Viva a Revolução Arabe – Solidariedade ao povo Egipcio

Declaração da UIT – CI | Tradução Michel Oliveira e Priscila Guedes

Solidariedade ao povo do Egito
Declaração da UIT-QI

Fora Mubarak!
Multidões exigem a queda de Mubarak. Nem o toque de recolher, nem a repressão policial pararam a mobilização. Cortaram telefones celulares e internet, para impedir a coordenação e difusão da luta, mas também não adiantou.
O exército saiu às ruas, supostamente para garantir o toque de recolher ordenado pelo ditador, produzindo a morte de quase 300 egípcios. Mas o poder da mobilização foi tão grande que o aparato militar de fato terminou dividido, quando militares de baixa patente confraternizaram com os manifestantes, dançando e cantando. Subindo nos tanques gritavam que o povo e o exército são um só.
O povo do Egito está nas ruas denunciando o desemprego, a inflação, o preço do pão, do leite em pó e lutando para derrubar a ditadura, no poder há quase 30 anos. Em 1º de fevereiro aconteceu a marcha do “milhão” em meio a uma greve geral. Milhões ocuparam as praças do Cairo e de todo Egito. A contundência das ações levou a que Mubarak, o principal aliado do imperialismo Ianque na região, e país chave para proteger Israel, esteja contra a parede. Numa tentativa desesperada para desmontar a mobilização e negociar, anunciou que terminará seu mandato em setembro e que não se apresentará nas eleições. Porém a resposta das massas mobilizadas foi contundente: “Fora!”, “Fora!” e decidiram seguir nas praças.

A revolução árabe está em marcha
Após o triunfo da revolução democrática na Tunísia, os povos árabes seguem mobilizando-se contra a fome e as ditaduras pró-imperialistas. Crescem as lutas no Yemen e Jordânia.
As massas árabes estão fartas de miséria, repugnantes desigualdades sociais (a fortuna de Mubarak é calculada em US$ 40 bilhões), corrupção e as ditaduras. Encabeçado pela pequena Tunísia e agora pelo poderoso Egito, está em marcha um processo revolucionário nos países árabes. No Yemen (pequeno porém importante aliado dos Ianques) e Jordânia (uma monarquia que capitulou há muito tempo a Israel) crescem as mobilizaçoes. O descontentamento já se extende a outros países como Argelia, Líbia, entre outros.
A queda do ditador tunisiano foi o primeiro sinal do início de um processo revolucionário no mundo árabe, que detonou o descontentamento contra Mubarak. No dia 25 aconteceu o “dia da ira”. Centenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas do Cairo, Alexandria, Suez e outras cidades. Desde então, nem a repressão da polícia (com mais de 300 mortos), que foi obrigada a retroceder na maior parte das cidades, nem as “promessas” de Mubarak conseguiram deter o processo revolucionário.

