HISTÓRIA | O começo do começo do fim – A virada em Stalingrado
Em um dia como hoje, há 77 anos atrás, em um 19 de novembro de 1942, teve início a reviravolta mais importante e espetacular da história da humanidade.
Geralmente nos referimos ao dia 2 de fevereiro de 1943 como o dia da vitória, que de fato o foi, em Stalingrado. Não obstante, a vitória começou com uma virada, com uma contra ofensiva, e isto teve início na operação Uranos de 19 de novembro de 42.
Antes desse dia, o destino da humanidade parecia estar traçado para a vitória da barbárie nazista. Após três anos de guerra é a primeira vez que se demonstra que é possível vencer os nazistas. Aí faz residência o dramático das guerras e por isso existem dias que são mais importantes que outros.
Desde julho as tropas soviéticas estavam sendo massacradas e já estavam restritas a somente uma pequena parte da margem do Rio Volga, encurralados em um canto da stalingrado de então.
A guerra de longe, em campo aberto, que era desvantajosa para o Exército Vermelho pela superioridade dos tanques Panzer e da Luftwaffe, fora substituída pelos escombros da guerra de perto, praticamente casa à casa, fábrica à fábrica, do que restara da cidade.
Entra aí o papel das guerras de guerrilhas e do engajamento do povo soviético na luta.
Aí entra o papel dos snipers e, particularmente, o papel das mulheres atiradoras, caçadoras e justiçadoras de nazistas, que ficavam horas e dias à espreita de qualquer vacilo para dar o shot definitivo sobre um soldado ou oficial alemão. Hitler considerava uma degeneração eslava que mulheres pudessem lutar e, ainda fruto da grande revolução de outubro de 1917, a mulher soviética tinha alçado papéis importantes e de protagonismo na sociedade.
O papel de Stalin
A história não é feita de “se’s”. Mas, certamente, é possível afirmar que operação Barbarossa não teria toda a força inicial e êxito não fosse o papel da política de Stálin.
Enquanto toda a Europa e o resto do mundo sabiam que a guerra era iminente, a direção da ditadura estalinista desarmou os soviéticos politicamente ante à ameaça nazista. Mais que isso: pactuou com Hitler. Assim como Goelbels trabalhava a propaganda alemã, o ocidente até hoje exalta o papel dos EUA na grande guerra, a propaganda estalinista tenta colocar o georgiano como um grande algoz de nazistas. Não foi assim. A vitória veio em Stalingrado apesar de Stalin, e não por ele.
O famigerado pacto de não agressão assinado com Hitler (erro que o primeiro ministro inglês Neville Chamberlain também cometera), e a divisão da Polônia com os nazistas, são os precedentes históricos mais próximos da expansão alemã.
Também em 1936 os “Processos de Moscou” levaram à condenação de parte do melhor dos generais veteranos russos, o que, sem dúvida nenhuma, debilitou a defesa soviética.
Isto tudo torna ainda mais épica e histórica a luta e a vitoria dos trabalhadores soviéticos.
A vitória
Nenhum livro ou filme até hoje conseguiu suprir a minha imaginação de o como foram espetacularmente dolorosos aqueles dias, especialmente antes da virada de 19 novembro.
A vitória final alemã era uma questão de tempo, de dias, talvez. A contra ofensiva que, em movimento de pinça cercou a cidade, encontrou a resistência vermelha e formou um bolsão deixando quase 90 mil soldados alemãs isolados. Imagino como foi o encontro e a alegria dos soldados soviéticos das frentes norte e sul quando se encontraram.
A invasão alemã que iniciara em 1941, com quase 3 milhões de soldados (a maior invasão da história da humanidade), longe de ser uma blitzkrieg, uma guerra relâmpago como foram a frente ocidental com a França, transformou-se, com o tempo, em uma rattenkrieg, uma guerra de ratos, numa referência aos combates corpo a corpo até nos esgotos da cidade de estalingrado.
Coube ao general Zulkhov comandar as tropas que trouxeram a vitória definitiva às tropas soviéticas. O general alemão Von Paulus, por meses solicitou o rendimento das suas tropas, o que foi insistentemente negado por Hitler.
No dia 02 de fevereiro cerca de 90 mil soldados, incluindo 25 oficiais e o general Von Paulus, se entregaram ao Exército Vermelho. Apenas cinco mil destes homem irão retornar para a Alemanha um dia.
Tudo em Stalingrado é no superlativo. Por nossa educação ocidental, fomos ensinados a ter o importante dia 06 de junho de 1944 – o dia D -, como o mais importante ponto de inflexão nos rumos da segunda grande guerra.
Mas foi em stalinegrado que quase duas milhões de pessoas morreram, foram presas ou ficaram, para sempre, desaparecidas. As baixas nos exércitos do Eixo foram de aproximadamente 800 mil homens.
Mas é como se diz. A verdade histórica demonstra que faltou Hitler combinar com os russos.
Stalingrado mudou o rumo da história e o mundo pôde sonhar que era possível lutar e vencer os nazistas. Assim o foi.
Texto Marco Antônio Costa – CST/PSOL