O Exército Vermelho tomou Berlim há 70 anos; este foi o fim da segunda Guerra Mundial

| Mercedes Petit

Em dois de maio de 1945 capitulavam os nazistas na capital da Alemanha. Depois de quase seis anos de horrores, com imensos sacrifícios, foi derrotada a máquina de destruição do Terceiro Reich. A derrota do nazismo foi o maior triunfo revolucionário e democrático em toda a história da humanidade.

A segunda guerra mundial começou em setembro de 1939 desde de que os exércitos de Hitler invadiram a Checoslováquia. Itália e Japão se somaram aos nazistas. França foi ocupada em 1940 e Inglaterra começou a ser duramente bombardeada. Em junho de 1941 iniciou a invasão da URSS. Em dezembro do mesmo ano bombardearam Pearl Harbor, obrigando os EUA a e entrar na guerra. O Terceiro Reich encabeçava a intenção de impor regimes de brutal superexploração aos países conquistados e tirar do mapa a União Soviética, onde, apesar da ditadura burocrática de Stalin, mantinha-se as bases socialistas do grande triunfo revolucionário de 1917.

De Stalingrado até a Alemanha

Em 1940-1942, o mapa de quase toda a Europa e de boa parte da antiga URSS era ocupado com os exércitos de Hitler e do fascismo, que tinham conseguido uma grande expansão. A máquina bélica de Hitler era difícil de parar. A condução burocrática de Stalin havia facilitado o avanço do nazista quando em agosto de 1939 fez um pacto de "não agressão" com Hitler e repartiram a Polônia. Menos de um ano depois, os exércitos alemães começaram a invasão da URSS. Arrasaram Kiev, Minks e outras cidades, e chegaram às portas de Moscou, ocupando Stalingrado ao sul e sitiando pela fome a Leningrado sobre o mar Báltico.

Quase um terço do território da URSS foi invadido, e as penúrias sofridas pelo povo soviético pela crueldade dos alemães eram infinita. No entanto, foram recuperando as forças. A reação das massas russas e do Exército Vermelho foi mudando a situação.

A URSS (que teve 22 milhões de mortos) jogou um papel de primeira importância na derrota de Hitler, que é minimizado ou diretamente ocultado entre muitos historiadores e pelos sucessivos governos dos "aliados"*. Em fevereiro de 1943 se produziu a primeira grande vitória: a rendição dos nazistas que ocupavam Stalingrado. Este foi o ponto de inflexão na guerra. Com ferozes combates, enormes sofrimentos e os desastres próprios da ditadura de Stalin, o Exército Vermelho foi recuperando terreno, fazendo retroceder os nazistas palmo a palmo.

As massas da Europa central e ocidentais desde fevereiro de 1943 começaram a recuperar-se e a resistir. Em Polônia se deu o levantamento do gueto de Varsóvia em abril de 1943 e de toda a cidade em agosto de 1944 (deixada abandonada por ordem direta de Stalin, que manteve suas tropas fora do país). Os maquis (grupo da resistência francesa) em França, os partisanos (guerrilha de resistência aos nazis) em Itália, a guerrilha antinazista em Grécia e Yugoslávia foram se fortalecendo. Ingleses e estadunidenses em junho de 1944 finalmente desembarcaram na Normandia. A resistência libertou Paris em agosto deste ano.

A batalha de Berlim

Em 14 de abril de 1945 o Exército Vermelho chegou a Berlim e começou a batalha final. Houve uma tentativa encarniçada, no entanto, inútil, de resistir. Enquanto isso, em Itália, em 28 de abril, Benito Mussolini foi capturado e fuzilado pelos partisanos do partido comunista. Por sua parte, Hitler, que havia tentado seguir dando ordens irrealizáveis, se suicidou em seu quartel general, junto a Eva Braun, em 30 de abril, ordenando que seus restos mortais fossem incinerados de imediato.

Em dois de maio o comandante encarregado da defesa da cidade confirmou a rendição perante os generais soviéticos. O horror havia sido derrotado, mas com um custo altíssimo para os soviéticos: nesta última batalha tiveram quase 80 mil mortos e 270 mil feridos. Diferentes historiadores apontam que a condução burocrática de Stalin e seus generais foi um fator importante para aumentar os mortos entre os soldados do Exército Vermelho.

Em oito de maio se realizou uma cerimônia com a presença de generais ingleses, franceses e estadunidenses, que junto ao marechal soviético Zhukov assinaram uma ata com a definitiva derrota do alto comando alemão. A guerra havia terminado.

