2 anos sem respostas: justiça para Marielle!
Quem foi Marielle?
Marielle Franco foi uma mulher negra, lésbica, moradora da favela da Maré. De 2007 a 2016 compôs a equipe do mandato do então deputado estadual pelo PSOL RJ, Marcelo Freixo. Durante essa experiência, contribuiu com o importante enfrentamento às milícias que o mandato de Freixo corajosamente protagonizou.
Marielle foi eleita em 2016, na primeira eleição pós-primavera feminista. Sua campanha foi fortemente marcada pela defesa dos direitos humanos, dos direitos das mulheres e da negritude. Foi a quinta vereadora mais votada, com expressivos 46 mil votos.
Uma noite que não terminou – por que tiraram a vida de nossa companheira?
Em 14 de março de 2018, foi brutalmente assassinada junto com seu motorista Anderson Gomes. Seu assassinato causou enorme comoção no Brasil e no mundo. E causa perplexidade, às vésperas de completar 2 anos de seu assassinato, seguirmos sem saber quem são os mandantes do crime e porque Marielle foi assassinada.
As circunstâncias do assassinato que vitimou Marielle e Anderson nos levam a crer que foi um crime político. As investigações apontam que a munição utilizada pertencia à um lote que havia sido vendido à Polícia Federal, material que não pode ser vendido a civis. Além disso a perícia concluiu que as munições que mataram Marielle pertenciam ao mesmo lote dos projéteis utilizados na maior chacina da Grande São Paulo, que vitimou dezessete pessoas em 2015. Três policiais militares foram condenados por esses crimes.
Nos meses que se seguiram ao crime foram feitas inúmeras reportagens que indicaram erros na condução das investigações. Testemunhas foram dispensadas pela Polícia Militar no local do crime; o carro aonde estavam Marielle e Anderson foi abandonado por 40 dias no pátio da delegacia sem que todas as perícias tivessem sido feitas; os corpos de Marielle e Anderson não passaram por exames de raio X; a arma utilizada pelos assassinos são de uso de tropas de elite, não sendo facilmente apreendidas com criminosos; as câmeras da Prefeitura na rua do crime foram desligadas dias antes do duplo homicídio.
As investigações avançaram um pouco mais em 2019, quando se revelou o envolvimento do Sargento militar reformado Ronnie Lessa e de Élcio de Queiroz como os executores do crime. Ronnie é acusado de executar os disparos e Queiroz dirigia o carro. Os dois eram ligados ao “Escritório do Crime”, organização criminosa que agrega policiais e ex-policiais que cometiam homicídios em troca de dinheiro. Apesar desse inegável avanço nas investigações, até hoje não foram revelados os mandantes e os motivos do crime.
Todos os indícios apontam envolvimento dos acusados com a família Bolsonaro
Causa perplexidade, até hoje, os fatos que ligam o presidente da república e seus filhos e os executores de Marielle e Anderson. Élcio de Queiroz esteve no condomínio Vivendas da Barra, para se encontrar com Ronnie Lessa, horas antes do crime, e os depoimentos do porteiro revelam que os dois criminosos solicitaram entrada para a casa de Jair Bolsonaro. As perícias feitas no equipamento de controle de entrada e saída do condomínio foram criticadas por diversos profissionais da área. A mudança no depoimento do porteiro sugere que o envolvimento de políticos poderosos, no país da impunidade, pode ser real.
São inúmeras as ligações dos envolvidos no crime com a família Bolsonaro. Élcio esteve no condomínio de Bolsonaro e Ronnie diversas vezes no ano de 2018. Um dos filhos de Bolsonaro se envolveu com a filha de Ronnie. São igualmente inaceitáveis as relações políticas de Queiroz (ex-assessor de Flávio Bolsonaro) e Ronnie Lessa com a família Bolsonaro.
O caso Adriano – a quem interessa vê-lo executado?
Em fevereiro desse ano, pouco antes de completar 2 anos desse crime político, fomos surpreendidos com uma operação policial na Bahia, em conjunto com a PM de Witzel. Essa operação matou, em suposto confronto, o Capitão Adriano. Adriano Magalhães da Nóbrega, é apontado como chefe do grupo de assassinos profissionais conhecido como “Escritório do Crime” no Rio de Janeiro. Adriano era ex-capitão do BOPE da PMRJ e sua execução levanta suspeitas de que houve uma tentativa de “queima de arquivo” de uma peça chave para compreender o assassinato de Marielle e Anderson.
Apesar de negarem ser próximos de Adriano, Jair e Flávio Bolsonaro precisam se explicar para a população brasileira. Adriano recebeu elogios do então deputado Federal Jair Bolsonaro, ainda em 2005. Mas suas relações não são apenas dessa época. A mãe e a esposa de Adriano foram lotadas no gabinete de Flávio Bolsonaro até 20.12.2018, momento que ficaram publicas as denúncias envolvendo Fabricio Queiroz, a quem as duas repassavam parte do seu salário de assessoras. Fabricio Queiroz ficou escondido em Rio das Pedras, território controlado pelo miliciano Adriano da Nóbrega. A filha de Fabrício, por sua vez, foi assessora de Jair Bolsonaro até 2018, quando encerrou seu último mandato de parlamentar federal. Muitos laços fortalecem as correntes de relações entre Fabrício, Adriano e a família Bolsonaro.
É necessário exigir de Rui Costa (PT), governador da Bahia e de sua polícia, que explique por que Adriano foi executado enquanto estava sozinho em uma casa isolada, sem reféns e sem oferecer maiores riscos. O que explica a PM invadir a casa em que estava Adriano? Por que entraram atirando para todos os lados se a casa estava cercada por 60 policiais?
O papel do PSOL – ir às ruas exigir justiça! Quem mandou matar Marielle e por quê?
É papel do PSOL promover atos em todas as cidades na data em que se completam 2 anos do assassinato de Marielle e Anderson. É tarefa do partido, já que Marielle era militante e figura pública, animar uma mobilização permanente, que lute por justiça para Marielle e Anderson, com a exigência que se apure quem foram os mandantes e porque interessava silenciar nossa companheira. Se não podemos afirmar quem foram os responsáveis, por outro lado não podemos descartar o envolvimento de ninguém nesse condenável episódio.
É urgente uma investigação ampla e independente que possa alcançar os verdadeiros mandantes desse crime. Defendemos a criação de uma comissão independente, formada pelos familiares de Marielle, a ABI, OAB, Anistia Internacional, representantes do movimento de negros e negras, LGBTQI+ e feminista, a comissão de Direitos Humanos da ALERJ, o PSOL.
Às vésperas de completar 2 anos desse crime político, exigimos justiça para Marielle e Anderson, e permaneceremos nas ruas até que as autoridades respondam porque foram brutalmente assassinados e quem são os mandantes do crime.