Balanço do CONEB da UNE
Entre os dias 6 e 10 de fevereiro, ocorreu em Salvador-BA o Conselho Nacional de Entidades de Base da UNE (CONEB), o primeiro encontro nacional do Movimento Estudantil tendo Jair Bolsonaro a frente do governo. Se reuniram milhares de estudantes do país inteiro, sendo boa parte destes dirigentes de centros e diretórios acadêmicos. Seis anos após a sua última edição, infelizmente este espaço que poderia servir como uma grande oportunidade para preparar a luta foi desperdiçado pela direção majoritária da UNE (UJS/PCdoB, Juventudes do PT, Levante).
Cerca de cinco mil estudantes compartilharam o mesmo espaço físico da UFBA, dividindo-se em quatro eventos distintos. Para além do CONEB, ocorreram também a Bienal de Arte e Cultura, o Encontro de Grêmios da UBES e o Encontro de estudantes pós-graduandos da ANPG. Todos estes espaços, sobretudo o CONEB, deveriam cumprir um papel fundamental: concretizar um calendário de lutas e mobilizações nas universidades e escolas para materializar o enfrentamento ao governo Bolsonaro e a seus ataques contra a educação, à juventude e ao conjunto da classe trabalhadora, seguindo o exemplo apontado pelas gigantescas manifestações do #EleNão, ocorridas em setembro e outubro do ano passado.
Infelizmente esta não foi a posição do campo majoritário das três entidades estudantis, ambas dirigidas pela UJS – juventude do PCdoB – e demais juventudes do PT, isto porque fizeram da desorganização um método para provocar a dispersão e o esvaziamento do debate político. Por diversas vezes a programação sofreu modificações de convidados e do próprio espaço das mesas, o que gerou desgaste e desestímulo para quem estava afim de debater seriamente a importância daquele encontro. Soma-se a este desmonte dos espaços políticos, o caráter festivo de pré-carnaval imposto pelos shows que ocorriam paralelamente em todos os cantos e momentos na UFBA; e a própria alimentação, em que no primeiro dia de congresso os estudantes tivemos que passar mais de três horas na fila para poder almoçar, sem contar o jantar que não foi servido em nenhum momento.
A unidade nas lutas é a nossa maior ferramenta para derrotar Bolsonaro
Nós, da Juventude Vamos à Luta, batalhamos em todos os momentos para que o CONEB e demais espaços debatessem e ao final encaminhassem uma agenda permanente de lutas para a defesa da educação pública, gratuita e com qualidade, assim como os direitos de mulheres, LGBT’s, negras e negros: nossa tese e as palavras de ordem entoadas por nossa delegação expressaram esta iniciativa.
Contudo, a maioria das direções dos coletivos presentes no evento não estavam de acordo com a mesma política, a começar pela UJS e a juventude do PDT, que dias antes estavam em apoio a candidatura de Rodrigo Maia/DEM para presidir a Câmara Federal dos Deputados, negando a candidatura de Marcelo Freixo do PSOL, que se propunha a enfrentar as contrarreformas e ataques aos direitos liderados por Bolsonaro, Guedes e a bancada conservadora do PSL e partidos aliados à agenda do Palácio do Planalto. O imobilismo desde o segundo turno das eleições também tem sido a marca dessas direções, ignorando a explosão das ruas protagonizadas pela Primavera Feminista e pela juventude em luta.
O debate da unidade nas lutas é crucial neste momento em que reitores são indicados diretamente pelo governo federal para dirigir mais de onze universidades, o PL Escola Sem Partido deve ser retomado para discussão no Congresso Nacional. Bolsonaro e Guedes apresentam uma reforma da previdência brutal para acabar com nosso direito à aposentadoria e cortes de verbas são anunciados em instituições como USP, UNESP e UNICAMP, por exemplo. Na plenária final do CONEB mais uma vez não houve disposição do conjunto das direções em sairmos conjuntamente em moções unitárias que apontassem a unidade na luta para concretizar uma agenda que unifique a juventude em uma pauta comum. Isto porque o eixo do campo majoritário era o de organizar uma frente democrática com partidos ditos de ordem “progressiva”, incluindo aí o PR, o PSB e o PODEMOS do reacionário Alvaro Dias; assim como o tema “Lula livre” que foi colocado como um dos eixos principais das resoluções para dividir o movimento e impedir que juventudes com posições contrárias assinassem a carta unitária da UNE, UBES e ANPG, que foi aprovada por maioria e sem apontar a construção de um calendário de lutas na prática.
Precisamos de uma nova direção para o movimento estudantil!
Nós defendemos durante o congresso a mais ampla unidade de ação para lutar contra Bolsonaro. Mas essa unidade não pode ser uma palavra vazia, tem que se construir em calendários reais de luta. Ficou claro que a direção majoritária das três entidades não está a altura da necessidade de ocupar as ruas, preferem fazer acordos no parlamento com corruptos como o Rodrigo Maia(DEM) do que mobilizar os estudantes.
Acreditamos que, mesmo com a necessidade de unidade, as diferenças não se apagam e defendemos a unidade do campo da Oposição de Esquerda no cotidiano do movimento estudantil, para fortalecer uma alternativa de direção que não vai hesitar em lutar contra os ataques de Bolsonaro, governadores e dos reitores.. Infelizmente, o campo da oposição de esquerda não atuou de forma unificada, não construindo plenárias e atividades em comum, propondo calendários de lutas e se diferenciando a fundo da majoritária da UNE. Os coletivos da OE chegaram a defender resoluções junto com setores do PT e uma carta que não apontou nenhum calendário, com o campo majoritário.
Nós fazemos um chamado aos companheiros do Juntos, Rua, Correnteza, Afronte, UJC, Manifesta, Enfrente e ativistas independentes que se identifiquem com o campo da Oposição, a se unificar nas lutas e no dia-a-dia do movimento estudantil, se colocando como uma alternativa de direção e construindo um polo alternativo desde a base!
As calouradas têm que apontar a luta unificada contra Bolsonaro e pela educação!
O retorno das aulas está próximo na maioria das universidades federais e uma tarefa está colocada para o centros acadêmicos que farão a recepção de calouras e calouros em todo o país: organizar a partir de assembleias de base e passagens em sala a mobilização estudantil nos dias 8, dia internacional de luta das mulheres; o dia 14, em que marca um ano do assassinato de Marielle e Anderson; 28 de março, dia de mobilização estudantil na data em que marca a morte de Edson Luís, estudante assassinado pela ditadura militar. Depois dessa jornada de lutas em março, é preciso que as centrais sindicais e sindicatos ligados à educação preparem um dia de paralisação nacional em abril.