Debate com o PTS/FT-QI: Devemos unir os revolucionários ou não?
Por Juan Carlos Giordano, do Izquierda Socialista e UIT-QI
Tradução: Lucas Schlabendorff
Os companheiros do PTS/Fração Trotskista – Quarta Internacional (FT-QI) divulgaram um primeiro balanço da Conferência virtual Latino-Americana e dos EUA convocada pela FIT-U (La Izquierda Diario, 07/08, Christian Castillo e Claudia Cinatti). Nesse balanço abordam diferentes temas que surgiram nos debates, entre eles, e ao final da longa nota divulgada, a proposta que nós do Izquierda Socialista e da UIT-QI fizemos [1] sobre a necessidade de unir os revolucionários. Essa proposta foi a mais relevante e central de nossa parte na Conferência, tanto nos informes e conclusões na plenária final, como nos debates prévios, mas lamentavelmente não houve resposta por parte do PTS (nem pela positiva e nem pela negativa), assim como agora. Não só isso, mas também o PTS distorce mais uma vez a nossa posição para não respondê-la.
Já viemos fazendo esse debate com os companheiros há anos, e inclusive recentemente, com a resposta que nós do Izquierda Socialista fizemos para a proposta de formar um partido unificado entre as forças da FIT [2].
Estamos propondo a unidade entre forças trotskistas
O PTS diz: “Os companheiros do Izquierda Socialista e da UIT-QI insistiram com a proposta de uma Frente Única Revolucionária [3] a nível internacional, pontuando que eles se dirigiam não somente à organizações que vinham do trotskismo, mas também de outras tradições”. Isso é falso. Não é verdade que nossa proposta está dirigida à organizações que vêm de outras tradições. Quais organizações que vêm de “outras tradições” nós fizemos referência na Conferência? Nenhuma. O chamado foi formulado concretamente para o PTS, PO e MST, e não obtivemos resposta, nem no evento, e nem agora com essa nota. Se amanhã surgir alguma corrente não trotskista que levante um programa revolucionário, nós veremos, já que não podemos reivindicar sermos os únicos revolucionários no mundo, mas agora esse debate não está colocado.
Concretamente, companheiras e companheiros do PTS, estão dispostos a explorar se há ou não possibilidades para avançar na unidade dos revolucionários? Esse é o questionamento. Elucidando que, de fato, nossa proposta de “unir os revolucionários” é a popularização da já mencionada tática da Frente Única Revolucionária (FUR).
O que significaria avançar na unidade internacional entre as quatro forças trotskistas que compõem a FIT-Unidade? Por exemplo, coordenar campanhas internacionalistas comuns, tanto políticas, como sindicais e de outros tipos. Na Argentina propomos que a FIT deixe de ser um acordo meramente eleitoral ou que faz algumas declarações de vez em quando, para começar a funcionar cotidianamente e assim responder unitariamente a todos os fatos da luta de classes, fatos políticos, sindicais, estudantis, das mulheres e dos setores populares. Isto é o que propomos a nível internacional para buscar a reconstrução da Quarta Internacional.
A tática da FUR segue vigente
O PTS também disse: “A FUR foi uma tática defendida em um momento por Nahuel Moreno que, pouco depois de fundar a LIT-QI em 1982 levou a acordos completamente oportunistas na Colômbia e no México, que ruíram pouco depois de acontecerem”. E acrescenta: “Os acordos do tipo FUR que Moreno defendia são muito mínimos para formar uma base estratégica e programática sólida para avançar na reconstrução da IV Internacional.”. Outra afirmação falsa.
Nosso mestre e construtor de partidos e de nossa Internacional, Nahuel Moreno [4], nunca impulsionou uma FUR com correntes oportunistas, e nem propôs um programa “muito mínimo” para avançar na reconstrução da IV Internacional.
O PTS critica a tática da FUR como “oportunista” porque diz que ela está direcionada para “correntes maoístas ou guerrilheiras”. (Ver nota 2). Mas onde Nahuel Moreno escreveu isso? Em nenhum lugar. O PTS sabe disso, mas ainda assim segue falsificando a verdade. Não estamos propondo nenhum acordo desse tipo, mas sim fazendo propostas para avançar entre forças trotskistas.
