Chile: derrotamos Kast, agora vamos por mais

 

 

por MST, seção da UIT-QI no Chile

 

A vitória esmagadora de Boric (55,87% dos votos) contra o pinochetista Kast (44,13% dos votos) no segundo turno das eleições presidenciais foi uma sonora vitória do povo e da classe trabalhadora, da juventude, das dissidências sexuais, do movimento feminista, dos povos originários e do conjunto do povo pobre e oprimido do Chile. Milhões nas grandes cidades, na maioria das regiões e das comunas operárias e populares do país, mobilizaram-se massivamente para derrotar o perigo que significava um possível governo de um simpatizante da ditadura, misógino e que odeia as dissidências sexuais, o povo Mapuche e a classe trabalhadora.

Foi a consciência desse perigo na cabeça de milhões e a vitalidade de um impulso que se nega a morrer que provocou a derrota de Kast. Por isso, inclusive, foi derrotado o boicote que Piñera e os empresários levaram adiante no transporte público, deixando sem acesso a ônibus as comunas mais pobres, em uma tentativa vã de nos impedir de ir votar no dia 19 de dezembro. O massivo ódio ao pinochetismo foi o vencedor dessa batalha e gerou uma celebração histórica nas ruas. Somente em Santiago, mais de um milhão de pessoas ocuparam as ruas.

 

Uma vitória que abre maiores possibilidades de triunfos

 

Kast pretendia castigar, como já vem tentando fazer Piñera, o povo que saiu às ruas na rebelião popular de 2019. Suas medidas repressivas, sua negativa em entregar as mais elementares demandas contra a desigualdade social e sua criminalização da mobilização foram brutalmente derrotadas nas urnas. Ocorreu assim porque milhões, dentre os quais nos incluímos, reivindicam essas jornadas de luta e, sobretudo, seguem exigindo as reivindicações nas ruas: basta de desigualdade social, de instituições corruptas, de salários e pensões de miséria, conluios empresariais e destruição do nosso meio ambiente.

A convicção de que o país deve mudar, o descontentamento social, segue presente no país. Foi isso que demonstrou a votação. Precisamos acabar com as Administradoras de Fundos de Pensão (AFP), com a busca pelo lucro na educação, na saúde e na moradia, com a falta de direitos democráticos para as mulheres e dissidências, com a constituição de Pinochet e o predomínio dos interesses de um punhado de empresários e multinacionais sobre as riquezas do país. Precisamos de salários e pensões dignos, precisamos garantir o direito de cada um de viver dignamente. 

O triunfo contra Kast demonstrou que esse desejo segue presente. Infelizmente, muitas dessas demandas não estão presentes no programa de governo de Boric. Devemos ser nítidos, devemos ser honestos, devemos falar a verdade. Tampouco há anúncios de resolver com a urgência que necessitamos. Ao invés disso, pedem-nos tempo e paciência para “mudanças graduais”, enquanto segue a vergonhosa desigualdade social no país. Enquanto poucos vivem com bilhões, milhões vivem com praticamente nada.

 

Três tarefas imediatas e impostergáveis para serem impulsionadas antes da posse de Boric

 

1) Devemos levar as demandas sociais urgentes para mudar o país para a Constituinte, defendendo as medidas necessárias para acabar com a desigualdade no país: renacionalização e reestatização dos recursos naturais, partindo dos recursos minerais, a água, o mar e as florestas, entre outros; o fim do código trabalhista; a autodeterminação dos povos originários e devolução de seus territórios; a dissolução dos Carabineiros; o direito ao aborto livre e gratuito garantido pelo Estado, entre outras medidas. Para isso, colocamo-nos à disposição para ajudar a coletar assinaturas de projetos que já estão em curso, assim como nos colocamos à disposição para iniciar a coleta de assinaturas de outras medidas.

2) Exigir imediatamente a quarta retirada das pensões, a continuidade do auxílio emergencial, o fim das demissões e um aumento dos salários que acompanhe a alta do custo de vida, o fechamento do comércio às 19h, o fim dos contratos precários e que os trabalhadores da saúde tenham descanso compensatório, entre outras medidas.

3) Devemos nos organizar a partir dos sindicatos, federações estudantis, organizações sociais e assembleias territoriais para levantar uma pauta nacional de demandas que enfrentem a difícil situação que vivemos. Devemos exigi-las mobilizados nas ruas, fazendo valer nosso esforço e sacrifício na derrota do pinochetista Kast.

 

Precisamos construir uma organização da classe trabalhadora, da juventude, das mulheres e do povo

 

Para poder organizar essa tarefa, para solidarizarmo-nos com todas as lutas e democratizar as organizações sindicais e sociais pela base, devemos unir as e os lutadores sociais em uma mesma organização. Para mudar o país em prol do povo e da classe trabalhadora e acabar com o domínio dos empresários e das multinacionais, devemos nos unir. Para que seja a classe trabalhadora e o povo que governem o Chile e o mundo, devemos nos unir. Para isso, e para ajudar nesse esforço urgente, é que te convidamos a ingressar nas fileiras do Movimento Socialista das e dos Trabalhadores (MST), um movimento em construção.

 

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *