Derrotar os cortes e defender a universidade pública
Por: Isadora Bueno – História UFU e Cindy Ishida – Geografia UFMG
As Universidades públicas respondem por mais de 95% da produção científica do
Brasil. Frente à pandemia do coronavírus, tem ficado evidente o quão necessário é o setor
para o conjunto da população. As instituições fabricaram testes da COVID-19, inventaram
respiradores mais baratos, forneceram álcool em gel ao SUS e são responsáveis pelos
hospitais que são referência nacional no tratamento da doença. As vacinas brasileiras mais
avançadas em estudo: Butanvac, produzida pelo Instituto Butantan, e da Versamune, da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, foram
integralmente desenvolvidas por instituições públicas. Além delas, a UFMG também
desenvolve vacina e, após paralisar os testes por falta de verbas para a continuidade do
estudo, retoma a testagem com recursos oriundos da prefeitura de Belo Horizonte.
Na contramão da importância dessas instituições para a população, a área tem sido, a
cada ano que passa, cada vez mais desvalorizada pelo Governo Bolsonaro. O governo,
além de atacar os profissionais da educação e estudantes, ideologicamente com frequência,
também opera cortes de verbas brutais que podem inviabilizar o funcionamento de algumas
unidades. Em 2021, iniciamos o ano com cortes de 27% nas verbas já diminuídas do
repasse do Governo Federal. As áreas mais afetadas foram as de Assistência Estudantil.
Em um ano em que enfrentamos a pandemia da COVID-19 e o Ensino Remoto, isso tem
pressionado à evasão de muitos estudantes. Apesar de não haver transparência nos dados
a respeito dos trancamentos e abandono dos cursos por parte dos estudantes, temos
verificado, nos locais onde estamos em CAs e DAs, que muitos têm desistido de seguir os
estudos e a última pesquisa do Datafolha coloca o dado de 16% de evasão dos estudantes.
Isso se dá pela pressão objetiva de garantir o sustento em um momento em que vários
estão com pais e mães desempregados e mesmo a juventude amarga o desemprego e
acaba por ocupar postos de trabalho precários ou informais, bem como pela falta da
garantia de recursos para o acompanhamento do Ensino Remoto. Por vezes, áreas rurais e
periferias nas quais os estudantes moram têm um péssimo sinal de internet e nem todas as
universidades garantiram acesso a computadores ou celulares para o acompanhamento
das aulas. Além disso, mesmo onde existiram editais, sabemos que a assistência foi
insuficiente. Estivemos na linha de frente contra o Ensino Remoto, pois ele geraria exclusão
e de fato é isso que se verifica após quase um ano da adoção dessa modalidade de
“ensino”. Não à toa, a nova presidente da CAPES, Claudia Queda de Toledo, é especialista
em educação à distância. As prioridades do Ministério da Educação, de todo o governo
Bolsonaro e das reitorias que são subservientes a ele vão na contramão de nossas
necessidades e do papel que deveria cumprir a educação pública, buscando fomentar a
falácia da “nova normalidade” que só interessa aos capitalistas; precarizando nossa
formação e nos expulsando – enquanto filhos da classe trabalhadora – das universidades.
A Assistência Estudantil, conquistada há décadas através das lutas do movimento
estudantil que possibilitaria a permanência da juventude pobre, é o primeiro alvo dos
governos, sendo atacada a cada novo ajuste na educação. Os ataques foram, como
sabemos, aprofundados durante o governo Bolsonaro, que agora se aproveita da pandemia
para cortar 18% da AE, corroborando com esse desmonte da universidade e os altos
índices de evasão vivenciados. Infelizmente, muitas vezes as bolsas de pesquisa, ensino e
extensão – na insuficiência de bolsas de assistência – cumprem o papel de facilitadores da
permanência estudantil. Nos cursos de graduação de licenciatura, essencialmente formados
por jovens de baixa renda, as bolsas de PIBID e Residência Pedagógica possibilitam a formatura de licenciandos. Tendo isso em vista, o corte de bolsas previsto nas novas
diretrizes da CAPES, além de promover ainda mais precarização com trabalho voluntário,
vai – junto ao ensino remoto com sua “inclusão digital” falaciosa, os ataques progressivos à
Assistência Estudantil e o adoecimento mental pelo genocídio em curso no nosso país –
causar ainda mais evasão.
É preciso lutar pela nossa permanência e pela valorização das universidades públicas,
linha de frente de combate ao coronavírus. Urge que a UNE convoque e de fato construa
uma jornada de lutas contra os cortes na educação e por Assistência Estudantil!