HORA DA VIRADA: PSOL nas ruas contra o ajuste e longe dos governistas!
| Tese da CST e militantes do PSOL
INTRODUÇÃO
A CST – Corrente Socialista dos Trabalhadores, constrói um campo partidário articulado ao redor das propostas do “Manifesto ao PSOL”, texto assinado por milhares de militantes, correntes da esquerda partidária, dirigentes sindicais e políticos, parlamentares e figuras públicas, como parte do esforço de reorientar o PSOL, modificando sua atuação para os novos desafios que enfrentamos, principalmente “diferenciar-se claramente de propostas farsescas de “frentes” com o petismo, que pretendem utilizar o prestígio do PSOL e fazer calar as críticas ao governo do ajuste”. Ao mesmo tempo, com a nossa tese, queremos aprofundar o debate e apresentar nossa visão sobre a situação internacional e as tarefas do nosso partido no Brasil. Defendemos um PSOL conectado com as jornadas de junho de 2013 e a onda grevista de 2014. Entendemos que é a “Hora da virada no PSOL”, nos afastando definitivamente de Lula e dos governistas, resgatando as bases fundacionais de nosso partido. Para, assim, construir o PSOL como um partido operário independente, batalhando por uma Frente de Esquerda com os partidos anticapitalistas com os quais devemos estar juntos nas ruas e nas eleições, e buscando conformar um espaço de Unidade na Luta que agrupe todos os setores combativos que estão na luta social.
1- INTERNACIONAL: A conjuntura mundial e a capitulação do governo grego
Na situação mundial de hoje se combinam centralmente três elementos que a determinam: a continuidade da crise econômica aberta em 2007-08, um poderoso ascenso das lutas dos trabalhadores pelo mundo em resposta aos ajustes fiscais e planos de austeridade e também o surgimento de novas alternativas políticas de esquerda frente à crise inevitável de todos os partidos que aplicam os ataques contra a classe trabalhadora. É um dado importante que, ainda que com desigualdades inevitáveis, a crise econômica iniciada na segunda metade da década passada segue em aberto. Segundo o economista burguês Paul Krugman, na Zona do Euro “o PIB per capita continua sendo inferior ao de 2007 e, no mínimo, 10% mais baixo do que se esperava a esta altura. É pior do que a trajetória europeia durante a década de 1930”. (El Pais, abril de 2015). A recente crise da bolsa chinesa também pode apontar o aprofundamento da crise econômica mundial. Em 17 dias nos meses de junho e julho deste ano a bolsa de Xangai registrou queda de 32%. Somadas, das bolsas de Xangai e Shenzen saíram mais de três trilhões de dólares.
Na América Latina, além do Brasil aonde o número de greves vem aumentando e o ajuste fiscal do governo Dilma tem gerado fortes lutas, podemos destacar a Argentina que foi sacudida esse ano por fortes dias de paralisação geral do país.
A crise dos governos que aplicam a austeridade abre importantes espaços políticos à esquerda em todo o mundo. A socialdemocracia europeia vive sua pior crise em décadas porque aplica os planos de austeridade contra sua histórica base social na classe trabalhadora. Após dezenas de greves e mobilizações, isso é o que explicou a vitória do Syriza na Grécia e a recente ascensão do Podemos na Espanha. Explica também, ainda que com um programa mais avançado politicamente, a consolidação e avanço da Frente de Izquierda y los Trabajadores na Argentina, como uma resposta à crise do Kirchnerismo. Portanto, consideramos uma obrigação dos socialistas do PSOL fazer o debate sobre a Grécia, pois é um debate estratégico para os rumos da esquerda nacional e mundial.
1.1- Grécia: acordo assinado por Tsipras é a continuidade da austeridade e uma traição ao resultado do referendo de 5 de julho
Após alguns anos de crise econômica, planos de austeridade e ajustes fiscais, um dos países onde estes planos foram mais duramente aplicados pela socialdemocracia do PASOK e pela Nova Democracia (direita tradicional) foi a Grécia. Ali, um partido da “esquerda radical” (Syriza) foi eleito este ano, gerando fortes expectativas na esquerda mundial, sendo que tanto PASOK quanto a ND ficaram esfacelados. O discurso de Alexis Tsipras nas eleições foi para acabar com os planos de austeridade que vinham sendo uma catástrofe para a classe trabalhadora grega, com um índice de desemprego que chega a 26%, e entre os trabalhadores jovens a 52%. Mas, durante os seis meses de governo sua estratégia central foi tentar convencer pela negociação os principais países imperialistas da Europa a “moderarem” o ajuste contra a Grécia. Seis meses após o Syriza assumir o governo, é evidente que esta estratégia fracassou.