A traição dos partidos comunistas

Os governos e os exércitos das potências imperialistas e a burocracia soviética que enfrentaram ao nazismo iam fechando distintos pactos a medida que avançavam sobre as forças alemães. Todos coincidiam em garantir a reconstrução capitalista-imperialista da Europa, repartindo-se entre eles "esferas de influência", quer dizer, territórios onde predominavam uns e territórios onde predominavam outros.

A figura de Stalin se fortaleceu muito a partir daquele tremendo e histórico triunfo contra os nazista. Seu objetivo era liquidar todo avanço de novos triunfos revolucionários e socialistas. Assim poderia consolidar e estender o domínio da burocracia soviética, impondo outros ditaduras em países ocupados pelo Exército Vermelho na Europa do leste (parte da Alemanha, Polônia, Checoslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária). Em França e Itália se consumaram colossais traições. Ali a massiva resistência antinazista (maquis e partisanos) estava armada e eram dirigidas pelos partidos comunistas. Estes estavam em condições de impulsionar o triunfo de novas revoluções e impor governos operários e socialistas em estes países chaves.

A ordem do todo poderoso Partido Comunista da URSS foi de entregar as armas e somar-se à reconstrução capitalista, formando governos de unidade com os principais partidos políticos da burguesia, como a democracia cristiana em Itália ou apoiando o gaullismo em França. Em Grécia permitiram que as tropas britânicas derrotassem aos guerrilheiros que haviam sido decisivos na expulsão dos ocupantes alemães.

Nas conferências de Yalta (na península da Crimeia) em 1943 e de Potsdam (em Berlim) em 1945, Stalin reuniu com o britânico Churchill e o yanqui Roosevelt primeiro, e depois com Truman, para assinar esses acordos contrarevolucionários.

O fim da segunda guerra: um triunfo histórico

A partir de 1943, a recuperação das massas russas e europeias, que dois anos depois permitiu derrota ao nazismo, abriu uma etapa de enorme ascenso mundial. O próprio Stalin não pode sustentar totalmente seu compromisso com Churchill e Truman, e a burguesia foi expropriada em parte da Europa oriental ocupada pelo Exército Vermelho. Os impérios britânico e francês desmoronaram. Libertaram-se grande parte das colônias, começando pela maior delas, a Índia. E em 1949 triunfou uma revolução socialista no país mais populoso do mundo, a China. A burguesia foi expropriada em um terço da humanidade. De todos os modos, a pesar do vigoroso ascenso das lutas e grandes vitórias, o pacto entre a burocracia soviética e o imperialismo permitiu a sobrevivência do capitalismo.

Holocausto

Nos inícios do século 20 se abriu a época história do imperialismo. É a fase decadente do sistema capitalista, que nasceu banhada de sangue com a carnificina entre os países imperialistas que estiveram à frente da primeira guerra mundial. O choque entre a revolução e a contrarevolução adquiriu uma envergadura planetária. Em Rússia se deu um grande triunfo da primeira revolução socialista operária e camponesa, e se fundou a URSS. No outro pólo, começou a se desenvolver o extremo da contrarevolução burguesa: o fascismo e logo depois o Terceiro Reich de Hitler, que tomou o governo da Alemanha em 1933.

O nazismo foi a intenção monstruosa de impor uma novo sistema de superexploração escravista, racista e genocida. Surgiram os campos de extermínio e de mão de obra escrava, onde foram parar os judeus em primeiro lugar (calcula-se que houve seis milhões de vítimas no Holocausto), mas também os poloneses, os ciganos, os militantes de esquerda, os intelectuais antifascistas e os soldados prisioneiros. O trabalho esgotante, a fome e as câmaras de gás funcionaram durante anos. Nunca, nem antes nem depois, a humanidade viveu um terror semelhante e em tão grande escala. A mobilização das massas foi o que gerou a derrota desse modelo, e esse triunfo segue sendo a grande vitória democrática conquistada pela humanidade.

http://izquierdasocialista.org.ar/components/com_jce/editor/tiny_mce/plugins/anchor/img/anchor.gif) 50% 50% no-repeat;">*Um dos historiadores que melhor documenta o decisivo papel do Exército Vermelho na vitória sobre o Terceiro Reich é Norman Davies, no livro "Europa em guerra" (1939-1945), Planeta, 2013.