Grécia: Syriza cede as pressões do FMI e da União Europeia
| Miguel Sorans (dirigente da UIT-QI)
O governo do Syriza, liderado por Alexis Tsipras, que se reivindica de esquerda, acabou cedendo e pactuando novos ajustes contra o povo grego. A ala esquerda do Syriza se opõem e denúncia esse pacto, assim como outros setores da esquerda grega.
Durante o mês de junho ocorreu encontros decisivos que colocariam em jogo se a Grécia continuaria pagando a dívida externa com os ajustes contra o povo e se continuaria sob controle da chamada Troika: FMI, União Europeia (UE) e o Banco Central Europeu.
A Troika estabeleceu como último prazo para fechar um acordo o dia 22 de junho. O governo do Syriza cedeu, acordando um novo ajuste contra o povo grego. O primeiro ministro Tsipras anunciou que voltaria a cortar aposentadorias e elevar o IVA (imposto sobre o consumo) o que significa menor poder de compra e aumento do custo de vida, com o aumento de preços. A reforma das pensões e aposentadorias leva a um corte que eleva a idade de aposentadoria de 65 para 67 anos. O Syriza aceitou a imposição da Troika de novos cortes sociais, o objetivo é claro: seguir ajustando o povo trabalhador para continuar pagando a dívida e saqueando o país para pagar os banqueiros da União Europeia. Com o acordo, em troca a Grécia receberia um novo empréstimo de 7.200 milhões de euros, o “segundo resgate”. A suposta ‘ajuda” é uma nova forma de atar a Grécia ao imperialismo alemão e a UE, com mais dívida externa, que é impagável e acaba com a soberania do povo trabalhador grego.
O Syriza venceu em janeiro as eleições com o claro desejo popular de pôr fim ao “Memorando”, ou seja os contínuos ajustes antipopulares que esteve submetido a economia grega nos últimos anos. Com uma queda de 25% do PIB, o desemprego subiu 27% e os cortes de salários, aposentadorias e gastos sociais supera em muitos casos os 40%. Cifras realmente criminosas, um verdadeiro genocídio social.
Nem bem assumiu, no começo desse ano, e o governo do Syriza foi deixando de lado as aspirações do porque foi eleito. Iniciou as negociações com a odiada Troika, à qual começou a chamar de "as instituições" com a explicação de que poderia encontrar uma “solução” em que “todos ganhassem”. Com essa política o governo pagou nesses meses 1.800 milhões de euros e postergou sua promessa de aumento do atual salário mínimo de 684 euros para o valor anterior de 751 euros (valor muito baixo, em relação aos atuais preços europeus) e continuou com as privatizações.
Os resultados dessa política equivocada estão à vista. O FMI e a Troika nunca deixaram de pressionar, enquanto os banqueiros gregos tiveram as mãos livres para organizar uma fuga de capitais que equivale a 3.000 milhões de euros, na última semana.
A única alternativa é romper com a Troika e deixar de pagar a dívida
As medidas que visam pactuar com o FMI, já ficou demonstrado que não servem para a classe trabalhadora e os povos. Esta política fracassou na América Latina e volta a fracassar na Grécia, governos de centro-esquerda e reformistas que terminam conciliando com os banqueiros e as multinacionais. Um claro exemplo desse tipo de governo é o PT do Brasil, de Lula e Dilma Rousseff que pagam a dívida, pactuam com o FMI e aprofundam a miséria e a corrupção. Hoje são repudiados pelas suas próprias bases operárias e populares. Tsipras e o Syriza estão seguindo essa mesma receita.
A única saída para o povo grego é seguir lutando para impor uma ruptura definitiva com a Troika, a UE e para deixar de pagar a dívida externa, essa é a forma para superar a crise humanitária que passa a Grécia, defender as aposentadorias, aumentar os salários e investir a saúde e educação. Junto a essas medidas é preciso nacionalizar os bancos e o comércio exterior para cortar a fuga de capitais, é necessário um plano econômico de emergência que garanta os anseios dos trabalhadores e do povo.
Essas propostas são reivindicadas por amplos setores da esquerda grega. No domingo, dia 21, milhares de pessoas se concentraram nas ruas de Atenas, convocadas por muitos desses setores, para repudiar o possível acordo e defender a saída da União Europeia.
Na última reunião do Comitê Central do Syriza, em fins de maio, 44% dos dirigentes (75 de um total de 170) votaram romper as negociações com a Troika, defenderam a suspensão do pagamento da dívida e a nacionalização dos bancos. Frente ao anúncio do novo pacto vários deputados e representantes da esquerda, integrantes da tendência Plataforma de Esquerda rejeitaram publicamente o acordo.
A organização OKDE (Organização Comunista Internacionalista, trotskista) defende, entre outras consignas: Romper as negociações com a UE e o FMI Já!; Nenhum compromisso com os chantagistas da UE e FMI!; Não pagar a dívida!; Sair da zona do euro e da UE!; Nacionalização dos bancos sob controle dos trabalhadores; Readmissão de todos os demitidos!; Recuperação dos salários e das aposentadorias!
Ao mesmo tempo convocam a preparar uma mobilização unitária, sair as ruas e ocupar as praças contra o acordo com a Troika.
Esse é o caminho para romper esse novo pacto com o FMI e a Troika e para impor uma mudança de fundo, para que os ricos paguem pela crise e não os trabalhadores. Na Grécia segue uma luta decisiva contra os planos de ajuste que o imperialismo e o FMI querem impor por todas as partes. Se o povo grego vencer e derrotar o plano de ajuste, ganharão todos os trabalhadores. Por isso, hoje mais do que nunca é necessário a solidariedade internacional com a luta do povo trabalhador grego e da juventude.