O que está claro é que o povo grego segue rechaçando pagar a conta da crise econômica. Cansado desta situação, em 5 de julho reprovou com mais de 61% dos votos o acordo proposto pela Troika. Porém, no dia seguinte ao referendo, Tsipras reuniu-se com os principais partidos defensores do “SIM” e fechou uma proposta para oferecer aos credores termos semelhantes ao que a população grega havia rechaçado no dia anterior. A continuidade do pagamento da dívida pública é mais uma vez o cerne do problema. Como colocou Maria Lúcia Fattorelli, que recentemente auditou a dívida grega: “prosseguir com este modelo suicida não tem futuro”. Como disse o dirigente da Plataforma de Esquerda do Syriza, Stathis Kouvelakis: “O acordo é em todos os níveis uma continuação da terapia de choque aplicada consistentemente na Grécia ao longo dos últimos cinco anos. Vai inclusive mais longe que tudo o que foi votado até agora”.
1.2- A disjuntiva para a esquerda: Continuidade ou ruptura com os planos capitalistas
A disjuntiva de ferro da história dos partidos de esquerda mais uma vez se colocou, ou se rompe com os planos capitalistas e se inicia um processo de ruptura anticapitalista, ou inevitavelmente a esquerda trai suas bandeiras e aplica exatamente aquilo que sempre condenamos: atacar os direitos dos trabalhadores e do povo para encher os bolsos dos banqueiros. Hoje, grosso modo, duas posições dividem a esquerda mundial perante o acordo do governo grego com a Troika: A primeira, alimentada por diversas variantes do reformismo, diz que a “única coisa possível” foi fazer como Tsipras, e como isso não deu certo o que nos resta é lamentar profundamente e apoiar o governo grego na aplicação da austeridade. Esta posição impotente ainda inclui lamentar a intransigência dos credores e do governo alemão. Como se pudéssemos esperar outra atitude deles! Quem expressou recentemente isso foi a dirigente do Bloco de Esquerda de Portugal Marisa Matias “é-me difícil ficar ao lado do Syriza só para a fotografia. Também é preciso estar, mesmo que de forma crítica, quando os resultados não são os que queríamos.” Essa posição alimenta a ilusão profundamente reformista de que “não há outro caminho” para um governo de esquerda. A nota citada é tão lamentável que não coloca nem a possibilidade dos trabalhadores gregos, que protagonizaram poderosas lutas nos últimos anos, resistirem ao acordo. Ou seja, não aposta no processo da luta de classes na Grécia, se limita a lamentar a derrota de sua própria estratégia e a se solidarizar com aqueles que compartilham com ela, como Tsipras.
Porém, há outra posição, da qual compartilhamos com diversos setores da esquerda mundial, que a saída para o governo grego não era somente aceitar o acordo, mas não o acatar e preparar a saída da Zona do Euro. Na dinâmica que se abriria com o “Grexit”, colocamos claramente que somente adotando medidas anticapitalistas o processo poderia avançar para o fim completo da austeridade.
O fracasso da estratégia de Tsipras e de seus seguidores pelo mundo mostra claramente que a esquerda não deve criar e alimentar ilusões que a União Europeia é uma instituição a serviço dos povos da Europa. Como bem colocou recentemente a LCR-La Gauche, Seção Belga do Secretariado Internacional da IV Internacional: ”… a união européia não é uma força de paz, de progresso e de democracia. É um conjunto despótico de instituições e de regras inteiramente a serviço de um projeto capitalista dos grandes grupos industriais e financeiros. Eles querem acabar com as conquistas sociais e democráticas para enfrentar a concorrência intercapitalista na cena mundial. […] Mas esta derrota é também produto da estratégia política da direção do Syriza, baseada sobre a ilusão fatal de um compromisso possível nos marcos da União Europeia e do euro. É esta ilusão que levou Tsipras a sacrificar a vontade do povo grego, expressada claramente no referendo”. No entanto, não se trata de sair da União Europeia por motivos “nacionalistas” achando que a solução está dentro das fronteiras nacionais. Pelo contrário, é parte da luta por outra Europa, a Europa dos povos e dos trabalhadores. Para isso, é necessária uma campanha de solidariedade internacional, apelar aos trabalhadores europeus em primeiro lugar, mas do mundo todo, a resistir e lutar para derrotar o memorando de Tsipras, apostando na luta e resistência do povo grego e na solidariedade dos povos do mundo.