Os egípcios reclamam contra a pobreza, o desemprego e a ditadura
Após 30 anos de ditadura de Mubarak, quase a metade da população é analfabeta e pobre; a maior parte sobrevive com 2 dolares por dia e recebe comida subsidiada. O desemprego supera 30% e entre os menores de 30 anos chega a 90%. Milhões de jovens com títulos universitário e formação profissional não tem nenhuma oportunidade de conseguir trabalho digno, são ambulantes e se alimentam só de pão. Nos últimos anos se instalaram grandes fábricas das multinacionais, para explorar mão-de-obra barata. Uma pequena minoria de milionários desfruta dos ingressos de turismo e da exportação do petróleo e algodão.
De várias formas se exige liberdades democráticas, mas também se luta contra pobreza e o desemprego. Ou seja, a crise mundial capitalista e os planos de ajuste também tem sua expressão no Egito e nos países árabes. Isso explicaria que as consignas religiosas islâmicas não tenham maior presença. A maior força política do país é a Irmandade Muçulmana, que teve 20% dos mandatos legislativos de 2005, quando pactuou com Mubarak sua apresentação. Não apoiou o início da mobilização e depois deu um tímido apoio pedindo calma.
As sedes do partido do governo são destruídas e queimadas no Cairo e outras cidades. Os cassinos Al Lail e Andalus e o Hotel Europa foram saqueados. Uma infinidade de veículos policiais são incendiados com coqueteis molotovs. Diante do temor do desabastecimento houve saques de alimentos. Nos bairros surgem comitês populares, em alguns casos junto com militares, para proteger as casas da ação de delinquentes e a multidão impediu que grupos de provocadores e assaltantes atacasse o Museo do Cairo.
A classe trabalhadora egípcia tem um papel importante na mobilização, como ocorreu na Tunisia. Há anos vem enfrentando o governo e os empresários atraves de greves. Desde dezembro de 2006 produziram-se as maiores e mais duradouras ondas de greves desde a década de 1940. Começaram com os operários texteis na cidade de Mahalla no delta do Nilo, centro da maior força proletária da região, com mais de 28000 trabalhadores.
O jornalista e blogueiro egípcio Hossam el-Hamalawy declarava a Al-Jazeera que “durante os últimos anos a revolta estava no ar. Assim surgiram os primeiros passos para conquistar sindicatos independentes da corrupta burocracia sindical da ditadura. Agora os trabalhadores são chave na greve geral contra Mubarak”.

O regime ditatorial de Mubarak, peça chave do imperialismo Ianque
O triunfo da revolução democrática na Tunísia foi muito importante, porém a revolução iniciada no Egito é de vital importância tanto para o imperialismo como para os povos do mundo.
Egito é o país árabe mais povoado e um dos poucos que reconhecem Israel. Mubarak é um aliado incondicional dos Ianques e de Israel, e seu regime parece ser o último bastião de um movimento político que passou do nacionalismo ao pró-imperialismo.
Nos anos cinquenta, o presidente Gamal Abdel Nasser encabeçou o nacionalismo árabe e enfrentou a presença invasora do sionismo na Palestina. Em julho de 1956 nacionalizou o estratégico Canal de Suez, que permite o acesso aos portos europeus do mediterrâneo ao petróleo do Golfo e aos produtos asiáticos baratos. Pouco depois, derrotou as tropas israelenses, inglesas e francesas, quando tentaram recuperá-lo na “guerra de Suez”.
O declínio daquele nacionalismo burguês abriu caminho a uma grande traição e a capitulação ao imperialismo ianque. Em 1978, em Camp David, a residência do presidente dos EUA/Anwar Sadat – sucessor de Nasser – assinou com Menajem Beguin um acordo, impulsionado por Jimmy Carter, reconhecendo o Estado de Israel (que devolveu os ricos territórios petroleiros da penísula do Sinai, ocupados desde 1967). A liga Árabe repudiou o acordo e Egito ficou isolado. Em 1981, um militante do fundamentalismo islâmico executou Sadat, que foi sucedido por Hosni Mubarak. Desde então, ele encabeça um regime cada vez mais corrupto e repressor, aliado incondicional e estratégico do imperialismo, para enfrentar o Irã e proteger Israel.
Por esse motivo, Mubarak recebe uma multimilionária ajuda militar do EUA, cujo poderio utiliza para colaborar com o sionismo, no bloqueio a Faixa de Gaza. Isto explica a solidariedade e apoio que recebeu tanto da monarquia da Arábia Saudita como do traidor Mahumed Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina. Todos temem que a queda de Mubarak provoque uma nova Intifada Palestina e o levante dos demais povos da região.

