Por uma candidatura classista e de luta em Cachoeirinha/RS
CST Rio Grande do Sul
No dia 13 de agosto foi divulgado nas redes sociais que o Diretório Municipal do PSOL Cachoeirinha (município da região metropolitana de Porto Alegre) aprovara uma coligação com a Rede Sustentabilidade. Na chapa aprovada, Antônio Teixeira (REDE) é o pré-candidato a prefeito enquanto Ester Ramos (PSOL) é a pré-candidata a vice-prefeita.
Nós da CST e do Bloco da Esquerda Radical do PSOL estamos há meses batalhando para que o partido construa nestas eleições verdadeiras Frentes de Esquerda com PSTU, PCB, UP e movimentos sociais. [1][2]
Rejeitamos a política aprovada pelo Diretório Nacional em 8 de agosto, que aprovou possibilidade de alianças com PT, PCdoB, PDT, PSB, Rede e PV. Esses partidos, quando governam, aplicam ajustes, traem as lutas da classe trabalhadora e promovem a flexibilização da quarentena de forma irresponsável com as vidas da população.
Neste sentido, queremos debater com os companheiros do MÊS que dirigem o Diretório Municipal de Cachoeirinha e que dirigem majoritariamente o Diretório Estadual, para que reflitam sobre a política votada e mudem o rumo das alianças que propõem, respeitando o programa de classe e combativo que o PSOL sempre deveria ter levantado.
Esse debate não é novo
Pelo menos desde 2008 esse debate vem sendo travado no interior do PSOL. Antes da REDE existir, os companheiros do MES já construíram aliança em Porto Alegre com o PV em 2008. Em 2010, os companheiros defendiam que o PSOL não apresentasse candidatura presidencial e apoiasse a Marina Silva (então filiada ao PV), o que felizmente não ocorreu. Em 2016, após a legalização da REDE, novamente buscaram construir aliança em Porto Alegre, mas a REDE preferiu o PMDB.[3]
Em 2016, o PSOL lançou candidatura independente e conquistou 6,20% dos votos, mostrando que pode ocupar um espaço de esquerda.
A REDE nacionalmente
Desde a sua fundação, a REDE foi financiada por empresários ligados a Natura, Itaú e outros.
Na eleição presidencial de 2014, quando a REDE usou a legenda do PSB para se candidatar, pudemos ver importantes e necessários embates políticos entre Luciana Genro (PSOL) e Marina Silva (REDE). Nossa candidata questionou o fato da candidatura de Marina ter os mesmos economistas do PSDB. Luciana também rechaçou o fato de Marina Silva ceder à pressão de fundamentalistas religiosos, e, assim, sendo omissa na defesa das LGBTs e das mulheres.
A REDE no Rio Grande do Sul
Em 2018, nas eleições para o governo do Rio Grande do Sul, a REDE esteve oficialmente apoiando Eduardo Leite (PSDB), enquanto Marina Silva, candidata da REDE à presidente da república, dava apoio ao ex-governador José Ivo Sartori (PMDB). Todos sabemos que tanto Sartori como Leite atacam o funcionalismo público, além de parcelar covardemente o salário dos servidores estaduais. No tema ambiental, falsamente defendido pela REDE, Sartori extinguiu a Fundação Zoobotânica, enquanto Eduardo Leite aprovou o Novo Código Florestal gaúcho, flexibilizando enormemente a defesa da fauna e da flora.
A REDE em Cachoeirinha
Antônio Teixeira era membro do PSB quando foi eleito vereador em 2012. O PSB governa o município desde 2009, tendo como prefeitos Vicente Pires e depois Miki Breier.
Em 16 de julho de 2013, quando a população e o Sindicato dos Municipários (SIMCA) compareceu à Câmara de Vereadores em defesa do Fundo Municipal da Previdência (FUNPREV), Antônio se incomodou, decretou abruptamente o fim da sessão, chamou a tropa de choque para reprimir os trabalhadores e ainda por cima processou o sindicato.