Temos certeza que a última palavra não foi dada na Grécia. A classe trabalhadora que mais fez greves gerais nos últimos anos tem condições de resistir à austeridade. A necessidade política para a esquerda grega é unificar todas as organizações de dentro e de fora do Syriza que estiveram pelo Não no referendo e se colocaram contra o recente acordo, para lutar contra a austeridade e mostrar que há outro caminho que não o da rendição.
2- NACIONAL: A Saída é pela esquerda!
A última pesquisa CNT/MDA mostrou que o governo Dilma tem a aprovação de apenas 7,7% da população, 62,8% dos entrevistados defendem o Impeachment e 69,2% consideram que Dilma é culpada pela corrupção na Petrobrás.
A aplicação de um duro ajuste fiscal e a radicalização dos ataques contra os trabalhadores e a juventude, combinado com as benesses aos empresários, por meio de um pacote de privatizações e o PPE (Programa de Proteção aos Empresários), ajudam a explicar a atual crise do governo. Privatizações semelhantes às de Alckmin no Metro de São Paulo. Mesmo nessa situação a proposta do Governo Dilma para sair da crise é seguir com ataques aos direitos dos trabalhadores, cortes no orçamento e redução salarial. Esse ajuste está deixando o povo com menos dinheiro no bolso, sem perspectiva de avanço individual e enfrentando o fantasma do desemprego em meio a alta da inflação. Enfrentando essa situação ocorrem inúmeras lutas como a atual greve das Universidades e dos servidores federais.
A prisão de Marcelo Odebrecht preocupou Lula e a cúpula do PT. A Odebrecht financiava o partido e fazia doações ao Instituto Lula, através de palestras proferidas pelo ex-presidente. Na verdade essas "palestras" eram tráfico de influência realizado por Lula para garantir contratos com o governo Dilma e governos de outros países. Na prática, o seu instituto servia de caixa dois para o PT, dinheiro que era recebido em troca de contratos com o Governo Federal. O delator Ricardo Pessoa (dono da UTC) denunciou que os milhões doados para a campanha Dilma em 2010 e 2014 tinham origem em propinas o que coloca em suspeição a prestação de contas da campanha eleitoral, levando a Lava Jato para dentro do Palácio do Planalto. Outro elemento de desgaste que ataca a popularidade de Dilma.
Esse duplo processo enfraquece o governo e impede que ele consiga aplicar todo o plano de austeridade Dilma/Levy. Sem controle e apoio do congresso, do judiciário, com greves e mobilizações nas ruas e direções governistas enfraquecidas, Dilma e PT terão muita dificuldade para terminar o mandato, hipótese que não podemos descartar diante de tantos problemas políticos e econômicos.
2.1- O ajuste é para pagar a dívida e beneficiar os banqueiros
A política econômica do governo Dilma está centrada em um plano de austeridade, com seguidos cortes no orçamento, o que tem prejudicado setores como saúde e educação. Tudo com o objetivo de fazer o “superávit primário” para o pagamento dos juros e amortizações da dívida com os banqueiros. De acordo com dados da Auditoria Cidadã da Dívida, o sistema financeiro vai receber em 2015 R$ 1,356 trilhão, ou 47% do orçamento de 2015, o que equivale a 13 vezes os recursos da saúde ou 13 vezes os recursos da educação, sendo que a proporção dívida Bruta e PIB já está na ordem de 62% com perspectiva de chegar a 66% em 2016, segundo dados do próprio governo. Dilma quando assumiu o governo em 2011 a proporção era de 52%. Uma política a serviço do sistema financeiro que é aplicada com os votos do PSDB no congresso nacional e em parceria com os governos estaduais do bloco tucano.
