A batalha por uma nova direção para o movimento estudantil segue atual
Laís Sathler – Integrante do DAPSI-UFF
Caio Sepúlveda – Coordenação Nacional da Juventude Vamos à Luta.
Mesmo com a pandemia, a política de precarização e corte de verbas da educação se aprofunda. Entra e sai ministro na Educação, mas o projeto do governo Bolsonaro segue o mesmo: destruir e privatizar as universidades públicas federais. Nesse contexto, faz falta uma direção para o movimento estudantil, consequente com a luta em defesa da educação e dos nossos direitos. A maioria da direção da União Nacional do Estudantes (UJS/PCdoB, Juventudes do PT, LPJ, PDT) impede que a entidade cumpra esse papel. Um exemplo disso foi a UNE não ter convocado os estudantes aos atos de rua antirracistas e antifascistas, construídos pelo movimento negro e torcidas organizadas. A atuação da entidade na pandemia tem como único eixo as atividades e mobilizações virtuais, que cumprem um papel importante porém insuficiente.
Na batalha contra a aplicação do Ensino Remoto/EAD, a direção da UNE fez pior: em várias universidades aceitou, junto às reitorias, a proposta do governo de ensino remoto on-line. Justificam essa política traidora dizendo que batalham por garantias de acesso para os estudantes, como se fosse possível negociar pacificamente com um governo que quer destruir as universidades, que em 2019 quase entraram em colapso por falta de dinheiro. É óbvio que, se depender de Bolsonaro, essas garantias serão as mais insuficientes. O que vem sendo aprovado país afora é a imposição do Ensino Remoto/EAD sem uma linha sobre assistência estudantil. Parecem ter esquecido que o ex-ministro da Educação se negava sequer a conversar com representantes da UNE.
Por isso, para enfrentar de fato Bolsonaro e o MEC, a UNE deveria organizar um plano de lutas em defesa da educação, contra os cortes de verbas, por financiamento público às pesquisas sobre coronavírus, contra o Ensino Remoto/EAD e o Future-se.
Para isso, deveria estar construindo jornadas de lutas estudantis, organizando, pela base, com as UEEs, DCEs, CAs/DAs e convocando um CONEG extraordinário para construir um plano de mobilizações. Ao invés disso, a direção majoritária prefere participar de um ato virtual com figuras como Temer, FHC, Sarney e até o ex-ministro de Bolsonaro, o General Santos Cruz, o que passa longe da necessidade de organizar a luta concreta contra o ajuste fiscal e o autoritarismo do governo.
Qual o papel da Oposição de Esquerda da UNE?
Com a paralisia da direção majoritária da principal entidade estudantil do país, é fundamental a unidade do campo da Oposição de Esquerda, que nós da juventude Vamos à Luta compomos junto a outros coletivos como o Correnteza (UP), RUA (Insurgência e Subverta), Juntos (MES), Afronte (Resistência) e UJC (PCB). Esse campo deve ser uma alternativa de direção para o movimento estudantil, propondo a construção de lutas unificadas e rompendo com a política de conciliação da majoritária, como fizemos durante o Tsunami da Educação, quando derrotamos a proposta da majoritária e das reitorias de “atos parados”.
Nós, da juventude Vamos à Luta, defendemos que é fundamental um plano programático e para ação encampado pela Oposição de Esquerda. Não podemos deixar que a pandemia seja utilizada como pretexto para o governo avançar em seu projeto de precarização.
É necessário defender, nesse momento, que se discuta nas universidades planos de assistência estudantil extraordinários, para que os estudantes possam sobreviver à brutal situação econômica que atravessamos, com a criação de bolsas emergenciais e distribuição de cestas básicas. Nossa batalha deve ser para que funcione somente o que seja serviço essencial no controle à doença, como os HUs, e que esses serviços funcionem com garantias de EPIs e condições de trabalho. A prioridade deve ser a vida, nossa batalha é por quarentena geral já, com renda e sem fome!
Infelizmente, muitas reitorias estão cedendo às pressões do governo pela aplicação do Ensino Remoto/EAD. Bolsonaro faz uma chantagem: ou as instituições de ensino aderem ao modelo ou terão cortes de verba. Não podemos cair nessa armadilha. Precisamos batalhar por mais verbas para educação. Afinal, existe dinheiro no país. A fatura dessa crise precisa ser paga pelos banqueiros e grandes empresários. Nesse sentido, é fundamental enfrentar com luta e mobilização o projeto do governo Bolsonaro, exigindo a suspensão do pagamento da dívida pública e uma dura taxação sobre as grandes fortunas. Em maio, a dívida pública chegou a R$ 5,929 trilhões, 81,9% do PIB. Uma dívida ilegal e ilegítima, que enriquece os banqueiros e os parasitas do mercado financeiro. Suspendendo o pagamento dessa dívida, é possível ter dinheiro para fortalecer as pesquisas científicas, manter as universidades e garantir um plano de assistência estudantil para atravessar a pandemia.
Nesse sentido, nós do Vamos à Luta consideramos fundamental também que companheiros do Correnteza, RUA e Juntos assumam uma posição contundente contra a aplicação do Ensino Remoto/EAD nas universidades públicas, para que possamos nos unificar em uma campanha nacional com base nos desafios concretos dos estudantes para o momento.
(Originalmente publicado no jornal Combate Socialista, n° 4, digital)