Para enfrentar os Tucanos e o PT
É 50! É PSOL de cara própria!

Nota da CST | Coordenação Nacional da CST

A eleição 2010 será a primeira que Lula não disputará desde a redemocratização do país. Apoiado na sua alta popularidade, fruto da sua origem na classe trabalhadora e sua identificação verbal com os interesses “do povo” enquanto serve o grande capital, Lula aposta em fazer de Dilma Roussef sua sucessora.

Ao seu formidável peso pessoal, agreguemos a sustentação que as direções do movimento, sejam elas sindicais, populares ou camponesas tem dado, se somando assim à virada do presidente “operário”.

A falsa oposição da direita liderada pelo PSDB/DEM está quase muda. Sucumbindo ao prestígio lulista, sabe que em definitiva, como afirmou Delfim Neto, Lula salvou o capitalismo continuando com a mesma política de FHC. Querem disputar a “chave do cofre”, mas não sabem nem podem se diferenciar.

Se a crise econômica no Brasil tem sido menor que no México, EUA, ou leste europeu, não significa que não existe. Nenhum dos problemas estruturais do país tem se solucionado, pelo contrário, eles se agravaram. Lula empurra a crise aumentando o endividamento do país e da população, enquanto sua gigantesca máquina publicitária disfarça o crescimento das bolsas, essencialmente especulativo, passando a imagem que a economia real está em expansão. Mas não há mais trabalho e mais produção, há menos. Não há menos crise social, há mais. Nas capitais como Rio, São Paulo, Belém, Porto Alegre, Recife, a violência se expande assustadoramente.

Há confusão e ilusões, é com razão, na cabeça e na consciência do movimento de massas. Ao final, lutou durante mais de 20 anos para eleger Lula. Não é fácil romper com a enorme expectativa acumulado ao longo de décadas de corajosas lutas. Para romper também é necessário que aja uma alternativa.

Esta confusão que leva a certo conformismo, não impede que importantes setores populares lutem para defender seus interesses. Assim o demonstram as mais de 350 – 400 greves que deslancharam no país por ano desde 2007. Também, as explosões momentâneas como a das populações exasperadas pelos péssimos serviços, ou dos moradores das comunidades que resistem como podem a violência policial que mata jovens, negros e pobres em nome do combate ao narcotráfico.

No último período temos visto greves e paralisações duras e fortes nos trabalhadores da indústria e de serviços que ancoradas na propaganda oficial que a crise “já passou”, saíram para exigir o que é seu. Conseguindo muitos deles aumentos acima da inflação. E acompanhando estes movimentos, o crescimento, lento, mas seguro, de lutadores que enfrentam os novos pelegos atrelados ao governo como os da CUT, e se organizam por fora, em novos agrupamentos.
É neste marco, que estão se articulando as forças para as eleições 2010.

O PSOL e as eleições 2010

O PSOL nasceu para ajudar a construir uma alternativa de esquerda e socialista frente à traição do PT. Heloísa Helena foi seu maior símbolo. Em 2006 sua candidatura à presidência evitou que se impusesse a falsa polarização Lula x Serra, alcançando 7 milhões de votos e obrigando a definição em um segundo turno.

Hoje Heloísa, por decisão pessoal defendida por alguns dirigentes de correntes como o MÊS e o MTL, afirma que concorrerá ao senado por Alagoas, contrariando os anseios da absoluta maioria dos militantes, assim como de milhões de eleitores que nas pesquisas indicaram seu nome.

O PSOL está perdendo a oportunidade de se apresentar com seu melhor quadro para a disputa eleitoral, com a única candidatura capaz de ajudar a romper setores de massas com o governo, gerando um fenômeno eleitoral enormemente progressivo. Esta deserção indica que setores do partido estão sucumbindo também ao aparato lulo petista..

Dirigentes do MES e do MTL justificam que Heloísa não se apresenta, pois a conjuntura está ruim, o movimento não luta, está confuso e iludido, e confia em Lula. Em definitiva, que por culpa do atraso e das ilusões do povo, o PSOL não pode ter candidatura própria. E assim, em nome de disputar “as massas”, estão decididos a apoiar a candidatura da Marina Silva, ex ministra do Meio Ambiente durante 6 do governo Lula, hoje no PV. Com outros argumentos, alguns dirigentes de APS defendem tal apoio. Desta forma, tal vez os companheiros acham que ajudam a desfazer confusões. Mas só as aumentam. Pois pintam Marina e um possível, mas hipotético “fenômeno eleitoral” como de esquerda, progressivo, capaz de representar os interesses do povo trabalhador. Mas o que estão fazendo, é renunciar ao projeto pelo qual foi fundado o PSOL: o de representar uma alternativa de classe e de esquerda consequente.

Outro argumento que está sendo utilizado para justificar o apoio a Marina, é que o PSOL não tem nenhuma figura de massas fora Heloísa. Por tanto, apresentar um candidato com menor densidade eleitoral que ela, seria “sectarismo”. Esta é uma novidade no terreno da construção dos partidos socialistas, pois introduz a “lei” que enquanto um partido não tem figuras de massas… Não pode se apresentar a eleições!! Como se as eleições não fossem também um caminho que possibilite ao partido um diálogo com o movimento de massas, e mais uma via para avançar na luta por obter influência sobre setores de massas. Esse argumento é tão, mas tão frágil que não resiste a menor discussão.

