Contrapoder, Editorial, N 8
Não haverá paz!
“Enquanto não houver justiça para os pobres, não haverá paz para os ricos”
O vigor das manifestações contra a destruição da Amazônia revela a inesgotável reserva de luta dos estudantes e trabalhadores brasileiros. Os reiterados golpes do capital contra o trabalho não arrefeceram a efervescência social nem estabilizaram a ordem. A razão é clara. A “solução liberal-autoritária” para a crise que abala a vida dos brasileiros agrava todos os problemas responsáveis pelo colapso civilizatório que ameaça o próprio futuro do Brasil como sociedade nacional.
Muito mais que um problema conjuntural, relacionado com desequilíbrios macroeconômicos, a crise econômica é estrutural e tem origem na necessidade de ajustar o país às novas tendências da divisão internacional do trabalho. Ao sancionar o desmanche do sistema econômico nacional, o ajuste neoliberal promove enorme destruição de forças produtivas, vasta eliminação de empregos de qualidade e substancial rebaixamento no nível tradicional de vida dos trabalhadores.
O fim da industrialização por substituição de importações e a estagnação de longa duração destruíram definitivamente as bases materiais da mobilidade social. A possibilidade de que o impacto perverso do ajuste neoliberal sobre a classe trabalhadora seja parcialmente atenuado pela retomada do crescimento do emprego fica afastada pelo recrudescimento da crise capitalista.
A crise social latente, condicionada pelas gigantescas assimetrias entre ricos e pobres, foi transformada numa crise aguda. Depois de 2014, mais de 13 milhões de pessoas engrossaram a massa marginalizada do mercado de trabalho, um contingente equivalente a toda a força de trabalho da Venezuela. A dimensão da catástrofe social fica patente quando se constata que, há mais de dois anos, 1 de cada 4 trabalhadores encontra-se desempregado, desalentado ou subutilizado do mercado de trabalho.
A incapacidade de absorver crescentes parcelas da população economicamente ativa no mercado de trabalho desarticulou o principal mecanismo de acomodação das terríveis contradições de uma sociedade marcada pela segregação social. O aumento do desemprego estrutural, a precarização do trabalho, o arrocho salarial, a escalada da concentração de renda e a elevação da pobreza transformaram o Brasil num barril de pólvora.
O acirramento da luta de classes selou a sorte da Nova República. A democracia restrita cristalizada na transição da ditadura militar para o Estado de direito não resistiu à nova ofensiva do capital contra o trabalho. O partido do fora todos reacionário, comandado por Moro, Dallagnol e Rede Globo, trucidou a Constituição Cidadã. A falsa cruzada moralista contra a corrupção desmoralizou o sistema político. A seletividade e a arbitrariedade dos juízes e promotores, patentes na troca de mensagem revelada pelo Intercept, desmoralizaram irremediavelmente o sistema judiciário. A corrupção sistêmica passou incólume pela Lava Jato.
A eleição de Bolsonaro coroou a liquidação da Nova República. O desmanche da Nação virou razão de Estado, e todas as conquistas civilizatórias do povo brasileiro ficaram postas em questão. Sem ter o que oferecer à população, o espectro do autoritarismo ressurgiu como único meio de garantir a “paz social”.
Mas as derrotas dos trabalhadores nunca são definitivas. A impossibilidade de superar as contradições responsáveis pela vida infernal dos brasileiros impede a estabilização da ordem. A energia que impulsiona a juventude e os trabalhadores à luta brota do sentimento de profundo mal-estar e revolta contra o avanço da barbárie.
Para que os protestos contra o descalabro nacional não sejam meramente reativos e não sejam exauridos em seu próprio ato, é vital construir força política e horizonte estratégico que permitam a unificação das lutas parciais em torno de um projeto comum da classe trabalhadora que vá além do capital.
O mês de setembro será de luta. No Dia Internacional da Amazônia (05/09), no Grito dos Excluídos (07/09) e na Greve Global do Clima (20/09), estaremos nas ruas portando a bandeira do socialismo como único meio capaz de superar a barbárie capitalista e deter a destruição do planeta.
Editorial Contrapoder