Multidão repudia Governo Dilma nas ruas do país

Nota da CST-PSOL sobre os atos de 13 e 15 de março | Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST-PSOL)

No último domingo (15), mobilizações multitudinárias ocuparam as ruas e praças das principais capitais do país e de cidades do interior de SP e de outros estados, repudiando de diversas maneiras o governo Dilma. Destaque especial merece São Paulo onde os números variam de acordo a fonte entre 250 mil a 1 milhão de pessoas que participaram do protesto.

Com um programa difuso, o protesto expressou, sem dúvida, uma imensa insatisfação sobre tudo da classe média mas também em setores de trabalhadores de diversas categorias, que rompem massivamente com o governo e com o PT. As faixas ou bandeiras de impeachment ou a favor de um golpe de estado foram minoritárias, em alguns casos rejeitados pelos manifestantes. No Rio de Janeiro, Bolsonaro foi impedido de falar, e o mesmo aconteceu em São Paulo com Paulinho da Força Sindical.

No entanto, nós, da CST/PSOL, não fomos nem ao ato do dia 13 e como ao ato do dia 15. Mas não foi por não concordarmos com a justa indignação dos manifestantes do domingo, 15 de março, mas pela manipulação que tentaram e tentarão fazer os líderes e partidos da antiga direita, assim como os setores golpistas, ainda que sejam minoritários. Não fomos nem convocamos a participar de nenhum dos dois atos, pois tanto o do PT, quanto o que por baixo impulsionava o PSDB, não servem aos trabalhadores, pois são farinha do mesmo saco!

Se o ponto de maior atrito com o governo expresso nas ruas nesta ocasião foi a corrupção na Petrobrás, não podemos esquecer que por trás está o duríssimo ajuste contra os trabalhadores, a classe média e todos os setores populares que Dilma e seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tentam impor para que seja o povo quem pague pela crise econômica. Isso pudemos comprovar com os caminhoneiros que em São Paulo se somaram ao ato central reclamando contra o reajuste do preço do diesel.

O governo Dilma e o PT, já golpeados pela crise e pela quantidade de greves que sacodem o país, saem pior deste dia 15, pois não esperavam tanta gente nas ruas. Também, o dia 13 foi bem mais fraco do que o governo precisava, manipulado pelos “dirigentes” sindicais e populares governistas, que tiveram que dar um difuso tom de protesto contra algumas das medidas mais impopulares do governo por eles defendido.

Os “dirigentes” da CUT, do PT e até do MST, perderam credibilidade, representatividade e moral, pois são anos a tentar blindar um governo que se vendeu ao aos banqueiros e grandes empresários, afundou na lama da corrupção que outrora denunciara e tenta aplicar um ajuste contra o povo de dar inveja aos tucanos. Por isso tiveram que apelar aos esquemas de “militantes” pagos, quentinhas, etc. Ou seja, o dia 13 não salvou o governo e o dia 15 o golpeou ainda mais.

Mas a velha direita também não pode cantar vitória. Pois PSDB, PP e DEM não só não lideraram o protesto como não tem nenhuma política alternativa para apresentar aos manifestantes indignados. Se Dilma aplica o ajuste fiscal por eles defendido, também todos eles estão comprometidos em esquemas de corrupção, seja da operação Lava Jato, ou da compra de trens com propinas da Alstom em SP, ou do “aeroporto” que Aécio deu de presente para o seu tio, obviamente que pago com dinheiro público.

A coletiva de imprensa oferecida pelo governo protagonizada pelos ministros Cardozo e Rosetto, mostraram um governo sem nenhuma proposta real a fazer para os manifestantes.Eles reafirmaram que os protestos são democráticos, que estão atentos a ouvir as vozes das ruas, que estão abertos a propostas. Mas reafirmaram sua “luta” exemplar contra a corrupção, defenderam o ajuste necessário como “pequenas mudanças na economia para que tudo volte logo a andar bem”, pois agora o que nos prejudica é a crise mundial, e prometeram, como já o fizeram em 2013, frente aos levantes de junho, uma reforma política para que as empresas não possam contribuir com as campanhas políticas. Ou seja, um bla, bla, bla de um governo que não tem nada a oferecer a não ser negociar com os partidos o ajuste fiscal.

E os partidos burgueses da oposição nem pensam seriamente em impeachment da presidente. Pelo contrário, querem que o PT aplique a fundo o ajuste. Sua política é se queimarem o menos possível e sangrar o PT até as eleições de 2018. O problema é se o PT/PMDB com Dilma, Lula e Levy conseguirá chegar até lá, uma vez que faltam nada menos que longos 45 meses!

