Entrevista com pré-candidato do PSOL carioca, vereador Renato Cinco

Na edição n° 104 do jornal Combate Socialista entrevistamos o vereador Renato Cinco (PSOL-RJ), pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro. Aqui ele explica a necessidade de uma ampla unidade de ação ao mesmo tempo em que defende a construção de uma Frente de Esquerda e Socialista. Além disso contextualiza os debates em curso no PSOL.


Renato Cinco, sociólogo e vereador do Rio de Janeiro pelo PSOL.

“O desafio da verdadeira esquerda é formar um polo alternativo à direita tradicional e ao reformismo”

Combate Socialista Qual sua visão sobre o governo Bolsonaro/Mourão?

Renato Cinco É um governo de extrema-direita, com uma pauta ultraliberal no terreno econômico (privatizações, retirada de direitos sociais etc.), conservador em relação aos chamados costumes (mulheres, LGBTTs, drogas etc), ecocída quanto à natureza e autoritária no plano político. Sua eleição representou um salto no sentido do agravamento das piores características do capitalismo brasileiro.

Entretanto, apesar da violência dos ataques desferidos contra a natureza, os povos originários, a classe trabalhadora e a juventude, é um governo marcado pela instabilidade. Seu programa não é capaz de solucionar a crise nacional. Ao contrário, vai agravá-la.

Sem ter algo positivo para oferecer ao “andar de baixo”, sua gestão tem enfrentado importantes protestos, que podem aumentar no próximo período. A maior tarefa hoje dos trabalhadores e da juventude é derrotá-lo.

CS Na atual conjuntura, como atuam os maiores partidos e organizações da oposição?  

Renato Cinco Diante desse governo, é fundamental manter uma forte oposição nas ruas. Só ela pode derrotar Bolsonaro e Mourão e construir uma verdadeira saída para a crise nacional. Assim, o papel dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais é estimular e apoiar, com todas as suas energias, as mobilizações extraparlamentares.

Infelizmente, não é o que assistimos hoje. A cúpula das maiores centrais sindicais e os principais partidos de oposição não jogam peso nas mobilizações. Escolheram trilhar o caminho do pacto e da negociação, apostando todas as suas fichas no lento desgaste de Bolsonaro, tendo em vista a eleição de 2022. Vale lembrar que governadores do PT, PSB, PDT e PC do B apoiaram aspectos da reforma da previdência e que Flávio Dino, mandatário do Maranhão, concordou com a entrega da Base de Alcântara para o imperialismo estadunidense.

CS Você defende uma unidade de ação irrestrita e ao mesmo tempo discorda da frente ampla eleitoral? Não é contraditório?

Renato Cinco Não há contradição. Em defesa dos interesses dos trabalhadores e das liberdades democráticas, defendo a mais ampla unidade de ação. Porém, não se deve confundir a unidade de ação, que é sempre pontual e em geral defensiva, com a construção de uma Frente Política, permanente, que deve apresentar uma alternativa global para o país. Uma Frente Política exige um grau de unidade programática e afinidade política bastante significativo. Por exemplo, na unidade de ação contra a reforma da previdência foi correto estar junto do Paulinho da Força. Mas não tem cabimento algum imaginar que é possível apresentar uma saída para o Brasil em conjunto com ele. O grande desafio da verdadeira esquerda segue sendo formar um polo programático alternativo à direita tradicional e ao reformismo, com influência de massas.

CS As maiores lideranças da esquerda afirmam que uma frente de esquerda e socialista seria algo sectário. Qual sua opinião?

Renato Cinco Discordo. A construção de uma Frente de Esquerda e Socialista – formada por PSOL, PCB, PSTU e movimentos sociais combativos – é a única forma de apresentar uma alternativa global, socialista, para o país, com alguma capacidade de disputar as massas. Não é possível construir um programa anticapitalista, contra o “status quo”, com PT, PC do B, PSB, PDT, Rede, PV e afins. Esses partidos já deram inúmeras demonstrações de que não têm compromisso com a transformação radical do sistema. Isso fica evidente quando se leva em conta tanto o passado quanto o presente de tais partidos. Basta lembrar, entre outros exemplos, que Lula patrocinou, no início de seu primeiro governo uma reforma da previdência, retirando direitos, e que a população carcerária explodiu ao longo das gestões petistas, passando de 361,4 mil para 726,7 mil detentos, entre 2005 e 2016. Vale citar também, como exemplo recente, o caso da Bahia. O governador Rui Costa, do PT, cortou verbas das universidades estaduais e o ponto dos professores que entraram em greve para protestar contra tal medida.

Seria algo sectário se o PSOL apostasse em seguir sozinho, em faixa própria, rejeitando a unidade com outros setores que já deram várias demonstrações de que estão no campo do socialismo e da classe trabalhadora. A unidade dos socialistas tem como resultado mais do que a soma de suas das partes.

CS A direção majoritária do PSOL está costurando alianças amplas em vários estados. O que a militância de esquerda deve fazer?

Renato Cinco Acho que a militância do partido deve resistir, defendendo a Frente de Esquerda e Socialista e, sempre que possível, apresentando pré-candidaturas para os executivos municipais comprometidas com essa política. A política de alianças amplas vai descaracterizar o PSOL, colocando em risco o próprio sentido da sua existência. O PSOL surgiu para ser uma alternativa tanto à direita quanto à esquerda da ordem, liderada pelo PT. Surgiu para apontar uma saída socialista, radical, para o Brasil. Não para ser o “grilo falante”, a ala esquerda do bloco “menos pior”. Ao se conformar com tal papel, em vez de impedir o crescimento, o PSOL estará facilitando a vida da extrema-direita, que será a única força com peso social a se apresentar como “antissistema”.


A pré-candidatura de Renato Cinco é apoiada por Plinio de Arruda Sampaio (editor do Contrapoder), vereador Babá (PSOL-RJ) e CST), Liliana Maiques (Executiva do PSOL Carioca), COMUNA, Esquerda Marxista e CST. Para saber mais acesse https://manifestocinco.com/

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