Intervenções do Izquierda Socialista/UIT-QI na homenagem da FIT-U para Leon Trotsky
Abertura de Mercedes Petit, dirigente do Izquierda Socialista e da UIT-QI
Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=NOobAg9KTj8
Olá companheiros e companheiras. É um prazer para mim participar desta homenagem a Leon Trotsky em nome do Izquierda Socialista e da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI).
Todos aqui coincidimos em que Trotsky foi o continuador de Marx, de Lênin, da Revolução Socialista de 1917 na Rússia, dos quatro primeiros congressos da Terceira Internacional e também coincidimos na atualidade do seu enorme legado.
Em 1921/22, Lênin batalhava junto a Trotsky contra a incipiente burocracia no estado operário revolucionário. Sua doença e morte deixou essa luta para Trotsky. A União Soviética havia ficado isolada, as massas estavam se recuperando lentamente dos sofrimentos da guerra civil e essa batalha desgraçadamente foi ganha pela burocracia. Perderam, ou perdemos, os revolucionários. Stalin prometeu a utopia reacionário do socialismo em um só país, esmagou o internacionalismo e a democracia operária e impulsionou a unidade com a burguesia e a coexistência com o imperialismo.
Perseguido e caluniado, Trotsky soube definir corretamente a União Soviética como um estado operário burocratizado, degenerado. Chamou uma revolução política para tirar Stalin e os burocratas do partido e dos sovietes para reestabelecer a continuidade revolucionária. E alertou que, se o domínio burocrático continuasse, o capitalismo voltaria.
Combateu as concepções reformistas da Segunda e Terceira Internacional, da revolução por etapas, das frentes populares e nos legou sua teoria-programa da revolução permanente e internacional. Em 1938, exilado e perseguido pelo estalinismo, fundou a Quarta Internacional.
Aqui, não apenas Izquierda Socialista, mas toda a FIT-U, reivindicamos a vigência atual do Programa de Transição, o programa fundacional. Há partes que parecem escritas hoje. Cito quase textualmente: as forças produtivas pararam de crescer, as melhorias técnicas não melhoram o nível de vida das massas, o desemprego e a miséria crescem, a alternativa é socialismo ou catástrofe. E dá um diagnóstico central sobre o mundo: a crise histórica da humanidade é a crise de sua direção revolucionária.
Na FIT-U, todos reivindicamos a atualidade das tarefas centrais que foram formuladas e resumo em quatro pontos:
- Impulsionar a mobilização dos trabalhadores e das massas contra o capitalismo imperialista e contra toda forma de exploração e opressão;
- A luta pela tomada do poder político, a conquista de governos operários revolucionários, operários e populares, apoiados nos sovietes;
- A construção dos partidos revolucionários para dirigir essas lutas, varrendo definitivamente a influência das direções burguesas e operárias burocráticas nas massas;
- Postular a Quarta Internacional e seus partidos como direção para levar à vitória da revolução socialista em cada país e em todo o mundo.
Este legado de Trotsky é o que nos convoca hoje, repudiando o seu assassinato pelo agente de Stalin.
O crime deixou a Quarta Internacional sem direção em agosto de 1940.
Logo, nosso mestre Nahuel Moreno percebeu que a experiência e capacidade de Trotsky eram insubstituíveis. Percebeu a extrema debilidade na direção da Quarta Internacional, que havia ficado com um vazio de direção e que começava a cair no revisionismo oportunista.
O colossal triunfo de maio de 1945, quando o nazismo foi derrotado e terminou a segunda guerra mundial com a queda de Hitler, deu lugar a um grande ascenso das massas em todo o mundo. A nova direção de Pablo e Mandel começou a responder mal aos acontecimentos. Moreno afirmava que ocorreram fatos não previstos e muito ligados.
Primeiro, o fortalecimento dos partidos comunistas e do próprio Stalin. Isso ocorreu apesar de que em 1943 tenham dissolvido a Terceira Internacional, terem impedido a tomada do poder na França, na Itália e na Grécia, terem pactuado com o imperialismo inglês e ianque a repartição do mundo em esferas de influências, a reconstrução capitalista da Europa e se comprometido a não expropriar.