Uma lei de ferro tem sido a tônica em todos os países do mundo: onde os governos que aplicam duros planos de austeridade contra o povo estão sendo derrotados eleitoralmente ou pela ação direta das massas nas ruas. No Brasil o que vemos é o PT pagar o preço de sua traição à classe trabalhadora.

CONSTRUIR UMA VERDADEIRA ALTERNATIVA DA CLASSE TRABALHADORA

As duas marchas e sobre tudo a do dia 15 mostraram uma orfandade de alternativas num processo progressivo de ruptura com o governo que não somente rouba dinheiro público, mas também aplica um ajuste contra o bolso do povo trabalhador como ninguém antes o fez. São tarifaços nas contas de energia, de água, do transporte; arrocho salarial, demissões, corte de verbas para educação, saúde ou segurança; aumento dos juros, inflação e privatizações, tudo para pagar aos banqueiros a dívida externa e interna.

Frente a esta situação a verdadeira esquerda tem um imenso desafio: Nosso partido, o PSOL, tem a responsabilidade de se apresentar com propostas e iniciativas frente ao povo brasileiro. O PSOL pode fazê-lo, pois não tem rabo preso com empreiteiras nem com o ajuste fiscal. Suas lideranças e parlamentares, os militantes sindicais, populares e estudantis devem colocar no centro da agenda a luta contra o ajuste fiscal e contra a corrupção, com medidas concretas. Ao não fazê-lo, com certeza, um setor dos que saem às ruas irão atrás das falsas e velhas alternativas da direita. Esta é a disputa que o PSOL deve apostar.

O PSOL tem também a responsabilidade de procurar unificar os outros partidos e setores da esquerda combativa como o PSTU, PCB, enfim, todos os que estejam dispostos a combater em primeiro lugar o ajuste conservador e neoliberal de Dilma/Levy, punir corruptos e corruptores, e combater também as falsas alternativas da velha direita também conservadora encabeçada pelo PSDB do governador Alckmin, responsável fundamental da penúria de milhões de moradores de SP que sofrem com a falta de água, entre outras carências.

Temos a responsabilidade de estar presentes ajudando as lutas que percorrem o país, por salário, emprego, condições de trabalho e contra as “reformas” regressivas de Dilma/Levy. Para isso deve se engajar para rodear de solidariedade as lutas existentes, e lutar pela sua unificação e coordenação em Fóruns Unitários de Luta com trabalhadores, estudantes, setores populares, tanto nos Estados quanto em nível nacional, em direção a uma greve geral para derrotar de vez o ajuste contra o povo.

O PSOL deve defender o fim do superávit primário e do pagamento da imoral e já paga dívida pública para investir esse dinheiro em saúde, educação, trabalho, segurança, etc. Não tem como melhorar a situação do povo, nem repor a inflação e conquistar aumento real de salários enquanto quase a metade do orçamento vai para os agiotas do sistema financeiro (ano passado foram R$ 978 bilhões ou 45% do orçamento para pagar os juros aos banqueiros, esse ano será 47%)! Deve defender uma Petrobrás 100% estatal, controlada pelos seus trabalhadores, técnicos e engenheiros, e lutar para que todos, corruptos e corruptores, estejam na cadeia e devolvam tudo o que roubaram.

Deve também lutar para que todas as empresas estratégicas para o país sejam reestatizadas, como a Vale, o sistema elétrico, a telefonia com controle de trabalhadores e usuários; impedir a privatização da Caixa Econômica Federal e expulsar do país as multinacionais que com suas medidas aprofundam o desequilibro do meio ambiente que vive o país, com seu agronegócio predador e seus transgênicos que prejudicam a natureza e o povo brasileiro.

E deve lutar também por uma profunda mudança política e econômica no país, realizada após um amplo debate e com a participação da população, elegendo deputados constituintes com novas regras, com o fim exclusivo de mudar nossa constituição, incorporando as mudanças econômicas elencadas e outras, e mudando qualitativamente nosso sistema político. Para que a política deixe de ser “carreira” e sim um serviço público: fim da imoral imunidade parlamentar que serve apenas para proteger corruptos, que as campanhas eleitorais sejam exclusivamente financiadas com dinheiro público, igualitário e enxuto para todos impedindo o financiamento por grandes empresas ou por grandes empresários individuais que depois comandam a política do país a serviço do seu lucro; para que nenhum político ganhe mais que um trabalhador médio, e que seu salário seja vinculado ao salário mínimo; para que os mandatos possam ser revogados uma vez que o político eleito não cumpre com seus compromissos, entre outras. Para não ter que suportar outra vez a vergonha de oferecer aos valorosos garis do RJ um aumento de 3% ou aos professores de SP, cujo governo do PSDB ofereceu zero de reajuste enquanto os políticos votam a si mesmos um aumento de 26%.

CST-PSOL, 16 de março de 2015