Argentina: grande paralisação nacional contra o governo

Vamos por 36h de greve!!! | Esquerda Socialista*; Foto: Reuters

Cumpriu-se com êxito a quarta paralisação geral contra o governo de Cristina Kirchner. Foi uma grande paralisação na maior parte do país: no transporte, nos bancos, nas escolas e em grande parte da indústria. Houve mobilização também em outros ramos da economia. O dia de paralisação foi acompanhado por protestos do sindicalismo combativo e da esquerda

A campanha do governo de que estavam parando somente uma "minoria privilegiada" (aos quais se aplicam o imposto sobre os salários), fracassou. Em primeiro lugar, porque pararam milhões que recebem uma miséria.

Quando Kicilloff disse que somente a 10% dos trabalhadores desconta-se esse novo imposto, reconheceu que os outros 90% recebem salários de pobreza. Se milhões de trabalhadores pararam, quer dizer que o fizeram não só os que ganham 15.000 pesos bruto – que, explique-se, só ganham para cobrir os custos básicos de vida.

Que Cristina diga em cadeia nacional que a paralisação só ocorreu porque "não houve transporte", é porque tenta desvirtuar o enorme repúdio que se expressou contra seu governo. A paralisação foi um claro pronunciamento nacional do conjunto da classe trabalhadora. Foi também uma paralisação contra os políticos opositores que, onde governam, aplicam a mesma política, ou fazem promessas de aumentar o valor mínimo para os impostos, como Macri e Massa, mas não de revogar este imposto, como propõe a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores.

A paralisação foi contundente porque milhões ganham somente 5.500 pesos, os salários seguem abaixo da inflação, o governo quer impor um teto de 30% nas paritárias, rouba com impostos os salários de mais de um milhão de trabalhadores e porque o trabalho clandestino e precário se consolidou em uns 40%.

Os ministros de Economia e do Trabalho, Carlos Tomada e Aníbal Fernández, quando saíram a defender o imposto ao salário, jogaram mais lenha ao fogo da paralisação. A mentira de que o imposto serviria para dividir este dinheiro com os pobres, cada vez se crê menos. Todos sabemos que o governo o cobra para pagar a dívida externa e subsidiar empresários amigos. E se colocar algo deste roubo para o abono família ou planos sociais, está indicando que o kirchinerismo está tirando dos trabalhadores para dar aos mais humildes, ao invés de tirar dinheiro do setor financeiro, aplicar um imposto às grandes fortunas, multinacionais e bancos, além de deixar de pagar a fraudulenta dívida externa. Só com estas medidas se poderia conceder salários e aposentadorias dignas; moradia; saúde e educação, não roubando os trabalhadores. Por tudo isso a paralisação foi contundente – e não só do transporte – e mais do que controlam os dirigentes.

Fracassou a campanha do governo para desmontar a paralisação com negociações e ofertas de dinheiro para as obras sociais, e ajudas a empresários. Cristina não conseguiu que a UTA (sindicato dos rodoviários de Buenos Aires) não parasse, como aconteceu na greve anterior. Até a UOM de Caló (sindicato de metalúrgicos) e o sindicato oficialista de Daer, da indústria da alimentação, tiveram que dar "liberdade de ação" para suas bases, produto de que as reclamações por salário repercutem com muita força em suas bases, e mais ainda ante o desprezo do governo não lhes oferece nenhuma migalha.

A paralisação foi mais importante ainda se consideramos que houve que contar com a sorte por causa das limitações da convocatória e isso o torna muito mais significativa. Se bem a paralisação do transporte foi anunciado desde um mês atrás, nunca se soube com certeza se ia se cumprir ou não. Os dirigentes estiveram negociando com o governo até uma semana antes. A CGT Moyano, que vinha dizendo que não ia aderir, o fez no último momento quando viu que a paralisação do transporte ia ser forte, e só então a medida se tornou mesmo uma greve geral.

É evidente que não foi uma paralisação preparada, debatida e discutida na base. Se se houvesse feito dessa forma, não só teria sido mais contundente, como também que haveria permitido abrir o debate no conjunto dos trabalhadores sobre as reivindicações a defender e, essencialmente, sobre como seguir a luta. Coisa que temos que reclamar agora. Isto contrasta com o que fez o sindicalismo combativo. Os ferroviários do Sarmiento fizeram uma assembleia massiva na segunda-feira, debateram a paralisação e votaram por unanimidade pela adesão. Com esta política também aderiu à greve o Encontro Sindical Combativo.

Temos que exigir que a CGT Moyano (e a CTA Michelli) convoquem uma nova greve um plano de luta nacional. Moyano deixou passar sete meses desde a última paralisação geral anterior (agosto de 2014) até convocar o da semana passada. Moyano também levantou a greve do final do ano passado, ante o anúncio parcial de Cristina de não descontar nos bônus trabalhistas. No entanto, o roubo salarial seguiu e milhões de trabalhadores agora estão muito pior.

Na coletiva de imprensa da CGT Moyano onde se fez o balanço da paralisação, Barrionuevo propôs levar ao próximo espaço de reunião da confederação a reivindicação de uma nova paralisação de 36 horas, com mobilização à Praça de Maio. Consultado, Moyano disse sobre a proposta: "Estamos mais pelo sim à mobilização de 36 horas do que pelo não". Mas quem vai decidir como segue a luta e com quais medidas? Os dirigentes entre quatro paredes ou os trabalhadores? As bases são as que devem debater e resolver como se dará a continuidade a esta nova grande paralisação.

Chamamos a CGT Moyano que leve a proposta de paralisação de 36 horas ao conjuntos dos trabalhadores e sindicatos para que a debatam desde agora em assembleia e plenárias de delegados. Está claro que faz falta um plano de luta com mobilização para torcer ao braço o ajuste de Cristina e os governadores, e se se quer garantir um aumento de salários e aposentadorias de acordo com as necessidades básicas de uma família; anular o imposto ao salário e que se reabram as negociações salariais, entre outros reclamações. Se não vamos a uma medida separadora, como se vai ganhar do governo e dos patrões?

Como disse a declaração previa do Encontro Sindicativo Combativo previamente ao ato: "Há que exigir que a CGT Moyano e CTA Autónoma deêm continuidade com uma nova paralisação geral ativo de 36 horas como mobilização à Praça de Maio e todas as praças do país, que garantam um plano nacional de luta para derrotar o ajuste e que paguem os monopólios, as grandes corporoções, os latifundiários, os bancos que muito enriqueceram na década kirchinerista.

*Esquerda Socialista é um partido argentino, integrante da Unidade Internacional do Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI), organização internacional da qual faz parte da CST-PSOL do Brasil.