Hoje, sem dúvida, o pagamento da dívida é o maior problema nacional, pois ele transfere a riqueza do país construída pelos trabalhadores diretamente para o capital financeiro, prejudicando o povo. A suspensão de novos financiamentos do programa Minha Casa Minha Vida para os setores que mais necessitam, a proposta de reajuste parcelado e a crise nas universidades por falta de verbas são alguns exemplos do quanto a continuidade do pagamento da dívida ocasiona mais crise no país.
2.2- A operação Lava Jato aprofunda a crise das instituições do sistema político
A crise, provocada pela operação Lava Jato, afeta os presidentes do executivo e do legislativo, os principais partidos da velha república (PT, PMDB e PSDB) e as campanhas eleitorais de Dilma e Lula. Toda a linha sucessória do país está mergulhada na corrupção. Desde junho de 2013 o desgaste da velha República de 1988 se amplia. Uma crise que não tem perspectiva de ser solucionada porque nenhum poder tem capacidade de articular um acordo que garanta alguma estabilidade ao regime político.
E a situação do Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, expressa bem o que estamos afirmando. Acusado na Lava Jato como um dos principais beneficiados das propinas nos contratos da Petrobras, Cunha foi acusado de exigir cinco milhões de dólares de propina para financiar campanhas eleitorais. Encurralado e cada vez mais isolado Cunha anunciou a sua ruptura com o governo Dilma como forma de se defender e ganhar algum fôlego na oposição. Eduardo Cunha é parte dos picaretas do regime político que junto com parlamentares do PT, PMDB, PSDB, PP, são os responsáveis por aprovarem as medidas de ajustes do Governo Dilma que atacam os trabalhadores e de utilizarem os mandatos para enriquecimento próprio através do roubo do dinheiro público.
A proposta de contra-reforma eleitoral apoiada pelos partidos governistas e da oposição de direita, retira qualquer possibilidade do PSOL e os partidos de esquerda de participarem dos debates na TV. Uma medida totalmente antidemocrática que tenta barrar uma voz destoante e evitar que surja uma alternativa frente aos partidos da ordem: do PT ao PSDB. Com esse projeto eles querem resolver as suas crises atacando os partidos que não dependem da compra de votos e da corrupção. Devemos derrotar nas ruas esse projeto com uma campanha unificada da esquerda e setores democráticos.
2.3- As greves se alastram sem controle da burocracia.
Com uma situação econômica de ajuste, os trabalhadores em luta estão dizendo que não aceitam perda de direitos e redução salarial. Nos primeiros meses do ano a vanguarda do enfrentamento foram os trabalhadores da educação protagonizando greves estaduais, centralmente contra os governadores do PSDB, o que enfraqueceu o principal polo partidário da oposição de direita, principalmente após a truculência de Beto Richa. Outro pólo importante foram os metalúrgicos da Mercedes do ABC, que rejeitaram em plebiscito, o acordo de redução salarial, enfrentando o principal bastião da burocracia petista no ABC. Além disso, ocorreram fortes lutas e ocupações dos sem-teto em São Paulo.
Agora são os Servidores Federais que estão liderando o enfrentamento por meio de uma greve nacional diretamente contra os cortes de verbas e arrocho de Dilma/Temer. Trata-se de um enfrentamento importante que deve ser apoiado pelo PSOL, principalmente agora com a entrada das demais categorias após a movimentação da FASUBRA e ANDES-SN, rumo à construção de uma greve geral. Tarefa deliberada no último diretório nacional do PSOL de 16 de maio e que precisa ser efetivada.
2.4- Afirmar o PSOL como oposição de esquerda
Em meio à crise geral do país, o PT tenta salvar a própria pele, buscando uma unidade conservadora de Tucanos, Pemedebistas e Petistas ao redor do ajuste fiscal e do pagamento da dívida bem como da defesa das instituições burguesas. Não por acaso Lula procurou FHC para fechar um acordo contra um possível Impeachment da presidente Dilma. Talvez nem precisasse, pois, a ala de FHC no PSDB não possui como linha o afastamento de Dilma. Isso não significa que não queiram desgastar o governo e sangrá-lo, mas sim que sabem da dificuldade que teriam um governo tucano ao assumir o planalto nas condições políticas e econômicas que se encontra o Brasil.