Em nome de um suposto “acúmulo de forças” não podem disfarçar o objetivo eleitoral, com a ilusão que, junto a Marina, o PSOL conseguirá eleger alguns parlamentares. Não desprezamos a importância de eleger parlamentares, mas tudo depende com qual política e programa. Escondendo os objetivos de classe e de esquerda por trás da candidatura de Marina, com certeza o “acúmulo” que tal vez possa se alcançar é a de um partido desfigurado, que renunciou não somente aos objetivos estratégicos, mas ao mínimo que se poderia exigir do PSOL: a de ser de oposição de esquerda ao governo Lula. A direção do MÊS, que defende o apoio a Marina, argumenta que “os candidatos a governador” representarão a voz e os objetivos do PSOL. Como se fosse possível separar as candidaturas a governador de um projeto nacional e da disputa presidencial! Esta “tática” ademais de mostrar total incoerência com o projeto partidário que originou o PSOL, só agregaria mais confusão com candidatos a governador com discurso diferente da candidata a presidente que seu partido “apóia”.

Ajudando a dissipar confusões e ilusões

A ruptura de Marina com o PT não tem nada a ver com as rupturas anteriores: a de 2003 dos “radicais” e a de 2005 pós crise do mensalão. Em primeiro lugar porque se trata de uma ruptura com o PT, mas não com o governo e em segundo lugar, pois não veio para o PSOL e sim para o PV de Zequinha Sarney. Não é por acaso. Entre 2003 e 2008, Marina comandou o Ministério do Meio Ambiente. Nesse período, suas divergências foram pontuais. Por isso, ao sair da pasta, fez um balanço positivo do mandato de Lula. Na área ambiental, reivindicou as medidas de sua gestão, como a Lei de Florestas e a divisão do IBAMA. Esse mesmo conteúdo foi repetido em sua carta de desfiliação do PT. Na prática, usa seu prestigio do passado para legitimar um novo marco regulatório de destruição do meio ambiente.

Osmarino Amâncio, dirigente do PSOL/AC e parceiro de Chico Mendes na luta seringueira do Acre, declarou: “Ela aceitou o transgênico, que é totalmente inaceitável [..] Ela ajudou a implantação do Projeto Gestão de Florestas Públicas que significa a mercantilização da Amazônia. Ela dá por 40 anos, prorrogáveis por mais 30… concessão às multinacionais e ao agronegócio para que explorem a Amazônia. [ela] privatizou 5% de rios, lagos e mares para o agronegócio. Ela criou o selo FSC (Conselho de Manejo Floresta), que não passa de “lavagem” (tornar legal) de madeira retirada ilegalmente. Ela nunca discutiu nada disso com os povos da Amazônia”. (entrevista ao Sindicato dos Químicos Unificados de SP).

Neide Solimões, dirigente da CONDSEF, filiada e dirigente do PSOL/PA, afirma: “Marina tratou a divisão do IBAMA como modernização dos serviços. Porém, a medida provocou o esvaziamento do órgão. A fragmentação da gestão ambiental com a divisão de responsabilidades a partir da criação do Serviço Florestal Brasileiro e do Instituto Chico Mendes, não foi positiva. A criação do Instituto se deu com a divisão dos recursos humanos e financeiros do IBAMA, que já eram poucos, enfraquecendo-o mais ainda. Isso explica que em 2008 o desmatamento na Amazônia Legal voltou a crescer com a destruição de 13 mil km2 da floresta”.

Marina Silva possui uma ótima relação com empresas que utilizam o discurso “verde” para maximizar seus lucros. Não é a toa que um dos doadores de sua campanha ao senado é a multinacional Italiana Pirelli, com projeto de suposta “preservação” em Xapuri no Acre, onde explora a borracha dos seringueiros para fabricar seus pneus. Outro doador é a indústria cosmética Natura, que explora o conhecimento tradicional dos povos da Amazônia e o patrimônio genético da floresta para desenvolver sua linha Ekos. Seu Presidente Executivo é filiado ao PV, sendo cotado como vice de Marina. Todo o discurso de “uso sustentável da tradição popular e da biodiversidade brasileira”, de “Responsabilidade Social Empresarial” da Natura e de Marina caem por terra.

Marina Silva já possui a mesma visão do PV de não ser “contra o PT nem ao PSDB”. É coerente visto que o PV compõe o governo Lula e também governos com o PSDB. Uma verdadeira ambientalista como mínimo- se declararia oposição ao governo Lula e as multinacionais.

Em síntese, podemos dizer que Marina é exemplar representante do Ecocapitalismo camuflado pelo discurso do desenvolvimento sustentável empresarial.

Apresentar o PSOL como alternativa

Há um espaço a ser disputado pelo PSOL nas eleições 2010. Um espaço para ajudar a dissipar confusões e ilusões, mostrando com denuncias concretas o verdadeiro rosto deste governo, apresentando alternativas para o povo brasileiro, que se derivam de nosso programa. Se conseguiremos atingir setores de massas depende por um lado da situação objetiva. Mas por outro, é decisivo que exista um pólo consciente que atue sobre a realidade, para disputar do governo e das diversas falsas alternativas, entre elas a do PV de Sarney e Marina, a consciência, a cabeça e o coração das massas.

Não é de responsabilidade do partido e da imensa maioria dos militantes que Heloísa tenha renunciado a este bom combate. Mas é sim da sua responsabilidade e daqueles que apóiam tal decisão, a de se esforçar porque o partido tenha cara e voz própria nas eleições 2010. Escondendo a cabeça atrás da Marina, será a expressão da renuncia ao projeto do PSOL, como se o PSOL não tivesse nada a propor para o povo brasileiro! Esta sim que é a pior de todas as capitulações, mostrando um novo partido, mas com a velha política.

Chamamos aos dirigentes e militantes do PSOL a lutar em todas as instâncias para que o partido tenha candidatura própria. A não dar de presente nosso espaço para aqueles que não o representam nem o construíram.

Coordenação Nacional da CST – Novembro de 2009