Greve dos Correios: Fim da greve não pode encerrar a luta na categoria
Por Adriano Dias, Oposição Correios – RJ
Publicado originalmente no Jornal Combate Socialista Digital nº 9
A greve dos trabalhadores dos Correios mostrou a força e a disposição da categoria para lutar contra o governo Bolsonaro e a sua política de retirada de direitos e privatização. Uma greve que enfrentou, além do governo, a justiça que por dois momentos atacou o acordo coletivo tudo para beneficiar a política bolsonarista contra a classe trabalhadora. Infelizmente a greve também mostrou o papel dos pelegos no movimento sindical, pois foram cúmplices de Bolsonaro e do general Floriano na retirada de 49 clausulas de nosso acordo coletivo, já que os dois maiores sindicatos do país (RJ e SP) filiados a CTB, boicotaram a greve.
Um ataque para avançar na privatização
O que ocorreu com os ecetistas é reflexo da política global do governo Bolsonaro e do presidente da empresa General Floriano para avançar na privatização. O desmonte do acordo coletivo é parte desse projeto, por isso partiram para o ataque sobre os nossos direitos. Para eles é necessário reduzir os custos da mão de obra para facilitar a venda da empresa. Também simboliza como o governo trata os direitos da classe trabalhadora tudo para beneficiar os privilegiados de sempre como o próprio presidente dos correios que ganha mais de R$ 46.000 e manteve o seu salário intacto, enquanto os demais trabalhadores da empresa amargaram perdas nos benefícios.
A justiça ao lado do governo
A justiça mais uma vez atuou ao lado do governo. Já tinha sido assim quando o STF mudou a vigência do ACT e agora a decisão do TST só confirma essa afirmativa. A retirada de 49 cláusulas do acordo causa um impacto social e econômico brutal nos direitos da categoria. A retirada de tickets, gratificações, auxílios e adicionais, a redução no percentual pago no adicional noturno e na hora extra e a redução do tempo da licença maternidade e do período da amamentação é de uma brutalidade inaceitável considerando que é uma categoria que segue trabalhando no meio da pandemia, o que já ocasionou a morte de mais de 120 trabalhadores, e possui o menor salário entre as estatais. O reajuste de 2,6% concedido tentou minimizar o resultado que na somatória final é de perda.
O que aconteceu foi que uma casta de juízes privilegiados decidiu a vida de 100 mil trabalhadores. Por isso que desde o inicio colocamos que não deveríamos confiar na justiça pelo seu histórico contra a categoria e por em muitas pautas, em especial a trabalhista, estarem totalmente alinhados ao governo. É importante lembrar que o relator do acórdão final é Ives Gandra Martins um bolsonarista de carteirinha que está sendo cotado para assumir uma cadeira no STF.
A categoria mostrou muita disposição
Foram 36 dias de greve onde a categoria ecetista mostrou a sua força enfrentando o governo, a justiça e até o isolamento, por conta de bancários e petroleiros não terem entrado em greve. A dupla General Floriano/Bolsonaro tentou a todo momento reduzir a força da greve aplicando descontos ilegais e fazendo ameaças. A categoria não se intimidou e fortaleceu mais a greve com piquetes, atos e ocupações. A caravana à Brasília demonstrou que apesar de mais de 1 mês de greve os trabalhadores continuavam firmes e protagonizaram um ato espetacular que ficou de exemplo para outras categorias que também estão sendo atacados pelo governo. A força da base mostrou que o resultado da greve não pode ser depositado na costa desses bravos guerreiros e que o caminho da luta é o que deve ser seguido contra esse governo autoritário e ladrão de direitos.
O papel pelego da FINDECT/CTB
Apesar da forte disposição da base e da brutalidade do ataque a política da FINDECT (PCdoB-CTB) que dirige os maiores sindicatos (Rio de Janeiro e São Paulo) foi de desmontar o movimento grevista. Primeiro chamando a apostar no STF, depois sumindo dos locais de trabalho e negando a unidade para construir o calendário da greve. No Rio de Janeiro o SINTECT-RJ chegou a orientar os grevistas a não participarem de atividades de greve nas bases da oposição. Um verdadeiro peleguismo que apostava no enfraquecimento do movimento paredista. Além de nunca colocarem sindicatos importantes como o da Sintsama (Sindicato dos trabalhadores da Cedae) ou comerciários do Rio a serviço da unidade e solidariedade nessa luta. O ápice da traição foi o boicote a caravana Brasília uma atividade nacional unitária do movimento é que foi atacada por essa federação, o que mostrou toda a sua subserviência ao governo. Não temos dúvida que essa postura significou uma traição no momento em que era necessário fortalecer a greve. Esse papel pelego já começou a ser cobrado pela categoria (vide os resultados das assembleias virtuais de RJ e SP onde a suspensão da greve passou por poucos votos de diferença). Não podemos aceitar uma direção que trai a categoria no momento que ela mais precisa. É hora dos trabalhadores que ainda acreditam no PCdoB, refletirem e romperem com esses dirigentes. O fato é que o PCdoB e a cúpula da CTB são organizadores da derrota econômica.
Ao mesmo tempo em que denunciamos a falta de unidade no movimento sindical, ocasionado pela traição da FINDECT, não eximimos de críticas a ausência das principais centrais sindicais do país (CUT, CTB e Força Sindical) na greve. A cúpula da CUT, articulação sindical, que lidera a maior central do país e comanda majoritariamente a FENTECT não realizaram uma ação de apoio nacional que cercasse de solidariedade a greve, através da mobilização de sua ampla base sindical e da construção de um novo dia nacional de luta aproveitando a greve dos correios, que no momento era o principal fato da luta de classes no país e que enfrentava nas ruas o governo Bolsonaro. Uma proposta que foi feita por nossa central a CSP-CONLUTAS. O fato é que a cúpula da maior central do país, da CUT, isolou o movimento e impediu a unidade com bancários e petroleiros falhando no teste de fogo da luta nacional contra a extrema direita.
A necessidade de um polo alternativo
Diante da traição protagonizada pela cúpula da CTB, é importante construir um polo alternativo de direção para o movimento ecetista. Vimos também que apesar dos discursos a Articulação sindical isolou o movimento ao não batalhar pela unidade entre bancários e petroleiros. Por isso precisamos construir um polo alternativo que agrupe os sindicatos da CSP-CONLUTAS, os companheiros da INTERSINDICAL, setores da CUT como o MRL e LPS. Um polo que construa outra atuação no movimento sindical garantindo a democracia operária, contra a burocratização e que tenha como política central a mobilização da categoria, mantendo a sua independência frente aos governos. Um polo que continue a luta contra a privatização da empresa.
No RJ, ativistas da CSP-CONLUTAS e do MRL (CUT) fizeram incansavelmente atividades da greve mesmo sem contar com a direção do sindicato e devem seguir construindo uma forte oposição.
Por um plano de lutas contra a privatização
A categoria mostrou muita disposição e Bolsonaro/Floriano não irão recuar dos ataques avançando na política de privatização dos correios. Diante desse quadro é fundamental não baixarmos a cabeça e seguirmos lutando para evitar o avanço dos ataques. É necessário que as federações construam um plano de lutas para resgatar as perdas e barrar a privatização somando-se aos servidores públicos na batalha contra a Reforma administrativa. Mesmo com o resultado adverso a greve mostrou que existe disposição da classe para lutar contra o governo.