Os governistas continuam a agitar que devemos “unir a esquerda” contra a direita, visando se reciclar e se colar em forças políticas vivas como o PSOL ou mesmo novas lideranças como o MTST. Lula deseja impedir que surja uma verdadeira alternativa de esquerda, vocalizando uma política operária e popular fiel às jornadas de junho. Não podemos aceitar. Queremos fortalecer o PSOL como alternativa de esquerda a falsa polarização entre PT-PSDB.
2.5- Seguir o exemplo do povo grego: Não à dívida e Não ao ajuste fiscal
Diante do ajuste fiscal e da crise no regime, o PSOL deve mostrar que há dinheiro para atender as pautas pelas quais milhões foram às ruas em junho de 2013. Que é possível atender a pauta dos servidores e dos estudantes, impedir as demissões e evitar a redução de salários nas indústrias. Que o verdadeiro ajuste deve ser contra os banqueiros, suspendendo o pagamento da dívida e canalizando esses recursos para os trabalhadores e os setores populares. Combater todas as medidas que precarizam e atacam os direitos dos trabalhadores como o PLC 30/2015 da terceirização que precariza o trabalho, a resolução do 748/15 CODEFAT (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador) que altera o cronograma de pagamento do Abono Salarial e as leis que restringem o direito ao seguro desemprego, abono salarial, auxilio doença e pensão.
Diante da crise no regime devemos colocar “Fora todos os corruptos” denunciando esse regime que só beneficia os empreiteiros e os partidos da ordem. Exigimos a prisão e confisco de bens de políticos e empreiteiros e que todo o dinheiro seja devolvido para os cofres públicos. Pelo fim do foro privilegiado acabando com as regalias no julgamento de políticos. Por uma assembleia nacional constituinte para mudar a estrutura política e econômica do país e para acabar com os privilégios no parlamento com o valor do salário dos parlamentares, sendo decidido em plebiscito e vinculado ao salário mínimo. Contra qualquer medida que restrinja a democracia, como a cláusula de barreira e a contrarreforma eleitoral.
Defendemos a necessidade de uma verdadeira frente de esquerda: classista e combativa e oposição de esquerda ao governo Dilma e ao PT. Uma frente social e política com o PSTU, PCB, PCR, a CSP-CONLUTAS, a INTERSINDICAL, a esquerda da UNE e ANEL, dentre outros agrupamentos, com o objetivo de construir uma alternativa que leve à frente um programa para os trabalhadores e o povo. Pela unificação das lutas e greves para fortalecer a construção de uma greve geral no país. Por isso defendemos:
Ø Suspensão do Pagamento da dívida e auditoria. Dinheiro para saúde e educação e não para os banqueiros; Redução da jornada de trabalho sem redução do salário! Derrotar o PPE em cada assembleia. Barrar o PLC 30/15 da terceirização e todas as medidas que restringem direitos trabalhistas
Ø Unificação das lutas e greves para derrotar o ajuste de Dilma/Temer e os ataques dos governadores tucanos! Pela construção de uma alternativa dos trabalhadores.
Ø Fora todos os Corruptos. Por uma assembleia nacional constituinte como alternativa a um parlamento que legisla de costas para o povo;
Ø. Que as empresas que demitem e/ou fecham e as empreiteiras que desviaram dinheiro público para corrupção sejam expropriadas pelo governo e colocadas a funcionar sob controle dos trabalhadores!
Ø Por uma Petrobrás 100% estatal;
Ø. Contra a redução da maioridade penal ou medidas intermediárias que apresentam como única saída a penalização, como o PLS 333/15 do Senador José Serra (PSDB) votado com o apoio do PT.
Ø pela retirada dos projetos reacionários e conservadores do congresso nacional, como o estatuto da família (PL 6.583/1) e do nascituro (478/07) e qualquer outro projeto que ataque as liberdades democráticas;
3- PSOL: Elementos de balanço e perspectivas
O balanço e as perspectivas do nosso partido são inseparáveis da nova situação aberta no país a partir dos últimos anos, marcado pela grave crise do PT e sua completa perda de base social. Esse espaço que se abriu à esquerda é o ponto de referência de nosso balanço e de nossa política e orientação para o próximo período. Nossa definição é que para conseguir converter o PSOL numa alternativa à altura das circunstâncias, ou seja, capaz de canalizar e oferecer uma saída à crise a setores de massas, o partido TEM QUE SER UMA OPOSIÇÃO DE CLASSE, inserido NOS PROCESSOS DE LUTA, OFERECENDO UMA SAÍDA PELA ESQUERDA À DEGENERAÇÃO PETISTA E À VELHA DIREITA. Temos importantes pontos de apoio para avançar neste caminho.
