A importância dos sindicatos de trabalhadores para a revolução no Egito
Egito: entrevista a Hossam el- Hamalawy,jornalista e blogueiro egípcio. | Tradução: Caio Dorsa
Egito: entrevista a Hossam el- Hamalawy,jornalista e blogueiro egípcio.
A importância dos sindicatos de trabalhadores na revolução
*Traducido del inglés para Rebelión por Germán Leyens y revisado por Caty R.
Hossam el-Hamalawy é um jornalista e blogueiro do site 3arabwy. Mark Levine, professor da Universidade de Califórnia Irvine, conseguiu contato com Hassam através do Skype para ter um informe de primeira mão sobre os eventos que se desenvolvem no Egito.
Hossa El-Hamalawy
MK – Porque foi necessária uma revolução na Tunísia para colocar os egípcios nas ruas em quantidades sem precedentes?
No Egito dizemos que a Tunísia foi mais um catalisador do que um instigador, porque as condições objetivas para um levante existiam no Egito e durante os últimos anos a revolta estava no ar. Decerto, já conseguimos fazer duas mini-intifadas ou “mini-tunisias” em 2008.A primeiro foi um levante em abril de 2008 em Mahalla, seguido de outro em Borollos, no norte do país.
As revoluções não surgem do nada. Não temos um nascer no Egito porque ontem teve um na Tunísia. Não é possível isolar os protestos dos últimos quatro anos, de greves de trabalhadores no Egito ou de eventos internacionais como a intifada AL-Aqsa e a invasão do Iraque pelos EUA.Mas uma vez que a oposição formal ao regime passa das armas para protestos massivos, é muito difícil enfrentar um dissenso semelhante.Pode-se planificar a liquidação de um grupo de terroristas que combatem nos canaviais , mas o que vão fazer frente a milhares de manifestantes nas ruas? Não podem matar todos. Nem sequer podem garantir que os soldados façam, que disparem contra os pobres.
MK – Qual é a relação entre eventos regionais e locais neste país?
Há que se compreender que o regional é local neste país.No ano de 2000 os protestos não começaram como protesto contra o regime mas sim contra Israel e em apoio aos palestinos.O mesmo ocorreu com a invasão estadounidense no Iraque três anos depois.Mas, um vez que se tu saí as ruas e enfrenta a violência do regime, tu começa a fazer perguntas: Porque exportam cimento para Israel para que construam assentamentos de vez de ajudar os palestinos? Porque a policia é tão violenta com a gente quando só tratamos de expressar nossa solidariedade com os palestinos de maneira pacífica? E assim também os problemas regionais como Israel e irque passaram a ser temas locais. E em poucos instantes, os mesmos manifestantes que cantavam consignas Pró Palestina começaram a cantar contra Mubarak. O momento decisivo especifico em termos de protestos foi 2004, quando o dissenso virou interno.
MK – Na Tunísia os sindicatos jogaram um papel crucial na revolução, já que sua ampla e disciplinada adesão assegurou que os protestos não pudessem esmagar-se facilmente e se conferiu um organização. Qual é o papel do movimento dos trabalhadores no Egito no atual levante?
O movimento sindical egípcio foi bastante atacado nos anos oitenta e noventa pela policia, que utilizou munição de guerra contra os grevistas pacíficos em 1989 durante greves nas fábricas siderúrgicas e em 1994 nas greves da fábricas têxteis. Mas dês de dezembro de 2006 nosso país vive continuamente as maiores e mais sustentadas ondas de greve desde 1946, detonadas por greves na industria têxtil na cidade de Mahalla no Delta do Nilo, centro da maior força operária no oriente Médio com mais de 28.00 trabalhadores. Começou com temas trabalhistas mas se estendeu a todos os setores da sociedade com exceção da policia e das forças armadas.
Como resultado destas greves conseguimos obter dois sindicatos independentes, os primeiros de sua classe desde 1957, o dos cobradores de impostos de imóveis, que inclui mais de 40.00 empregados públicos e o de técnicos da saúde, mais de 30.00 dos quais lançaram um sindicato no mês passado fora dos sindicatos controlados pelo Estado.
Mas é verdade que existe uma diferença importante entre nós e a Tunísia, e é a que mesmo em uma ditadura, a Tunísia tinha uma federação sindical semi-independentes. Inclusive se a direção colaborava com o regime, os membros eram sindicalista militantes. De maneira que quando chegou a hora das greves gerais, os sindicatos puderam somar-se. Mas aqui no Egito temos um vazio que esperamos encher rápido. Os sindicalistas independentes já estão sobre a caça as bruxas desde que se estabeleceram, já há processos iniciados contra eles pelos sindicatos estatais e respaldados pelo estado, mas seguem se fortalecendo apesar das continuas tentativas de silenciarmos.
Decerto, nos últimos dias a repressão se dirigiu contra os manifestantes nas ruas, dos quais não são necessariamente sindicalistas. Estes protestos reunirão um amplo espectro de egípcios, incluindo filhos e filhas da elite. De modo que temos uma combinação de pobres e jovens da cidade junto com a classe média e filhos e filhas da elite.
Penso que Mubarak conseguiu agrupar todos os setores da sociedade com exceção de seu circulo intimo de cúmplices.
