ARGENTINA | O sindicalismo combativo consegue frear a flexibilização
Por: Adolfo Santos, publicado em El Socialista N° 456. 22 de abril de 2020. Traduzido por: Pablo Andrada e Ivana Furtado
O transporte público de passageiros é um dos setores sociais mais expostos a transmissão do coronavírus, tanto para os usuários quanto para seus trabalhadores. No entanto, as autoridades do governo Fernández e das patronais, juntamente a burocracia sindical, estão constantemente tentando acabar com a quarentena agora “administrada”, segundo o governo, com o propósito de retornar massivamente ao trabalho. Sem considerar quem são os que realmente podem garantir serviços essenciais e sem levar em consideração todos os cuidados e prevenções que esse risco significa.
No trem Sarmiento, por exemplo, somente após muitas denúncias e lutas realizadas pelos delegados sindicais acerca da falta de materiais para higiene, desinfecção e proteção dos trabalhadores e da reivindicação que plantões mínimos seriam necessários para operar o serviço sem interromper a quarentena, que se começou a entregar os equipamentos necessários, higienizar as estações e vagões e autorizar a que os ferroviários maiores de 60 anos, os que sofrem de doenças e situações contempladas no decreto de isolamento, cumpram também a quarentena. Além do mais, foram feitos os diferentes plantões requeridos em cada um dos serviços. É um avanço na luta que continua ocorrendo cotidianamente, para que a patronal não viole o que foi acordado.
Essas conquistas que estão sendo obtidas são o resultado da luta do corpo combativo de delegados sindicais junto aos trabalhadores ferroviários. No entanto, a empresa Trenes Argentinos, com seu presidente Martín Marinucci no comando, tentou flexibilizar o trabalho dos ferroviários e jogar a culpa dos problemas existentes no serviço nas ações dos dirigentes e delegados.
Na semana passada, diante da raiva e da indignação geradas por fotos divulgadas pelos representantes sindicais, onde é possível ver como viajavam os trabalhadores superlotados e sem respeitar o protocolo de distanciamento no trem, Marinucci declarou que era culpa dos “sindicalistas liderados por Sobrero, que colocam paus nas rodas”. E para demonstrar a responsabilidade de Sobrero na redução dos serviços, Marinucci declarou em toda a mídia que o líder do Sarmiento “não aceitava aumentar a jornada de trabalho dos guardas para oito horas, como ele já tinha combinado com Sergio Sasia, secretário geral de União Ferroviária”, mostrando a olho nu a nova traição dos dirigentes da peronista chapa Verde da UF.
“Os trabalhadores estamos dispostos a fazer funcionar o serviço, isso é o que temos feito de maneira responsável, o que não podemos aceitar é uma flexibilização trabalhista encoberta, aproveitando a quarentena”, respondeu imediatamente Sobrero, desmascarando a manobra da patronal junto com a burocracia. Enquanto Sasia e La Verde aceitavam essa proposta vergonhosa, a liderança Bordô do Sarmiento propôs rejeitar essa negociação através de uma votação nas urnas. O resultado: 100 dos 130 guardas presentes disseram Não à flexibilidade acordada entre a patronal e a burocracia! Diante da firmeza dos trabalhadores, a patronal teve que recuar e a burocracia, diante da indignação de sua própria base, agora terá que dar explicações acerca desse nefasto acordo.
O sindicalismo combativo não aceita flexibilizar os direitos dos trabalhadores em nome da emergência. Nem cortes salariais, nem suspensões, nem demissões, nem aumento da carga de trabalho para garantir os lucros da patronal como estamos vendo na Uocra (construção civil), nos petroleiros, em Smata (mecânicos), na UOM (metalúrgicos) e agora pretendem fazê-lo com os ferroviários. Para que os trens funcionem de acordo com o protocolo, o governo também deve resolver os problemas econômicos dos trabalhadores que precisam levar seus meios de subsistência para casa todos os dias e ainda não têm recebido ajuda. Desse jeito, se conseguiria reduzir o número de passageiros. Além disso, Marinucci e os diferentes setores da empresa deveriam colocar em prática as propostas dos delegados combativos para que circulem mais trens, em vez de tentar romper a quarentena com a flexibilização dos trabalhadores ferroviários.
Somos contrários a que pretendam descarregar a crise nas costas dos trabalhadores. Repudiamos os líderes sindicais burocráticos que fazem acordos com a patronal para reduzir salários e direitos, além de não consultar as bases. Vamos continuar lutando e agregando ao campo do sindicalismo combativo os novos dirigentes que vão surgindo dessas lutas. Precisamos construir um sindicalismo combativo e democrático que atue de forma independente em relação ao governo e à patronal. Durante a quarentena e após a pandemia, os problemas terão se multiplicado. Por isso, mais do que nunca, precisamos de uma nova direção que esteja no nível das necessidades dos trabalhadores.