MÉXICO | Que crise nos espera?
Editorial do número 418 do jornal El Socialista
Publicação do MAS – Movimento ao Socialismo
Seção mexicana da UIT-QI
Tradução Lucas Schlabendorff
Uma enorme incerteza domina o país: o que acontecerá quando passar a emergência sanitária? Quando terminar, claro, porque também nisso existem sérias dúvidas. No final de maio, de junho ou até julho? Mas o certo é que será uma nova e dura realidade para os mexicanos e as mexicanas, com uma pavorosa crise econômica, um sistema produtivo saindo da paralisia, com previsões econômicas de uma queda sem precedentes de mais de 10% do PIB, uma recessão econômica brutal, com enorme peso da dívida externa e seus juros multimilionários, com uma população mais empobrecida, um enorme desemprego e com a indústria petroleira endividada e com preços que não a fazem rentável, ao menos em curto prazo. E como se isso fosse pouco ainda há a violência que não para no país, pelas disputas do crime organizado, assim como os feminicídios, que se agravaram devido à quarentena.
Que panorama! E o pior é que de acordo com a própria informação oficial do governo, estamos ameaçados por um novo aumento do vírus, pois não há garantias de que o problema do Coronavírus seja resolvido. E menos ainda quando o governo de AMLO¹ está para anunciar a reabertura das empresas provedoras das fábricas dos Estados Unidos, principalmente a automotriz, cedendo as pressões do governo de Trump e das poderosas transnacionais estrangeiras, que dependem em grande medida dos fornecimentos que são fabricados no nosso país.
E embora o tratamento oficial das informações sobre a pandemia e a chegada de equipamentos médicos vindos da China e Estados Unidos –o que definitivamente não resolve de fundo o desmantelamento do sistema de saúde-, tenham feito AMLO recuperar alguns pontos na porcentagem de aceitação, subindo de 60% para 68%, segundo “El Financiero”, isso pode ser absolutamente conjuntural, pois teremos que ver a reação social quando toparmos com a dura realidade, com um país imerso em uma crise sem precedentes e quando se arriscará a vida de milhares de trabalhadores para satisfazer as exigências do empresariado estrangeiro.
É evidente que poderiam acontecer grandes expressões de rechaço e mobilizações de repúdio a tal medida, que põe em grave risco milhares de famílias trabalhadoras, expondo-as ao contágio massivo para beneficiar os grandes grupos capitalistas. Daí que não é à toa que no 11 de maio passado foi publicada a decisão governamental de utilizar as Forças Armadas de forma permanente para tarefas de segurança pública, em um evidente processo de militarização do país para tentar controlar os possíveis protestos.
Enquanto isso, nessa situação inédita, se realizaram algumas manifestações organizadas no dia 1 de maio, quando pelo menos dois eventos virtuais foram verificados: o da União Nacional de Trabalhadores (UNT) com parte dos restos do charrismo² agrupados no Congresso do Trabalho (CROC, CROM, COCEM, etc.) por um lado, e o comício independente convocado pela Nova Central de Trabalhadores, por outro.
O primeiro esteve a serviço de promover um acordo com o governo e a patronal, uma estreita colaboração em meio à pandemia, propondo inclusive um novo pacto, ao velho estilo priista³, onde a classe trabalhadora é quem pagaria a conta.
O ato da Nova Central de Trabalhadores, ao contrário, defendeu claramente uma alternativa independente, rechaçando a tentativa de um “pacto”, defendeu uma Plataforma de Luta, levantando as principais demandas das e dos trabalhadores, opondo-se a que sejamos nós aqueles que paguem a conta da crise, exigindo a defesa do emprego, salário e saúde daqueles que produzimos a riqueza, sob o chamado: “Nossas demandas não são virtuais”.
Assim se desenha uma nova proposta, independente e democrática para a classe trabalhadora do país no terreno sindical, mas também é indispensável construir uma alternativa política, para lutar que seja a classe trabalhadora que governe o país, sem nenhum compromisso com a patronal ou com o governo ultradireitista de Donald Trump, que seja capaz de enfrentar as penúrias que o capitalismo nos impõe, com sua brutal crise econômica e sanitária. E construir uma sociedade socialista e democrática que responda aos interesses da classe trabalhadora. Nessa tarefa histórica é que estamos comprometidos os e as militantes do Movimento ao Socialismo.
Agrupemo-nos para construir a verdadeira esquerda!
¹ AMLO é a sigla para o nome completo de Andrés Manuel López Obrador, atual presidente do México. Quando eleito no final de 2018 foi saudado pelos setores reformistas e estalinistas da esquerda latino-americana. Nota do Tradutor.
² “Charrismo” é um termo utilizado no México para se referir a um líder de sindicato que ao invés de buscar o benefício de seus companheiros trabalhadores, obedece aos interesses da empresa ou das autoridades governamentais. Seria similar ao pelego/peleguismo no Brasil. Nota do Tradutor.
³ A palavra “priista” é em referência ao Partido Revolucionário Institucional (PRI), partido que já governou o México por diversas vezes. Nota do Tradutor.
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