Esse fortalecimento se explica porque o Exército Vermelho foi o protagonista na vitória contra o nazismo. Tomaram Berlim apesar da péssima condução da guerra por Stalin. Foi o heroísmo do povo russo, que teve 20 milhões de mortos. Também foi importante o papel heroico cumprido pelos comunistas na resistência antinazista em toda a Europa ocupada.
O segundo fato não previsto é que se ampliou muitíssimo a crise de direção já colocada no Programa de Transição.
Nesse contexto, a extrema debilidade foi dando lugar à respostas revisionistas, oportunistas e inclusive métodos burocráticos, desleais, e distorções. Pablo e Mandel capitularam aos partidos comunistas-estalinistas e às direções nacionalistas burguesas em um caminho sem volta que levou à crise, divisão e dispersão da Quarta Internacional.
Vejamos o que há de novo em relação à situação de antes do assassinato de Trotsky. Antes da guerra, a direção estalinista da Terceira Internacional havia provocado grandes derrotas, na revolução operária na China nos anos 1925/27, diante do fascismo na Alemanha e Espanha. E, ao contrário disso, a novidade do resultado da guerra e do pós-guerra é que começaram a ocorrer vitórias, apesar das direções estalinistas e nacionalistas pequeno-burguesas e burguesas.
Após a vitória contra o nazismo se expropriou todo o leste europeu. Mas, mais importante ainda, foram vitoriosas as revoluções na Iugoslávia e na China onde se expropriou a burguesia. Depois em Cuba. Foram revoluções socialistas encabeçadas e dirigidas por burocracias estalinistas, e pela direção pequeno-burguesa nacionalista de Castro, que não queria esse caminho. Trotsky havia considerado isso, como uma “hipótese improvável”, no Programa de Transição. Pelo contrário, Pablo e Mandel embelezaram essas direções. Pisotearam no legado de Trotsky com uma capitulação sem princípios a Tito, Mao, Castro e aos partidos comunistas. Pablo e Mandel diziam que se essas direções dirigem revoluções vitoriosas, então são revolucionárias. Apoiaram esses governos da burocracia e governos burgueses nacionalistas como o de Ben Bella na Argelia desde 1962. Prometendo que os partidos comunistas voltariam a ser revolucionários, dissolveram o trotskismo europeu dentro dos PCs por 25 anos, e disso não sobrou nada. Abandonaram a construção dos partidos trotskistas. Na Bolívia, em 1952, como já foi mencionado, traíram a revolução operária apoiando o governo burguês de Paz Estenssoro, enquanto surgia a Central Operária Boliviana (COB), que era codirigida pelos trotskistas.
Mandel e a direção do SWP estadunidense capitularam ao castrismo, inclusive quando, em julho de 1979, Fidel disse que não havia que fazer da Nicarágua uma nova Cuba. E juntos também apoiaram o governo sandinista que governava com a burguesa Violeta Chamorro quando, em agosto, reprimiram os trotskistas da Brigada Simón Bolívar que combateram contra Somoza.
Mandel defendeu, contra Moreno, que não havia perigo de restauração capitalista com a burocracia nos países onde se havia expropriado a burguesia e apoiou com entusiasmo Gorbachov e sua perestroika restauracionista, enquanto a burocracia pactuava com Reagan.
Após o falecimento de Mandel, seus seguidores no Brasil seguiram definindo o PT como o partido revolucionário e apoiaram o governo de Lula. Inclusive cederam ao governo o importante ministro do desenvolvimento agrário. Na Venezuela, apoiaram o governo burguês de Chávez e o falso socialismo do século XXI, e Syriza na Grécia.
Esse curso revisionista e oportunista é o que provocou esta extrema debilidade, dispersão, crise e divisão do movimento trotskista. E tudo foi feito recitando o Programa de Transição, mas abandonando a construção dos partidos revolucionários trotskistas e liquidando a Quarta Internacional como direção alternativa, para além de sua existência formal.
