Marina você não me engana

| Combate Socialista, nº 59

Adolfo Santos (PSOL/CST – RJ)

Não é necessário ser “expert” em Marina para poder afirmar que a candidata presidencial não tem nada de novo. Sucessora da candidatura do falecido Eduardo Campos, Marina Silva tenta se apresentar como a cara da nova política, porém, nem suas propostas programáticas nem seus comportamentos conseguem se diferenciar dos velhos políticos.
Longe de apresentar uma alternativa ao modelo econômico de entrega e submissão ao sistema financeiro, ao agronegócio, às empreiteiras e às multinacionais, praticado por FHC e continuado por Lula, Marina Silva não cansa de afirmar que dará continuidade às principais medidas de Lula e FHC de cujos programas econômicos se diz admiradora. Um péssimo sinal para quem pretende ser a porta-voz da mudança.
Não poderia ser diferente para quem tem como um de seus principais assessores Eduardo Gianetti, admirador do tripé econômico implementado por Lula cujo centro é “a austeridade fiscal, o superávit primário para valer e o câmbio flutuante”, medidas também defendidas pelo candidato tucano, o que levou Gianetti a afirmar que não vê diferenças fundamentais entre as propostas econômicas de Marina e Aécio. Tampouco de Dilma, podemos afirmar.

Marina não é somente“velha” em economia
Se em economia defende o velho, Marina não é diferente em outras áreas. Rodeada de banqueiros, grandes empresários e pastores evangélicos, é uma fonte permanente de contradições. Numa das maiores mostras de covardia, menos de 24 horas depois de ter publicado programa de apoio às causas dos homossexuais, a candidata, pressionada pelo obscurantismo e o atraso civilizatório pregado pelo pastor Malafaia, voltou atrás em relação às propostas sobre direitos pautados pela comunidade LGBT.
Posiciona-se contra o casamento civil igualitário e contra a distribuição de material didático sobre a diversidade sexual, a criminalização da homofobia e da transfobia. Como escreveu o cineasta Cacá Diegues: “… Não adianta Marina me dizer que o Estado deve ser laico se ela faz entusiasmada profissão de fé criacionista, se é indiferente à homofobia, se se recusa a admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, se vota contra as pesquisas de célula tronco…” O Globo 07/09/2014.
Marina quer aparecer como o novo, mas não consegue se diferenciar do velho quando adota as mesmas práticas com que os políticos tratam de ocultar suas falcatruas. Após a revelação de que desde 2011 já recebeu R$ 1.600.000,00 por “ministrar palestras”, para evitar que se conheçam as origens do dinheiro copiouo ex-ministro Antônio Palocci que, quando flagrado num crescimento absurdo de seu patrimônio, declarou que uma “cláusula de confidencialidade” lhe impedia revelar o nome de seus clientes. Se Marina defende uma nova política, primeiramente deveria exigir maior transparênciade quem a contrata e a extinção de qualquer cláusula de confidencialidade.
Marina, Campos, Albuquerque, todos representam o“velho”
Marina é candidata a presidente herdando o lugar de Eduardo Campos com quem se aliou sem se importar que ele também representava o velho. Mais de um mês depois do acidente aéreo, a direção do PSB não consegue explicar a relação entre Eduardo Campos e os donos do jato Cessna, fato que complica a prestação de contas da sua campanha. Segundo as primeiras investigações, tratar-se-ia de empresários laranja que teriam comprado o avião com dinheiro não contabilizado. Pior ainda, fariam parte da Bandeirante Companhia de Pneus Ltda., importadora de pneus usados, negócio considerado como dos mais danosos ao meio ambiente, a quem Campos teria dado importantes incentivos fiscais. Neste caso, a nova política veio abaixo junto com o jatinho adquirido de forma irregular por uma empresa que destrói o meio ambiente.
Ainda teremos que aguardar o andamento das novas denúncias sobre o propino duto da Petrobrás onde aparece o nome de Eduardo Campos. Mas não é fato novo. O falecido já tinha sido acusado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa de desviar recursos das obras da Refinaria Abreu e Lima no estado de Pernambuco. Além disso, Marina e o PSB escolheram como vice o deputado Beto Albuquerque, um dos líderes da aprovação de uso dos transgênicos no Congresso Nacional, cujos principais beneficiários são multinacionais como a Monsanto e a Cargill. E, para aprimorar as relações com o agronegócio, Marina e seu “staff” participaram em 29 de agosto, a portas fechadas, de um jantar com a Sociedade Rural Brasileira, a Associação Brasileira do Agronegócio e a União das Indústrias de Cana de Açúcar.
Engana-se quem acha que Marina virou velha de repente. Há anos que abandonou a luta dos povos da floresta, dos trabalhadores rurais e das mudanças econômicas a serviço do povo pobre e trabalhador. Em 2010, o saudoso Plinio de Arruda Sampaio, num debate eleitoral, já tinha desmascarado Marina. Com a irreverência que o caracterizava, Plínio disse: “… drogas, aborto, eutanásia, você não se pronuncia, diz: plebiscito! […] Eu quero rotular você: você foge do debate… você é eco capitalista, você diz que opta por todos, com isso você não opta por ninguém, você faz uma enorme demagogia!”. Plinio tinha razão, como Luciana também tem quando em recente debate do SBT lhe disse: “… Marina, tu não podes fazer uma nova política cedendo aos interesses dos banqueiros propondo a autonomia do Banco Central, cedendo aos usineiros propondo aumento da gasolina, cedendo aos setores mais reacionários da política brasileira…” Sem dúvidas, a “new” Marina só existe no discurso, nos fatos representa a velha política.