Obama e a crise do imperialismo
Obama está diante de um grande dilema. Como manter um regime aliado a seus interesses, se Mubarak for obrigado a fugir?. Não é um problema menor, pois quando realizou seu giro em 2009, com uma “mensagem” ao mundo árabe, utilizou o Cairo para fazer seu pronunciamento.
Sua derrota no Iraque e Afeganistão seguiu o debilitando na região. Nos Estados Unidos aconteceram numerosas mobilizações em apoio ao povo egípcio. Nada lhe assegura que uma “sucessão” com o “designado” vice-presidente, ex-general Omar Suleimán, restabeleça a calma. Tem sua grande arma de pressão sobre o exército pelos milhões de dólares que envia ao país, porém a cúpula militar se distancia de Mubarak.
Após 30 anos de férrea ditadura, salvo o partido islâmico da Irmandade Muçulmana, não há líderes ou organizações reconhecidas de oposição.
Aparentemente, poderia ser um “candidato” para uma “transição” o físico nuclear Mahamed el Baradei, prêmio Nobel da Paz em 2005, que foi diretor do Organismo Internacional de Energia Atômica, apoiado pelos EUA. Apesar da publicidade que os jornais dão a Baradei, ele até agora não possui um grande apoio popular. No Egito e no mundo árabe tornou-se conhecido em 2003, pois junto com o sueco Hans Blix, liderava as inspeções da ONU no Iraque e questionou as supostas “provas” sobre a existência de armas de destruição em massa nas mãos de Saddam Hussein. Essa foi a colossal mentira que utilizou Bush pai para “justificar” sua invasão ao Iraque. Porém Baradei é essencialmente um dirigente político liberal, moderado e pró-imperialista, que não representa nenhuma saída de fundo para satisfazer as demandas de quase 80 milhões de egípcios.
Obama oscila entre sustentar o ditador Mubarak e buscar uma saída negociada entre o exército, Baradei e a Irmandade Muçulmana, que chamou o alto comando militar à negociar uma transição política “pacifica”. O imperialismo busca evitar o perigo de uma mudança política radical, anti-EUA e anti-sionista.
Em síntese, nas ruas, não só está em jogo que o povo egípicio consiga melhorar suas condições de vida, senão também dar um grande golpe à influência do imperialismo ianque sobre o mundo árabe e à sustentação de Israel.

Solidariedade ao povo egípcio
Nessas horas decisivas o povo do Egito segue mobilizado, disposto a chegar até a derrubada do ditador Mubarak.
Diante da passividade e o apoio dos soldados à mobilização, Mubarak lançou nas ruas grupos aliados da ditadura que buscam esmagar a mobilização. Os enfrentamentos crescem. A luta exige que os trabalhadores e o povo egípcio se organizem para se defender desses bandos assassinos. E que se convoque aos soldados e aos militares de baixa patente a que contribuam com essa tarefa, formando comitês de soldados para coordenar a defesa da mobilização revolucionária contra a ditadura.
A mobilização nas ruas mostrou um imenso vazio de direção. Porém ao calor da luta se expressa de fato um esboço de duplo poder, e apostamos em seu desenvolvimento, com os comitês de vigilância nos bairros, os sindicatos e organizações juvenis que impulsionam a mobilização, para que se unifiquem na perspectiva de que avançe um poder alternativo operário e popular, em que não tenham espaço as direções reformistas e conciliadoras com a rançosa oligarquia egípcia e o imperialismo norte-americano.
No mundo cresce o repúdio a Mubarak e as expressões de solidariedade com o povo do Egito. A UIT-QI se soma a estas mobilizações e chama a aprofundar a solidariedade ativa para derrubar o ditador. Chamamos a mais ampla unidade de ação para realizar marchas e ações em frente as embaixadas e consulados de Egito.
Exigimos aos governos de todo mundo e, em especial, aos de Hugo Chavez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Cristina Kirchner e Dilma Rousseff a que abandonem a passividade e que rompam relações com Mubarak e todos os ditadores que oprimem aos povos árabes e sustentam junto ao imperialismo o invasor Estado de Israel.
Abaixo Mubarak! Mobilização até que caia!

Unidade Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional UIT-QI, 02/02/2011