo modo, atuamos na articulação Povo na Rua junto com partidos como a UP e o PCB. Em sua última assembleia nacional, a Povo na Rua definiu que “defendemos a independência de classe da esquerda”, além de que “Rejeitamos as frentes amplas com os patrões”. Há um processo de debates e realinhamentos embrionários. Devemos levar em conta esse processo, para não abortá-lo. A disputa deve ser para unir tudo que esteja à esquerda da frente ampla. Atuar de forma aberta, sem ultimatos, é uma necessidade para construir uma alternativa de esquerda e socialista tanto para as lutas como para as eleições de 2022, para enfrentar a conciliação de classes de Lula e do PT e demais variantes políticas patronais.
As experiências internacionais
Dizemos isso pois, em nossa visão, são debates táticos na esquerda. Um exemplo: a seção da LIT-QI, organização internacional do PSTU, participou da Lista del Pueblo nas recentes eleições do Chile e tal frente nem se definia de esquerda. Então a ideia de um bloco, polo ou frente unindo os que não estão na frente ampla de Lula (esquerda socialista do PSOL e comunista como a UP e PCB) está mais à esquerda do que a frente que a LIT-QI compôs no Chile.
Nós, da CST, entendemos que não podemos ignorar as organizações existentes. Por exemplo, a FIT-U (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, da Argentina), recentemente, propôs ampliar a unidade para vários setores. Fez essa proposta até mesmo para setores que não queriam se unir, caso do deputado Zamora (um dirigente horizontalista). E isso, longe de enfraquecer a FIT-U, a levou a um fortalecimento, sem afetar seu programa revolucionário.
É preciso combater as direções pelegas e contrarrevolucionárias
Outro debate está ligado às direções burocráticas e reformistas e seu papel contrarrevolucionário na luta de classes. Na parte “colocar para fora Bolsonaro e Mourão: a tarefa mais urgente” nenhuma direção é citada. É como se elas não existissem na luta de classes. De forma indefinida, critica-se o “corpo mole na luta pelo fora Bolsonaro esperando…as eleições de 2022”. Mas não se diz quem são os que fazem corpo mole. Essas direções, lideranças, partidos têm nome e sobrenome: em primeiro lugar, a direção majoritária da CUT (Articulação Sindical/CNB-PT) ou a direção majoritária da CTB (PCdoB), do mesmo modo que os dirigentes dos demais movimentos. Apenas no terreno das eleições, na parte “Um projeto socialista e de classe”, é que se fala das coligações eleitorais de Lula, do PSOL e do PCdoB, mas sem conectar esse debate eleitoral com a luta de classes, como se a frente ampla não tivesse ligação com a mobilização. Mas o fato é que a linha eleitoral de frente ampla se expressa na luta de classes através de um boicote aos atos contra Bolsonaro, “corpo mole” ou sua desmobilização visando “as eleições de 2022”. Então é central o combate às direções pelegas. É um segundo tema sobre o qual vamos seguir dialogando para construir um bloco, campo ou frente de esquerda e socialista.