Em 2015, se filiou ao PSB e em 2019, Teixeira chegou a se desfiliar da REDE, entrar no PTB de Roberto Jefferson, cogitar entrar no PRB de Marcelo Crivella e da Igreja Universal (IURD) e por fim voltar para a REDE. Todos partidos que nunca atuaram a favor da luta da classe trabalhadora.
Antônio Teixeira e a REDE-Cachoeirinha também não têm mostrado nenhum compromisso com a luta das mulheres, das LGBTs e de negros e negras. Não há, da parte deles, posição firme sobre esses debates. Pelo contrário, eles mantêm um silêncio brutal sobre o governo Bolsonaro/Mourão desde o segundo turno das eleições de 2018. Além disso, Antônio e a REDE-Cachoeirinha, representam publicamente as concepções de pastores evangélicos conservadores. Não são favoráveis a descriminalização e legalização do aborto para salvar a vida das mulheres trabalhadoras e pobres.
Conclusão
Nós, da CST, atuamos em unidade de ação com todos os partidos e movimentos em todas as lutas contra os ataques dos governos, em defesa dos direitos dos trabalhadores, das mulheres, da juventude, do meio ambiente.
Não somos contrários à unidade de ação nas lutas com partidos como a REDE, PT, PCdoB e outros, enquanto eles estiverem dispostos a organizar protestos e campanhas em defesa dos trabalhadores e do meio ambiente (como é o caso da luta em defesa do Mato do Júlio, contra o seu desmatamento).
Isso é bem diferente de realizar alianças programáticas com partidos que não são de nossa classe e aplicam as mesmas políticas do governo Bolsonaro, a exemplo dos governadores do PT e do PCdoB no Nordeste, onde aplicam a flexibilização e a reabertura (no meio de uma pandemia que está matando milhares, priorizando a economia) e implantaram a reforma da previdência.
Consideramos que nota apresentada pela direção municipal do PSOL-Cachoeirinha (MES) é equivocada. Pretende fazer “a população sonhar novamente com uma cidade mais justa e igualitária” depositando ilusões num político que historicamente aplicou as políticas contrárias à nossa classe. Defende que “esta união poderá mudar a política municipal”, como se isso, por si só, pudesse alterar o capitalismo a nível municipal. Não há nem mesmo alguma exigência ou proposta programática feita pelo PSOL. A nota termina elogiando a história da REDE, chamando-a de “íntegra”, além de classificar a trajetória de Antônio Teixeira como uma trajetória de “credibilidade, honestidade e competência” (coisas totalmente desmentidas acima).[4]
É importante ressaltar que o PSOL Cachoeirinha tem sido há anos “construído” de maneira antidemocrática e personalista. Desta forma o PSOL tem perdido participação militante na vida política da cidade e também nos debates e deliberações do partido.
Em Porto Alegre, a companheira Fernanda Melchionna (deputada federal do PSOL e pré-candidata à prefeita) corretamente diz que uma prefeitura do PSOL não pode ser “um governo para todos” (falácia repetida por PT/PCdoB para fazer governos de conciliação de classes). Fernanda diz com firmeza que não governará para o fundamentalismo religioso e que não cederá às suas pressões. Fernanda também afirma que o meio ambiente é estratégico para o PSOL e que ele não é negociável (diferenciando-se assim de PCdoB, PT, REDE e PV).
Neste sentido, seria muito importante que a política que a pré-candidatura da Fernanda levanta em POA, fosse também a política seguida pelo PSOL-Cachoeirinha, visto que com a aliança definida, não será possível construir esse programa, o que representa uma forte contradição aos militantes dos diferentes municípios.
Como militantes do PSOL de Cachoerinha, esperamos que os companheiros e as companheiras do MES reflitam e considerem as dificuldades e contradições da militância, e revejam sua política neste município. É preciso apresentar frentes de esquerda e candidaturas classistas e socialistas em todo o estado e em todo o país, para fortalecer uma perspectiva de classe, de ruptura com o sistema capitalista e fortalecer a luta e organização dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre.
[4] www.facebook.com/1077480812281405/posts/3684327714930022/