O rechaço ao oportunismo também deu lugar para uma resposta sectária, que negou por décadas as revoluções socialistas que ocorreram com as expropriações, com Mao ou Fidel à cabeça.
Na FIT-U, não somente o Izquierda Socialista reivindica a longa trajetória de Moreno contra o revisionismo sem princípios e construindo partidos trotskistas. Mas não é o centro do debate hoje essas polêmicas de décadas. Praticamente tudo pode ser lido e estudado com os textos originais no site nahuelmoreno.org.
Hoje o que nos traz aqui é esta homenagem. Nós do Izquierda Socialista propomos que nos sirva para começar a dar passos concretos que apontem a difícil tarefa de reconstruir a Quarta Internacional, a difícil tarefa de construir partidos leninistas de combate com centralismo democrático e internacionalistas.
No mundo há lutas, rebeliões, revoluções: Líbano, Chile, Estados Unidos, Bielorrússia; trabalhadores e trabalhadoras, mulheres, jovens, se mobilizam. A crise capitalista se agudiza a cada dia, acendendo a rebelião das massas. O grande obstáculo hoje segue sendo as direções traidores como Lula e o PT, o chavismo, o peronismo, Podemos, Evo Morales e um longo etc.
A vigência do legado de Trotsky nos dá bases sólidas para intervir nessas lutas. Há trotskistas em uma infinidade de países, também há milhares de ativistas e lutadores, vanguardas juvenis, com os quais podemos lutar e avançar juntos, sem medo, com audácia e abertos para novas experiências.
Mas quero me referir, antes de apresentar nossa proposta, a algumas palavras do companheiro Bodart do MST, que usou a frase “unir os revolucionários”. Mas não nos enganemos, não se trata de audácia, ou de um partido grande ou pequeno, mãe, pai ou tutor. O problema é se temos ou não uma política correta. Os companheiros encabeçados por Bodart saíram da UIT-QI, dividiram a UIT-QI, para apoiar o chavismo. Não são novas experiências ou modelos, é o velho vício do oportunismo sem princípios, de apoiar governos burgueses, como o de Chávez, do duplo discurso, do falso socialismo do Século XXI, da boliburguesia e da entrega do petróleo às multinacionais estrangeiras.
Reiteramos a proposta que já fizemos na conferência latino-americana, de unir os revolucionários.
Primeiro, coordenar campanhas comuns. O companheiro Santos (PO) já citou a ação da próxima semana, de repúdio ao racismo e a Trump, o apoio ao povo palestino contra o estado genocida de Israel, contra as duas pandemias, contra a destruição ambiental.
Segundo, impulsionar, onde haja condições, experiências como a da FIT-U na Argentina.
Terceiro, dar passos concretos para uma coordenação nacional e internacional no caminho difícil, mas muito necessário, para a reconstrução da Quarta Internacional com base em um programa revolucionário.
O desafio não é fácil, mas se trata de colocar vontade para avançar nas tarefas de Trotsky, superar a crise de direção revolucionária para liderar o triunfo do socialismo no mundo. Esta será nossa melhor homenagem. Muito obrigado.
Intervenção de Guillermo Sánchez Porta, dirigente do Izquierda Socialista/UIT-QI
Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=R0krm3ZpKHM
Eu quero, nestes minutos, reivindicar brevemente a atualidade das teses da Revolução Permanente e o que nós morenistas temos chamado de revoluções abortadas.
Nós consideramos que, para além de algum erro de prognósticos, Trotsky acertou no essencial das teses da Revolução Permanente.
Porque é a teoria que se opõe à teoria estalinista do “socialismo em um só país”, da “revolução por etapas”, da “coexistência pacífica com o imperialismo”.
É a teoria da dinâmica da vitória da revolução socialista internacional.
Ou do retrocesso, com a contrarrevolução imperialista.
Entre a metade do século XX e início do XXI ocorreram muitas revoluções vitoriosas que ficaram na metade do caminho. Que não expropriaram a burguesia. Nos as chamamos de revoluções abortadas.
Foram revoluções freadas pela crise de direção revolucionária e pela direção burocrática soviética e chinesa, que impediu que grandes revoluções tivessem uma dinâmica de avanço permanente e fossem impulsionadoras da vitória da revolução mundial.
Por exemplo, na Bolívia de 1952; Argélia de 1962; Portugal em 1975; Irã em 1978; a revolução da Nicarágua de 1979, de El Salvador em 1980, entre outras.
No século XXI, ocorreram as enormes revoluções árabes do norte da África e do Oriente Médio, processo que ficou conhecido como a primavera árabe. Essas ficaram no terreno de uma revolução democrática, de derrubada de ditaduras, e se congelaram ou foram derrotadas pelas direções burguesas, pequeno-burguesas e operárias reformistas e burocráticas.
Então, reconhecer a existência dessas revoluções não é ser “etapista”, mas sim reconhecer que houve grandes revoluções, que pelo controle dos aparatos burocráticas e da crise da direção revolucionária, não avançaram em uma dinâmica da revolução permanente, interior e exterior, e sim foram freadas.
Negar essas revoluções, como defendem os companheiros do PTS, é abandonar a intervenção nessas revoluções e abandonar assim a luta contra as direções traidoras que buscam frear e abortar o triunfo da revolução socialista nesses países.
Nós morenistas defendemos a luta estratégica pelas duas premissas que corretamente colocam as teses da Revolução Permanente: o papel protagonista da classe trabalhadora nas revoluções e a construção de um partido marxista revolucionário. Para avançar para a vitória da revolução socialista nos países e a nível mundial.
Hoje segue e seguirá havendo revoluções apesar da crise de direção revolucionária. E se não se avança na superação dessa crise, o que avançará serão as derrotas para as conquistas democráticas e sociais.
Por isso é tão importante que todos os novos lutadores compreendam a importância estratégica de construir os partidos operários revolucionários e internacionalistas. De unir os revolucionários do mundo para que as revoluções triunfem e se avance na revolução socialista internacional.
Moreno e nossa corrente temos sempre defendido que a revolução de outubro segue vigente, e por isso é imprescindível a mobilização da classe trabalhadora e das massas e a construção do partido revolucionário que as dirija.
O morenismo jamais apoiou nenhum desses governos e nem capitulou às direções contrarrevolucionárias, abandonando a construção do partido bolchevique nesses países.
Pelo contrário, buscou construir partidos revolucionários impulsionando a mobilização e organização da classe trabalhadora. E com política para que essas revoluções avancem para o socialismo e a revolução socialista internacional. Isto não tem nada a ver com alguma teoria etapista!
Assim atuamos com a Brigada Simón Bolívar na Nicarágua em 1979. E por isso a própria Frente Sandinista reconheceu que essas foram as causas pelas quais nos expulsaram da Nicarágua depois do triunfo da revolução contra Somoza.
(O comandante sandinista Tomas Borge reconheceu isso ao dizer que a FSLN teve que “dissolver” a brigada porque “adotaram posições de ultraesquerda e de indisciplina que estavam criando problemas para a revolução sandinista”).
(O que realmente lhes incomodava era que organizávamos os trabalhadores e construíamos o partido revolucionário da Quarta Internacional).
E assim atuamos hoje na Venezuela, sem capitular ao chavismo e nem ao socialismo do século 21, sem entrar no PSUV, e impulsionando a mobilização da classe trabalhadora, construindo a corrente sindical autônoma C-CURA e o Partido Socialismo y Libertad.
E também no Peru ou no Brasil, atuando dentro de partidos amplos como a FA e o PSOL, combatendo a política de correntes que defendem apoiar variantes frente populares. Fazemos isso defendendo a independência de classe e construindo nossos partidos revolucionário internacionalistas. Nos estranha também as críticas do PTS no que diz respeito a isso, já que eles pediram para entrar no PSOL e para ter candidaturas na Frente Ampla no Peru, tática pelas quais nos criticam hoje.
Em síntese, Nahuel Moreno e nossa corrente sempre reivindicamos e ratificamos a concepção de Trotsky das teses da Revolução Permanente.
Para lutar contra toda política etapista e de capitulação aos governos burgueses de qualquer tipo, em especial contra os governos de frente popular.
Impulsionando a construção de partidos revolucionários contra todos os aparatos, unir os revolucionários para disputar a direção e dirigir os trabalhadores e as massas para a vitória da revolução socialista.
Encerramento de Mercedes Petit, dirigente do Izquierda Socialista e da UIT-QI
Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Zxz_8vVgFtQ
Mais de uma vez mencionamos o péssimo costume de distorcer posições ou de tirar citações de seu contexto para não fazer um debate honesto. E não nos referimos apenas aos companheiros do PTS. Por isso vou dizer: Nahuel Moreno nunca capitulou ao castrismo, foi praticamente o único que fez a defesa de Cuba e ao mesmo tempo críticas tremendas a Fidel e Che. Não na década de 80, e sim em 1961/62, ao calor das balas e dos fracassos dos grupos foquistas e castristas. Leiam o texto de Moreno “a revolução latino-americana” (1962) [1]; é evidente que tem vários trechos exagerados ou equivocados, mas isso o próprio Moreno diz no prefácio do texto do ano de 1962.
Respondo ao companheiro Matías Maiello, dirigente do PTS: o texto “Dois métodos frente à revolução latino-americana” [2] é uma crítica implacável no ano de 1964 ao Che Guevara, nosso herói e mártir. Peço que leiam. Está tudo no site [nahuelmoreno.org]. Maiello se espanta com o fato de que Moreno escreveu que Fidel era um gênio revolucionário. Ok, ele não era nem um gênio, nem um revolucionário, era um idiota. Agora, peço a Maiello que cite e divulgue todo o resto que está escrito, documentado, onde diz que a política do castrismo, de Fidel e de Che, está levando ao fracasso da vanguarda latino-americana porque são uma direção pequeno-burguesa, irresponsável e aventureira. Está tudo escrito.
Moreno nunca foi guerrilherista, Palabra Obrera se dividiu por isso. Bengoechea , amigo íntimo de Moreno, se somou ao castrismo. Era uma pressão tremenda à qual resistiu Moreno e seus seguidores. Leiam “Peru: duas estratégias” [3]. Hugo Blanco e Moreno impulsionavam a ocupação de terras e a sindicalização camponesa no Peru. Enquanto isso, um grupo de companheiros nossos, foquistas, se dedicou a assaltar bancos influenciados pelo castrismo.
Eu disse que Moreno nunca foi guerrilherista. Perdão, está escrito por ele, que na verdade foi sim, durante 3 meses em 1967, por seguir instruções de Mandel e Livio Maitán, que haviam reunido com Fidel. Moreno se autocriticou por escrito a respeito desses três meses [4]. Leiam Moreno, que em 1965 aconselhava González Moscoso, o boliviano mandelista, que não se envolvesse com a guerrilha.
Portanto, os companheiros do PTS nunca entraram no debate leal, para avançar, sobre o que ocorreu com o texto das teses da revolução permanente de 1927 e a realidade do pós-guerra. Mandel pisoteou o trotskismo a vida inteira, jurando que se cumpria totalmente o texto das “teses sobre a revolução permanente” de 1927. Então são discussões importantes que Moreno começou a fazer a partir das décadas de 50 e 60.
Dizemos mais uma vez aos companheiros do PTS que distorcem todas as posições de Moreno sobre revoluções democráticas, sobre as revoluções do século XX e, na prática, sobre os próprios textos de Trotsky, já que o mesmo nunca fez de nada um dogma. Façamos um seminário sobre os textos escritos das teses de 1927. Nunca nos respondem nada sobre nossas críticas a vocês, que igual a Mandel, circunscrevem a teoria da revolução permanente aos países atrasados, quando Trotsky em 1927 lhe deu uma amplitude muito superior dizendo que era a concepção da revolução permanente e socialista mundial, superando a circunscrição à Rússia de 1905.
Então, são todas essas coisas que temos que discutir com os textos de conjunto. Isso de distorcer citações e fazer falsos debates é algo que nossos mestres já superaram no século XIX. Como jogar com as palavras tática e estratégia. Agora eu me refiro ao companheiro Chechi (MST). Desculpe-me, mas não é tático estar em um partido de governo burguês durante anos e nunca ter saído, inclusive quando assumiu Maduro, porque seguiam apoiando o governo venezuelano. Então, os jogos de palavras, as posições distorcidas e as frases altissonantes, não rendem frutos positivos.
O companheiro Castillo (PTS), segue insistindo conosco que estaria errado fazer parte de partidos amplos de esquerda com tendências. Os companheiros franceses do PTS estão há anos no NPA, enquanto o NPA apoiava Chávez e Syriza. Castillo hoje disse e dobrou a aposta, que estão no NPA “para dar a batalha para transformá-lo em um partido revolucionário”. Companheiro Castillo, a maioria do NPA é mandelista e será mandelista, não vão ser revolucionários. No entanto, nós no PSOL, ou se estivéssemos no NPA, não estamos para transformá-lo em um partido revolucionário. Estamos porque é uma oportunidade para nos construirmos com nosso próprio jornal, nossa militância disciplinada, nossos próprios candidatos e sempre lutando com políticas corretas. Não tenham ilusões de que em algum momento o NPA vai se transformar em um partido revolucionário. E uma pequena elucidação, é que os companheiros do PTS e de sua organização no Peru, segundo me informaram, pediram para se candidatar pela Frente Ampla. Agora, foram os candidatos da Frente Ampla. São essas coisas que temos que tratar de ir avançando, discutindo, precisando.
Então, volto à proposta dos três pontos. A proposta de unir os revolucionários, coordenar campanhas comuns e impulsionar experiências da FIT-U em outros países, onde haja condições. Inclusive devemos melhorar o funcionamento da FIT-U aqui em nosso próprio país, que não se façam chapas sindicais divisionistas, críticas divisionistas ou atividades divisionistas diante daquilo que defendemos, acordamos, discutimos e resolvemos em comum na FIT-U. A própria FIT-U é um desafio para conservá-la e fazê-la crescer.
Por último, dar passos para a coordenação nacional e internacional para ver se podemos, entre todos, elaborar um programa revolucionário; não seriam somente dois pontos, mas são alguns poucos pontos básicos, centrais, que são os que orientam a luta dos revolucionários há mais de um século e meio. Com o objetivo preciso de buscarmos a reconstrução da Quarta Internacional.
E, como eu dizia antes, esta será a melhor homenagem que podemos fazer para Leon Trotsky, o grande revolucionário.
Muito obrigado.
Notas:
[1] Ver nahuelmoreno.org e também “El trotskismo y el debate en torno a la lucha armada”, por Martín Mangiantini, publicado pelo Cehus, 2018, que o reproduz como anexo. Em espanhol.
[2] Ver nahuelmoreno.org e também “Polémica con Guevara”, publicado pelo Cehus, 2017. Em espanhol.
[3] Ver nahuelmoreno.org e também “Perú: dos estrategias”, publicado pelo Cehus, 2015. Em espanhol.
[4] Ver O Partido e a Revolução – Polêmica com Ernest Mandel, capítulo I, subcapítulos “O porquê do nosso ‘guerrilherismo’” e “Cuba, a OLAS e a guerra civil continental”. Pode ser encontrado em espanhol em nahuelmoreno.org, e publicado na Argentina pelas edições El Socialista, 2013. Nesta edição impressa, ver páginas 118-122.
Debate completo: https://www.youtube.com/watch?v=mtQnTyqZDUE