Esse debate e essas mudanças são importantes, pois, a base militante do partido está presente nos principais embates da luta de classes, porém não conta com nenhum instrumento partidário para atuar. Por outro lado, é um debate necessário, pois o PSOL ocupa um espaço muito grande na superestrutura da política nacional e poderia encabeçar um verdadeiro polo alternativo da esquerda socialista e combativa brasileira, caso mude sua atual orientação de proximidade com o PT de Lula e Dilma.
3.1- Desafios do PSOL: politizar e se vincular à classe trabalhadora e suas lutas e demandas
Não podemos enfrentar o V Congresso com a mesma lógica que o anterior, aonde o tensionamento chegou ao extremo pela imposição da candidatura de Randolfe feita pela US. Uma candidatura rejeitada pela maior parte da militância. Chegando à brutalidade de rejeitar a proposta de prévia democrática defendida corretamente pelos companheiros Chico e Freixo. Portanto, o congresso foi uma oportunidade perdida para armar a militância frente aos novos fatos da realidade política e da luta de classes. Nos primeiros meses de 2014, em pleno carnaval, veio a poderosa greve dos garis do RJ e diversas greves de rodoviários, seguido de numerosas ocupações urbanas em SP lideradas pelo MTST, greves de metalúrgicos no RJ, etc. Tudo isso em meio à crise e paralisia do PSOL e de seu suposto candidato.
A posterior renúncia de Randolfe obrigou a conferencia eleitoral, onde a companheira Luciana Genro saiu candidata com uma plataforma melhor que a de Randolfe, porém ainda limitada perante a nova situação aberta em junho. A campanha de Luciana, corajosa e com eixos bastante claros, nos delimitou com firmeza do governo do PT (roda auxiliar do PT Uma ova!) e das falsas oposições de direita (os irmãos siameses). Sobretudo nos debates com os concorrentes onde se destacou e fez o PSOL brilhar para se converter numa pequena referência em setores de massas, em amplos setores de vanguarda e sobretudo na juventude. Infelizmente, após as eleições de outubro, no segundo turno, a decisão do PSOL de liberar o voto em Dilma foi desastrosa e nos colocou como cúmplices de um dos maiores estelionatos eleitorais da história. Somado a que diversos parlamentares e figuras públicas do PSOL sentiram-se autorizadas a fazer campanha para Dilma, o que criou constrangimento no partido.
3.2- Uma visão errada ou uma visão eleitoreira?
Para um setor de companheiros, fundamentalmente os que estão na órbita da US, o determinante na situação política é uma “onda conservadora” na qual não entraria o PT. Ao analisar a realidade pela correlação de forças no congresso nacional, perde de vista a situação geral. Deixam de fora um dos aspectos fundamentais da superestrutura política do país: O Executivo dirigido pelo PT, que nomeou Levy, se aliou ao PMDB; que votou pela contrarreforma eleitoral piorada por Cunha, reabilitou os 300 picaretas e desvia dinheiro público conforme a investigação da Lava Jato. Ou seja, um Executivo absolutamente conservador e anti-operário, que se digladia com setores da sua própria base de sustentação unicamente porque estão se preparando para a disputa de 2018. Com essa visão errada, não enxergam o espaço real que tem a esquerda e o PSOL, a ruptura com as velhas direções começando com o PT e as burocracias sindicais, a necessidade de dar respostas a novas gerações que entraram na luta e que são a base da instabilidade política que corrói o governo e o regime.
