O que fazer? Um diálogo com ativistas da CUT e do PT

 

 Denis Melo e Rosi Messias, Coordenação da CST

No último período, cresceram em um amplo setor dos trabalhadores e jovens que estão na oposição as expectativas sobre um novo governo petista, em contraponto aos governos de Temer e Bolsonaro. Esse sentimento de que um governo do PT tornaria a vida da classe trabalhadora melhor aumentou com a retomada dos direitos políticos de Lula e suas declarações contra alguns aspectos da política econômica e sanitária de Bolsonaro.

Dedicamos essa reflexão sobre qual caminho devemos traçar aos milhares de dirigentes sindicais de base da CUT, a maior central sindical do país, e a outros milhões de filiados ou simpatizantes do PT, que viveram de perto as contradições dos governos de Lula e Dilma. Apesar de respeitar essa expectativa, nós não compartilhamos dessa perspectiva acerca de um novo governo do PT.

Os governos com a burguesia não servem aos trabalhadores

Os governos do PT mantiveram a mesma base econômica dos tucanos: responsabilidade fiscal (leia-se corte de serviços e direitos aos trabalhadores); metas de inflação (arrocho salarial); e câmbio flutuante (aumento da taxa de juros de acordo com o interesse do mercado financeiro). É um fato que especialmente Lula governou durante um período em que a economia mundial lhe permitia uma margem para pequeníssimas concessões, enquanto governava para o sistema financeiro, o agronegócio e o grande empresariado. Assim, ampliou-se a política assistencial, via Bolsa Família e outros programas, como Luz Para Todos e Minha Casa Minha Vida, além de promover uma facilitação ao crédito para micro e pequenos negócios, o que permitiu o acesso a bens de consumo, como carros, motos e eletrodomésticos. Igualmente, o PT na presidência governou para as multinacionais e banqueiros, privatizando a previdência dos servidores federais, legalizando transgênicos e garantindo o pagamento da dívida interna e externa.

Hoje, a crise econômica mundial é muito profunda e seria impossível repetir aquele limitadíssimo governo de Lula, com pequenas concessões aos trabalhadores. Não por acaso, o que tivemos no governo Dilma foi um brutal ajuste fiscal, com Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. Mais do que nunca, ou se governa atacando direitos da classe trabalhadora, ou enfrentando os interesses da burguesia. Por outro lado, é bom reafirmar que esses programas não foram exclusividade do PT. O Banco Mundial orientava sua aplicação para toda a América Latina e muitos desses programas foram mantidos por Temer. Durante a pandemia, o auxílio emergencial superou em muito o Bolsa Família.

 Os “terraplanistas” econômicos e políticos

O termo “terraplanista” se popularizou para ridicularizar uma parte da base bolsonarista que crê que a terra seja plana, mesmo diante de enormes evidências científicas e empíricas que provam o contrário.

Porém, também podemos identificar outros “terraplanistas” em outros terrenos. Uma das teses mais difundidas na imprensa e por todos os governos é que o mercado se autorregula e que o liberalismo econômico é capaz de produzir uma sociedade justa e com menos pobreza.

Também no universo político há a ideia de que, em uma sociedade dividida entre patrões e trabalhadores, é possível conciliar os interesses de ambos e governar para todos.

Ao redor do mundo, há inúmeras experiências que nos permitem dizer que essas teses econômicas e políticas são tão ridículas quanto afirmar que a terra é plana. Porém, discursando à esquerda, Lula e a cúpula petista repetem reiteradamente essa estratégia. Não é possível aceitá-las.

Aprender com os erros para não repeti-los

Diante dos profundos ataques do governo Bolsonaro e de sua sana extremista, muitos honestos ativistas acreditam que, para derrotar a extrema direita, devemos nos aliar com setores burgueses. Não podemos nos enganar com o discurso de que é possível mudar nossa vida nos aliando aos setores burgueses e partidos patronais ou com aqueles que governam atacando direitos da classe trabalhadora, das mulheres e do povo. Esse discurso de conciliação de classes, defendido por Lula, PT, PDT, PSB e PCdoB, fracassou. Essas mesmas direções, diante da maior crise do governo Bolsonaro, se negam a chamar e construir calendários unificados de lutas para exigir vacina para todos, um lockdown de verdade, auxílio emergencial decente e lutar por recuperar as perdas salariais.

Defendemos a construção de uma frente de esquerda e socialista

Diante de governos da extrema direita e em meio à crise capitalista, é fundamental afirmarmos uma oposição radical e combativa contra a extrema direita e a direita, contra o governo Bolsonaro e os governadores, sem pactos e sem conchavos com a burguesia e seus representantes. Pois em toda experiência de governos em comum com a burguesia, quem governa é a burguesia, aplicando duros ajustes econômicos contra a nossa classe.

Defendemos a construção de uma frente de esquerda e socialista, com partidos de esquerda e todos os que discordem da frente ampla, dos governos comuns com a burguesia. Uma frente de esquerda com PSOL, PCB, PSTU, UP e milhões de ativistas que concordam que devemos construir a luta contra o governo Bolsonaro e os governadores, forjando uma alternativa nas ruas e no terreno eleitoral, contra a extrema direita, a direita e contra a política de conciliação de classes. Uma frente que lute pela quebra das patentes das vacinas contra a Covid-19, para a vacinação de todos; que lute por auxílio emergencial e recomponha as perdas salariais dos últimos anos; que defenda um programa de ruptura com a ordem capitalista, começando por romper com a dívida externa e interna, para com esses recursos garantir uma vida mais justa ao povo trabalhador.

(publicado originalmente no jornal Combate Socialista n°126)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *