ARGENTINA | Taxar as multinacionais e deixar de pagar a dívida pública para combater a pandemia
Publicado em 15 de abril de 2020, em El Socialista N° 455
El Socialista entrevistou o “Pollo” Sobrero, secretário geral da União Ferroviária da Seção Grande Buenos Aires Oeste, dirigente da Izquierda Socialista e importante referência nacional do sindicalismo combativo.
Qual é a primeira reflexão que você tem a nos dizer?
– Antes de tudo, quero transmitir a solidariedade de meus companheiros da Ferrovia Sarmiento aos trabalhadores demitidos do frigorífico Penta. Repudiamos a repressão ali acontecida. Além do mais, pedimos ao presidente Alberto Fernández que deixe as palavras para outro momento e reaja contra esse tipo de empresário escravocrata, como Ricardo Bruzzese, proprietário do Frigorífico Penta. Caso Bruzzese não recuar e ceder às demandas dos trabalhadores, que o frigorífico seja estatizado para que todos vejam que o que presidente diz é sério.
O presidente anunciou a extensão da quarentena, que opinião você tem disso?
– Nós concordamos com a quarentena, levando em consideração todas as precauções necessárias. Fernández propôs uma quarentena mais longa e com mais controles, mas é evidente que começou uma flexibilização trabalhista parcial ao incorporar novas atividades às já permitidas. A quarentena deve ser sem fome, demissões ou cortes salariais e que haja dinheiro para que os milhões de trabalhadores e setores populares que a estão garantindo em massa a façam sem problemas. É preciso priorizar a vida acima dos lucros da patronal.
O que você acha da posição da CGT (Confederação Geral do Trabalho)?
– A CGT tem a mesma posição que a grande patronal, de que todos retornem a trabalhar de qualquer jeito, sem se importar no fornecimento de suprimentos para evitar contágios. Eles são a favor de pactuar com a patronal cortes salariais e demissões, com a desculpa da crise econômica causada pela pandemia. A burocracia sindical não luta para defender a saúde dos trabalhadores, pois é aliada a grandes empresários e defende seus lucros. Por isso não diz nada de todos os canalhas quando demitem como na empresa Techint ou no frigorífico Penta.
Um dos setores mais expostos é o dos trabalhadores do transporte…
– Obviamente, nos primeiros dias da quarentena recebemos elementos de higiene e segurança fora da validade que nós recusamos. Logo, nos negamos a realizar tarefas sem proteção contra o coronavírus. Ridículo, pois estamos falando de uma empresa estatal. Agora, eles nos ameaçam com descontos de horas e dias, porque lutamos contra a patronal e a burocracia sindical da chapa Verde (peronista) para garantir o serviço de trens com um cronograma de plantões mínimos, de acordo com o decreto presidencial, e exigimos que a empresa cumpra os protocolos de segurança para nos proteger da pandemia.
Como estão funcionando os trens?
– Se os trens não forem perfeitamente desinfetados, eles não vão partir da estação, custe o que custar, mesmo que isso leve a um conflito com a empresa. No trem viajam trabalhadores, nossos vizinhos, nossos amigos, nossa família. Não viajam empresários como Grobocopatel ou Paolo Rocca (dono da Techint).
A patronal, juntamente com a burocracia Verde de Sásia, pretende quebrar a quarentena?
Sim, muitos companheiros têm recebido citações da empresa, informais, via WhatsApp no último final de semana. Nós somos contrários a qualquer decisão tomada pela empresa Trenes Argentinos, junto à burocracia da chapa Verde, que pretenda forçar a presença massiva de trabalhadores para prestar serviços, rompendo a quarentena. Não nos opomos a que circulem mais trens, mas podem circular mais vagões com uma quantidade de trabalhadores onde aqueles que não são afetados pelo serviço cumpram a quarentena. Não queremos nos tornar agentes de transmissão do coronavírus. É uma luta contínua que estamos dando, mais uma vez com o pessoal da chapa Verde ao lado da patronal, do corpo de delegados junto aos trabalhadores ferroviários, para garantir que os diagramas de emergência que temos combinado com a empresa sejam cumpridos. Temos conseguido avançar em alguns serviços e em outros continuamos lutando.
Um último pensamento, “Pollo”
– Como eu dizia, fala-se muito da pandemia, de que devemos cuidar de nós mesmos, só que é da boca para fora. Isso que a empresa quer fazer agora o está demonstrando. Eles procedem como qualquer empresário que demite, corta salários ou flexibiliza aproveitando a crise. Não é possível derrotar o coronavírus com mais miséria. Aqui temos uma pandemia e o mais importante é a vida do povo trabalhador.
É preciso destinar mais fundos para combatê-lo de forma íntegra. Esse dinheiro deve sair da taxação dos grandes empresários, das multinacionais e do não pagamento da dívida externa.
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