MK – A revolução tunisiana foi descrita muito como encabeçada pela “juventude” e dependente para o seu êxito da tecnologia das redes sociais como Facebook ou Twitter.E agora as pessoas se concentram na juventude egípcia como um catalisador importante. Se trata de um “intifada juvenil” e podia ter lugar sem o Facebook e outras novas tecnologias mediáticas?
Sim, é um intifada juvenil nas ruas.A internet apenas ajuda na difusão das informações e das imagens do que sucede no terreno. Não utilizamos a internet para nos organizar. A utilizamos para mostrar o que estamos fazendo nas ruas com a esperança de animar a outros para que participem da ação.
MK – Como se ouviu, nos EUA, o apresentador de programas de entrevistas Glenn Beck atacou a uma acadêmica já doutora, Frances Fox Piven, por um artigo que ela escreveu chamando aos desempregados para fazer protestos massivos por postos de trabalho. Inclusive recebeu ameaças de morte, algumas de pessoas sem trabalho que parecem mais felizes fantasiando em atirar com uma de suas numerosas armas do que lutar realmente pelos seus direitos.è surpreendente pensar no papel crucial dos sindicatos no mundo árabe atual, tendo em conta as mais de duas décadas de regimes neoliberais em toda a região cujo objetivo primordial é destruir a classe trabalhadora. Porque seguiram sendo tão importantes os sindicatos?
Os sindicatos sempre são o remédio mágico contra qualquer ditadura. Veja a Polônia, Coréia do sul,América Latina ou Tunísia. Os sindicatos sempre foram uteis para a mobilização das massas.Faz falta uma greve geral para derrotar a ditadura,e não há nada melhor que um sindicato independente para fazer-la.
MK – Existe um programa ideológico mais amplo por trás dos protestos, ou somente se livrar de Mubarak?
Cada um tem suas razões para sair às ruas, mas suponho que se nosso levante tiver êxito e derrubarmos a Mubarak aparecerão divisões. Os pobres irão querer levar a revolução a uma posição mais radical, impulsionar a redistribuição radical da riqueza e combater a corrupção, enquanto os denominados reformistas vão querer colocar freios, pressionar mais ou menos pelas mudanças “desde cima” e limitar um pouco os poderes mas mantendo alguma essência de Estado.
Mk – Qual é o papel da irmandade Mulçumana e qual é o impacto na situação o fato deles permanecerem distantes das atuais manifestações?
A irmandade vem sofrendo divisões desde o estalo da intifad AL-Aqsa. Sua partipação no movimento de solidariedade com a Palestina quando se enfrentou com o regime foi desastrosa.Basicamente, cada vez que seus dirigentes chegam a um compromisso com o regime, especialmente os seguidores do atual guia supremo, desmoralizam aos seus quadros de base.Conheço pessoalmente a numerosos jovens irmão que abandonaram o grupo, alguns deles se uniram a outros grupos ou seguem independentes.A medida que cresce o atual movimento de rua e a direção inferior participa, haverá mais divisões porque a direção superior não pode justificar por que não formam parte do novo levante.
MK – Qual é o papel dos EUA neste conflito? Como as pessoas nas ruas vêm seus posicionamentos?
Mubarak é o segundo beneficiário da ajuda exterior dos EUA, depois de Israel.O conhecem como o capanga dos EUA na região; é um dos instrumentos da política externa estadunidense, que implementa seu programa de segurança para Israel e o fluxo sem problemas do petróleo enquanto mantém cercado os palestinos.De modo que não é nenhum segredo que esta ditadura tenha gozado do respaldo de governos dos EUA dês do primeiro dia,inclusive durante a retórica enganadora por democracia de Bush. Por tanto não que há o porque se suurprender frente as risíveis declarações de Hillary Clinton que mais ou menos defendem o regime de Mubarak, já que um dos pilares da política externa americana é manter regimes estáveis a custa da liberdade e dos direitos civis.
Não esperamos nada de Obama, a quem consideramos um grande hipócrita.Ma esperamos que o povo estadunidense –sindicatos, associações de professores, uniões estudantis, grupos de ativistas, – se pronunciem em nosso apoio. O que queremos é que o governo dos EUA se mantenham fora do assunto. Não queremos nenhum tipo de respaldo, simplesmente que cortem de imediato a ajuda a Mubarak e retirem o respaldo, que se retire de todas as bases do oriente Medio e deixe de apoiar o Estado de Israel.
Em ultima instancia, Mubarak fará tudo o que tenha que fazer para proteger-se. De repente adotara uma retórica mais anti-estadunidense se pensar que possa ajudar a salvar sua pele. Afinal de contas esta comprometido com seus próprios interesses e se pensar que os EUA não o apoiaram, se voltara a outra direção. A realidade é que qualquer governo ralmente limpo que chegue ao poder na região chegara a um conflito aberto com os EUA porque chamara a uma distribuição racional da riqueza e a terminar com o apoio a Israel e outras ditaduras.De modo que não esperamos nenhuma ajuda dos EUA. Somente que nos deixem em paz.
Mark Levine é professor de historia na Universidade de Califórnia Irvine e investigador visitante no Centro de Estudos do Oriente Médio na universidade de Lund na Suécia. Seus livros mais recentes são Heavy Metal Islam (Random House) e Impossible Peace: Israel/Palestine Since 1989 (Zed Books).