Lula busca reaproximação com os banqueiros

 

Diego Vitello, Coordenação da CST

Em meio às manifestações dos últimos meses, os debates sobre as eleições de 2022 ganham, a cada dia, mais espaço na política nacional, com os partidos da ordem querendo esvaziar as ruas e canalizar tudo para as instituições do regime político. Nos locais de trabalho, os debates sobre a queda do nível de vida, inflação e arrocho salarial, misturam-se com o tema eleitoral.

 

O ex-presidente Lula aparece como primeiro colocado nas pesquisas para as eleições de 2022. Frente ao desastre do bolsonarismo, muitos trabalhadores e jovens veem a eleição do ex-presidente como a única forma de derrotarmos a extrema-direita e revertermos, ao menos em parte, a atual crise do país. De nossa parte, mesmo discordando dessa visão, gostaríamos de dialogar com esses setores. Acreditamos que não é possível aguentar Bolsonaro até as eleições de 2022 e exigimos que Lula, o PT, a CUT e a UNE construam uma jornada com paralisações nos locais de trabalho. Porém, a política do comandante do PT é apostar todas as fichas nas eleições do ano que vem. Por isso, os debates programáticos com Lula são importantes e remontam, sobretudo, ao período dos governos petistas. Nesse texto, queremos trazer alguns dados dos últimos anos e debater sobre as atuais movimentações de Lula em relação ao setor financeiro dos grandes capitalistas.

 

Do PT a Bolsonaro, como foram os lucros dos banqueiros?

 

Nessa fase da luta política no país, onde é inegável que a miséria e o desemprego aumentaram muito nos últimos dois anos, os bancos seguem lucrando enormemente. A dívida pública levou, somente em 2020, 1,381 trilhões do orçamento federal, praticamente 40% do total (auditoriacidada.org.br).  A volumosa soma de dinheiro da dívida vai, fundamentalmente, para os cofres dos banqueiros, aumentando brutalmente a desigualdade social no Brasil.

Porém, a farra dos lucros dos banqueiros não é exclusividade do governo Bolsonaro. Durante os governos petistas vivemos também uma época de imensos lucros para os bancos. Assim relata a revista Veja, em 2014: “Os bancos lucraram 279,9 bilhões de reais durante todo o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra 34,4 bilhões de reais durante mandato de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso” (veja.abril.com.br). Durante o governo Dilma, essa dinâmica seguiu, como informa o site Infomoney: “os bancos lucraram R$ 513 bilhões nos doze anos da administração petista. Por comparação, os bancos lucraram R$ 31 bilhões nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil, pelo PSDB.” (www.infomoney.com.br). O PT no governo passou a ser um defensor do pagamento religioso da dívida externa e interna aos banqueiros.

 

O projeto de Lula para 2022

 

Apesar de Lula ser a principal figura política de oposição a Bolsonaro, seu projeto de um governo de conciliação de classes segue. Isso se expressa, hoje em dia, nos estados que são comandados pelo PT no Nordeste, onde a dívida pública com a União segue sendo um gargalo fundamental que drena os recursos e aprofunda a crise nessa região do país.

Lula poderia aproveitar seu prestígio para romper definitivamente com a submissão do país aos interesses dos banqueiros, porém, pelas suas atuais movimentações políticas, já mostra que não o fará. Sua política é de se reaproximar dos grandes banqueiros e empresários. Obviamente que desde que o PT saiu do governo, com o apoio dos banqueiros ao impeachment, a relação do partido e de Lula com esse setor dos capitalistas não é mais a mesma. Porém, a direção petista dá sinais cotidianos de que busca a reaproximação com os grandes capitalistas e por isso defende uma frente ampla com os patrões e não cogita colocar em seu programa o não pagamento da dívida, proposta que a CUT e o PT defendiam nos anos 80. Por isso, temos visto na imprensa quadros do PT como Quaquá, presidente do partido no Rio de Janeiro, declarar que a bilionária Luiza Trajano seria um ótimo nome para ser vice de Lula. A comandante da Magazine Luiza é, por exemplo, defensora da privatização dos Correios. Fica evidente o conflito de interesses da classe trabalhadora com essa senhora tão elogiada por alguns dirigentes do PT.

De nossa parte, seguimos defendendo que para haver mudanças profundas no país, temos que romper com a política de privilégio aos banqueiros, suspendendo o pagamento da dívida pública e taxando as grandes fortunas, medidas que infelizmente estão longe do projeto petista para 2022. Ao invés de frente com os patrões e aproximação com os banqueiros, nós defendemos uma Frente de Esquerda com PSOL, UP, PCB e PSTU. Nos debates do 7° congresso do PSOL estamos com a pré-candidatura do deputado Glauber Braga.

 

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Sobre a “captação de recursos” do MST no mercado financeiro

 

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra é conhecido pela sua luta pela Reforma Agrária. Desde a subida de Lula ao Planalto, o MST diminuiu bastante o ritmo das ocupações de terra que fazia nos anos 90. Porém, nos surpreendeu a notícia, confirmada pelo próprio MST, de que o movimento estaria operando no Mercado de Capitais na Bolsa de Valores. De acordo com o site G1: “A partir dessa terça-feira (27), pequenos e grandes investidores vão poder financiar a produção de alimentos… do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). É a primeira vez que o MST faz uma oferta pública no mercado de capitais, aberta a qualquer tipo de investidor…” (g1.globo.com)

Essa política do MST é equivocada. Altos investidores exigirão uma contrapartida do movimento no que tange à luta pela Reforma Agrária. Nenhum burguês que investe em um movimento como o MST o faz sem esperar retornos financeiros que se desdobrarão em retornos políticos também.  Acreditamos que é necessário que o Movimento reveja sua posição e aposte na luta direta, com protestos e ocupações de terra, rompa com os capitais das bolsas de valores e retorne à luta pelo não pagamento da dívida, tal qual o MST defendia nos anos 1990. Esse é o melhor caminho para uma verdadeira Reforma Agrária no país.

 

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