Quando o PTS menciona que a tática da FUR teria levado a acordos oportunistas na Colômbia e no México nos anos 80, volta a faltar com a verdade, já que foi o próprio Moreno que desaconselhou os dirigentes daqueles partidos a fazer acordos políticos com correntes não revolucionárias. É curioso que o PTS siga distorcendo o Moreno, quando qualquer um que possa ler essa polêmica compreenderá que se trata do oposto. [5]
O PTS diz que Moreno propunha um programa “muito mínimo” para unir os revolucionários. Não é verdade. Referindo-se ao debate na Colômbia, Moreno alertou que tal frente não poderia ser constituída sobre a base de pontos programáticos mínimos – como ser contra Contadora, sua diplomacia secreta […], etc. -, mas sim o contrário: “Temos que ter um programa claramente revolucionário, de revolução socialista [..]”.
Nossos pontos para a unidade
O PTS critica Moreno para tergiversar a discussão atual. O PTS não conhece os pontos que nós da UIT-QI propomos para unir os revolucionários? Vamos transcrevê-los, os quais, em linhas gerais, são os mesmos que acordamos na FIT. “1. Apoio à todas as lutas operárias, camponesas, indígenas, estudantis e populares do mundo contra o imperialismo e seus governos. 2. Pela expropriação das multinacionais, dos bancos e dos capitalistas. 3. Lutamos pela independência política dos trabalhadores; nenhum apoio a governos burgueses. 4. Pela autonomia sindical dos governos e do Estado. 5. Pela democracia operária e das massas. 6. ‘A libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores’. Lutamos por governos dos trabalhadores e do povo. 7. Por uma Internacional revolucionária e partidos revolucionários em cada país. 8. Pelo socialismo com democracia operária e popular”. [6] Os companheiros acreditam que esses pontos programáticos são “muito mínimos”? Qual é a contraproposta que formulam?
Reiteramos então que, para o Izquierda Socialista, para a UIT-QI e para Nahuel Moreno – seguindo a tradição de Lênin e Trotsky –, a FUR é a unidade entre organizações revolucionárias para dar passos na construção de um partido revolucionário.
Chamamos os companheiros do PTS e da FT a refletir. Sabemos, por experiência própria, que para poder avançar entre diferentes organizações que vêm de políticas e concepções diferentes não basta acordar um programa revolucionário. É preciso somar também um trabalho cotidiano e unitário, sem sectarismo e com lealdade, algo chave para ajudar a ganhar a confiança mútua e tentar avançar. Não conseguiremos isto se os companheiros seguirem falsificando nossas posições e nossa trajetória como fizeram com as duas afirmações que criticamos. Os chamamos a mudar e a explorar de verdade as propostas de coordenação comum que fazemos para abrir um caminho de discussão e experiência na busca de unir os trotskistas revolucionários.
Referências:
[1] A Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional foi fundada em abril de 1995 em Barcelona e reúne organizações, grupos e militantes da Argentina, Alemanha, Austrália, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Estado Espanhol, Estados Unidos, México, Nicarágua, Noruega, Panamá, Peru, República Dominicana, Turquia e Venezuela.
[2] Carta do Izquierda Socialista em resposta ao PTS sobre a proposta de um “partido unificado da esquerda revolucionária” (Correspondência Internacional nº 42, março de 2019).
[3] 1958: Nahuel Moreno introduz pela primeira vez a tática de Frente Única Revolucionária em um documento apresentado no Congresso do Comitê Internacional da Quarta Internacional em Leeds, Grã-Bretanha.
[4] Nahuel Moreno foi um dos principais dirigentes trotskistas latino-americanos e mundiais, continuador do legado de Leon Trotsky. Faleceu na Argentina em 1987.
[5] Discussão para Colômbia e México sobre a tática de Frente Única Revolucionária em www.nahuelmoreno.org
[6] Tese XIII da UIT-QI, Correspondência Internacional, Edição Especial, abril de 2013.
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