Bolívia: Necessitamos de uma alternativa política revolucionária
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Jaime Solares, Secretário Executivo da COD (Central Operária Departamental) de Oruro e Carlos Rojas, dirigente de bairro de El Alto e ex dirigente da FEJUVE (Federação de Conselhos de Bairros) participaram do Seminário de sindicalismo classista realizado em São Paulo, nos dias 1 e 2 de julho. Eles contaram ao público do seminário a amplitude e profundidade da luta operária e popular na Bolívia, com a rebelião de dezembro de 2010, que obrigou o governo de Evo Morales a anular o gasolinazo e a greve geral de 10 dias em abril por aumento salarial que unificou grandes setores da classe trabalhadora.
Solares e Rojas foram entrevistados ao concluir o seminário. Reproduzimos aqui algumas de suas declarações.
Jaime Solares
O governo de Evo Morales é mentiroso e trapaceiro. Está acostumado a mentira para confundir o povo. Desde o início Evo Morales coopta os sindicatos com dinheiro, com mobilidades, com sedes sociais, campos de futebol, computadores. Então ele tem em suas mãos muitos sindicatos.
Como acontece no Brasil, como acontece na Venezuela, fala-se em nome do socialismo e dos trabalhadores, porém no fundo não há nada de socialismo, é neoliberalismo. O salário mínimo é de 110 dólares. Por dia são pouco mais de 3 dólares para os trabalhadores, enquanto se beneficia as multinacionais.
Na Bolívia pode ocorrer outra revolução, uma insurreição popular como a de 2003, onde se expulsou Goni por vender o país. Agora o povo busca alternativa para substituir Evo Morales. Não há uma alternativa política. Das 61 organizações sindicais que tem a COB, mas da metade está cooptada pelo governo. Porém há organizações sindicais revolucionárias, organizações de bairro revolucionárias em El Alto e o governo começa a temer essa situação.
Podemos ver que necessitamos de uma alternativa política revolucionária, que hoje estamos começando a construir com a ajuda de companheiros como Carlos Rojas, uma alternativa política que substitua Evo Morales, mas desta vez fazendo a nacionalização dos hidrocarbonetos e mineração para que esteja a serviço do interesse nacional. É uma luta difícil, mas não impossível. Queremos construir um partido, para dizer a América Latina que a Bolívia vai ser o centro da luta pelo socialismo.
O seminário internacional foi muito importante. É necessário fazer mais deste tipo de seminário. Os ricos do mundo se reúnem. Eles decidem as guerras, o preço do petróleo. Os trabalhadores estamos obrigados a reunirmos internacionalmente para acabar com o capitalismo. Sabemos que a única solução que pode salvar a humanidade é o socialismo científico dos trabalhadores, é que os trabalhadores manejem o produto bruto mundial, que se acabe a fome de 1,1 bilhão de pessoas e a miséria.
Isso não significa falar de ditaduras, temos que falar de democracia revolucionária, dirigida pelo proletariado, a classe trabalhadora, não só estou falando de operários, mas também os intelectuais. Para isso necessitamos construir um instrumento revolucionário dos trabalhadores, para lutar por governos operários e camponeses, com intelectuais, para governar o planeta. Esperançosamente, espero que um dia os trabalhadores norte-americanos possam nos permitir fazer um congresso grande internacional em Washington, para discutir o destino do planeta, para fornecer soluções da classe trabalhadora.
Carlos Rojas
Para nós foi muito importante o seminário. Encontramos uma semelhança de ações demagógicas de Lula, Chávez e Evo Morales. Atuam de forma conjunta com os mesmos truques para enganar o povo. Em vez de defender as necessidades da população, estão defendendo os três governos os interesses das multinacionais.
Estamos vendo que não há nenhum socialismo do século XXI. Isto é o que denunciaram os companheiros da Venezuela e do Brasil. Em nome de um suposto socialismo, defendem as multinacionais e deixam a fome e a miséria se espalhar. Eles demonstraram sua verdadeira face, são pró-imperialistas e pró-burgueses.
Devemos fazer uma luta conjunta internacional, primeiro para acabar com estes governos, segundo para acabar com o sistema capitalista e todos seus modelos. Por isso necessitamos em cada um desses países de uma ferramenta política, porque já não podemos estar no cenário de uma luta espontânea e sem organização, necessitamos de uma ferramenta política, um programa revolucionário, para assim capturar o poder e construir uma sociedade socialista. Não somente em um país, mas sim em toda a América Latina. Assim seremos fortes e resistirá esse socialismo.