Deixar por fora o PT, considerado como “mal menor”, traz graves consequências. Existe uma política por parte do PT (encabeçada por Tarso Genro e Lula) que busca domesticar o PSOL para impedir que surja uma alternativa à esquerda. Para tal objetivo levantam propostas como a de “frentes de esquerda” entre PSOL e PT pretendendo utilizar o prestígio do PSOL para fazer calar as críticas ao governo do ajuste. Não é nossa tarefa salvar o PT, que caiu fruto da sua traição de classe, mas sim ocupar o vazio político com uma alternativa de esquerda, conseqüente, que não se renda ao capital e aplique medidas anticapitalista. Neste movimento, infelizmente, entram setores do combativo MTST, que convocam a marcha dia 20/08 que não duvidamos, terá como elemento fundamental a defesa do governo Dilma frente ao “golpe’’ tramado pela “onda conservadora”. Mas Dilma não é o “mal menor” à qual temos que salvar do congresso e do Cunha. Sem cair nas manobras destes setores, nem nas do governo, o partido tem que ter como referência os milhões que não aguentam mais Dilma, nem o PT nem o PMDB, mas também não querem a volta dos tucanos e não enxergam alternativa.
Eles devem ser nossa referência, e não o “diálogo” com uma burocracia decadente, que ganhou a rejeição de 90% da população. Se algum grupo saudável resta ainda no PT ou algum parlamentar honesto que conseguiu ficar no PT, pese a estar no “volume morto” sem ser contaminado, devemos discutir caso a caso sua filiação no PSOL. Temos certeza que não virá da superestrutura podre do PT o pessoal combativo que fortalecerá o PSOL. Será nas lutas concretas, onde se manifesta a ruptura com o governo, que o PSOL precisa atuar para ter influência política em setores de massas. Neste sentido e resguardando as devidas distâncias e diferenças, é útil que o partido lembre as resoluções do 2º Congresso da IIIª Internacional, ainda na época de Lênin e Trotsky: “os partidos comunistas devem rejeitar implacavelmente os arrivistas que se aproximam do partido com o único propósito de ingressar no parlamento. Os comitês Centrais devem aprovar somente as candidaturas dos que tenham demonstrado durante anos sua lealdade com a classe trabalhadora”
3.3- Eleições de 2016: não podemos repetir Macapá
As próximas eleições são municipais. O PSOL precisa ter clareza de seus objetivos ao ganhar uma prefeitura, pois estamos frente à possibilidade de avançar neste terreno uma vez que se ampliou a bancarrota do PT e existe um amplo espaço para a esquerda. No entanto, esta oportunidade pode significar um salto positivo para o Partido ou um brutal retrocesso se não discutirmos qual é a nossa estratégia.
Nesta época de crise e cortes, ajustes e austeridade impostos pelo capital, é ainda mais importante ressaltar: o PSOL NÃO ASSUME GOVERNOS PARA SERMOS BONS ADMINISTRADORES DA CRISE CAPITALISTA como defenderam alguns dirigentes da US no último diretório nacional do PSOL. Hoje é isso que se faz em Macapá, onde numa coalizão com siglas da ordem se governa junto com a burguesia, enfrentando o povo, conforme corretamente afirma o Manifesto ao PSOL: “Criticamos também o que infelizmente ocorreu no governo de Macapá, pelo fato de o prefeito buscar um interdito proibitório contra a greve dos professores municipais”.
De nosso ponto de vista, estamos convencidos de que os prefeitos do PSOL devem ser honestos e ter uma atuação inteiramente transparente com o orçamento e demais responsabilidade do cargo (nomeações, secretariado, diárias, DA’s) debatendo tudo em assembleias populares imediatamente após o processo eleitoral vitorioso. Não podemos aceitar financiamento de empresas nem de empresários nas nossas campanhas eleitorais para sermos coerentes como nossas denuncias contra os partidos do sistema. Nem podemos aceitar qualquer tipo de alianças/coligações (formais ou informais) com partidos da ordem estabelecida, sejam próximos do campo petista ou aliados do bloco tucano. Para, além disso, devemos colocar a prefeitura a serviço dos setores explorados e oprimidos da população, para ajudar na sua luta, mobilização e politização, enfrentando leis capitalistas, como por exemplo, a LRF. Nossas vitorias políticas e eleitorais, conquistando administrações municipais, devem ser utilizadas como um ponto de apoio para as lutas e greves, potencializando a auto-organização dos trabalhadores e do povo para aplicação de nosso programa, colocando essas prefeituras a serviço da luta contra os planos de austeridade dos governos estaduais e central e utilizando esse espaço para fortalecer um pólo político e social de oposição de esquerda. Debate que devemos aprofundar nos diretórios estaduais, nos seminários e publicações da Fundação Lauro Campos, no jornal Página 50 e nas mídias eletrônicas do Partido, em direção à conferência eleitoral de 2016.