Novo, MDB e União Brasil: a “terceira via” privatista
Joice Souza – Candidata a deputada estadual
Mariza Santos – Candidata a deputada federal
CST-PA/ Polo Socialista e Revolucionário
As eleições presidenciais de 2022 contam com vários candidatos de partidos de direita que tentam se apresentar como a “terceira via” burguesa. Além do terceiro lugar nas pesquisas, Ciro Gomes (PDT), três candidatos ganharam visibilidade durante o debate da Band/UOL, realizado no fim de agosto: as senadoras Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe D’Ávila (Novo). Todos eles se colocam como oposição ao Bolsonaro e repetem frases sobre defender a educação, combater a corrupção e gerar emprego.
Porém, quando perguntados sobre como farão isso, todos eles repetem tons de um mesmo velho discurso: privatizar e diminuir os gastos com serviço púbico, entregando-os à iniciativa privada. O que eles não dizem é que essa receita tenebrosa já vem sendo aplicada desde o governo Collor e seguida à risca por todos os governos seguintes, inclusive Dilma e Lula.
A telefonia, as distribuidoras de energia elétrica, a mineradora Vale do Rio Doce, o transporte público e uma infinidade de serviços foram privatizados ou entregues à iniciativa privada em forma de concessão, durante esse período.
Bolsonaro aprovou a privatização da Eletrobras e do saneamento básico, quer vender os Correios e a Petrobras e avançou nos leilões de aeroportos e de terras públicas. Ou seja, Tebet, D’Ávila e Thronicke falam em novas propostas, todavia apresentam uma proposta caquética e neoliberal a serviço dos mais ricos desse país.
As privatizações são parte do problema, não da solução
Não é de mais privatização que o Brasil precisa e a nossa realidade é prova viva disso. Vejamos o que diz o principal defensor do “Privatiza Tudo”, Felipe D’Ávila (Novo). Segundo ele, há um excesso de gastos com serviços públicos e o Brasil tem piorado nos últimos dez anos em função disso.
Em primeiro lugar, se há mais de trinta anos os governos estão privatizando diversos setores, ou seja, diminuindo o estado, segundo a lógica de D’Avila o país deveria estar melhorando e não piorando!
Em segundo lugar, o que nenhum candidato fala é que metade do orçamento do país vai para o pagamento da dívida pública, e que em nome desse pagamento se aplica um pesado ajuste fiscal e reformas antioperárias. Ou seja, o problema do orçamento não são os serviços públicos, mas a dívida pública.
Por fim, é mentira que as privatizações geram melhores serviços. Invés de garantir direitos a todos, as empresas privadas são guiadas pelo corte de custos e garantia de lucros, prestando serviço somente a quem pode pagar e colocando o lucro acima da vida.
Exemplos disso não faltam: A Vale privatizada provocou as tragédias de Brumadinho e Mariana (MG). A empresa de saúde privada Prevent Senior foi acusada de reduzir o nível de oxigênio de pacientes nas UTIs para “liberar os leitos”; as distribuidoras de energia cobram tarifas abusivas e as empresas de transporte público confinam a classe trabalhadora em ônibus e vagões lotados e precários.
Acontece que Tebet, D’Ávila e Soraya são candidatos dos patrões, principais interessados nas privatizações e querem convencer os trabalhadores e povo pobre, principais prejudicados, de que o serviço privado é melhor. Querem aplicar o mesmo projeto econômico de Bolsonaro e, por esse motivo, não servem para os trabalhadores.
Nós, da CST, estamos com Vera 16 e com o Polo Socialista e Revolucionário e somos contrários a esse modelo. Defendemos o não pagamento da Dívida Pública e a revogação das Reformas e das Privatizações. Defendemos enfrentar as máfias privatistas para garantir serviços públicos gratuitos, de qualidade e 100% estatais. Só assim se governará em favor da classe trabalhadora. Infelizmente, essas são propostas que a chapa Lula-Alckmin (e nem Ciro Gomes) jamais defenderá, devido a seu projeto de conciliação com os patrões.
A direita neoliberal com rosto de mulher
O feminismo burguês de Simone Tebet e Soraya Thronicke não serve às mulheres trabalhadoras.
O público que mais rejeita Bolsonaro é o feminino. Visando esse eleitorado fortemente identificado com as lutas feministas, a direita aposta em candidaturas femininas. Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (UB) são a expressão desse movimento: candidaturas com forma “progressista”, mas com conteúdo profundamente reacionário e neoliberal.
Nas propagandas, entrevistas e debates partem para cima de Bolsonaro, falam em nome das mulheres, repudiam o machismo do presidente, mas, em seus mandatos, mostraram o que realmente são: representantes dos ruralistas e da direita neoliberal e inimigas da classe trabalhadora.
O levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) mostra que Soraya votou 100% contra os trabalhadores em projetos que envolveram privatizações e retirada de direitos. Tebet não ficou atrás e, junto com Soraya, votou a favor da Reforma da Previdência, da Privatização do Saneamento Básico e também aparece entre os dez senadores que mais atacaram os povos indígenas, segundo relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Ruralista, Simone possui fazendas em terras reivindicadas por povos indígenas.
Não podemos esquecer que Soraya Thronicke foi eleita em 2018 como senadora do Bolsonaro e reivindicando toda a política de Bolsonaro sobre o tema de minorias.
Mas é no tema dos direitos reprodutivos que as máscaras caem de vez: tanto Tebet quanto Thronicke se declaram contra a descriminalização e a legalização do aborto, mostrando-se, mais uma vez, inimigas das lutas das mulheres e colocando seu conservadorismo acima da vida de milhares de mulheres empurradas todos os anos para o aborto clandestino e inseguro.
Por fim, ambas falam em previsibilidade e credibilidade, ou seja, em seguir pagando religiosamente a Dívida Pública aos banqueiros e aplicando ajuste fiscal que estrangula o orçamento e impede a efetivação de políticas públicas para as mulheres e para o combate à violência machista e aos feminicídios.
Por tudo isso, chegamos a uma conclusão categórica, o suposto feminismo de Simone e Soraya não tem nada de progressista e não serve às trabalhadoras. Mais do que votar em mulheres, é preciso ter um programa em defesa das mulheres que enfrente os conservadores e a retirada de direitos.