O acordo Irã-Estados Unidos: se fecha o cerco contra a Revolução Síria
| Tradução de Eduardo Rodrigues
Por Layla Nassar, Josep Lluis del Alcazar
Na publicação "Lucha Internacionalista", do Estado Espanhol. Em 10/12/13.
No dia 24 de novembro Estados Unidos e Irã firmaram em Genebra um tratado provisório segundo o qual Teerã congelará durante sei meses seu programa nuclear em troca de um abrandamento das sanções. Nesse período se poderá negociar um acordo definitivo. O pacto tem o aval da alta representante da política exterior europeia, Catherine Ashton, e dos ministros de exteriores da Rússia, França, Alemanha, Reino Unido e China.
Israel, lança altos brados. Como sempre, fomenta o discurso do medo, ainda mais quando a luta dos povos da região abala seu quadro de estabilidade. Mas por trás de toda a conversa, Obama está fazendo seu trabalho: sem armas nucleares no Irã (e sem armas químicas na Síria) nada poderá ofuscar o maior exército do mundo. Mas no fundo fica uma pergunta que não tem nenhuma resposta justificável: Por que Israel pode ter armamento nuclear fora de todo o controle internacional (…) e o Irã tem que ceder senão quer ser afogado por sanções? Todo o aparato imperialista está trabalhando para conseguir que Israel – um dos quatro países do mundo que não ratificou o tratado de não proliferação nuclear – continue sendo a única potência nuclear no Oriente Médio, uma zona estratégica do planeta.
Por que Irã aceita as condições do imperialismo? A resposta chave é interna. As mobilizações e o mal estar entre a população, derivadas do impacto econômico da crise capitalista, agravado pelas sanções e a falta de liberdades (depois do esmagamento da revolta de 2008), tudo isto, poderia fazer chegar ao Irã a onda revolucionária que sacode, todavia, o Norte da África e o Oriente Médio.
O desemprego, que agora chega a 11,2% (3,5 milhões) ameaça disparar.
A taxa anual de inflação é de 39%. O rial, a moeda local, perdeu 75% de seu valor em dezoito meses. As exportações de petróleo passaram de 2,5 milhões de barrís diários em 2011 (por valor de 95.000 milhões de dólares) para menos de um milhão (69.000 em 2012). O valor de 2013 será ainda menor. Com o acordo se aliviam as sanções contra Teerã e a possibilidade de começar a exportar bruto.
Mas a colaboração entre o regime dos aiatolás e o imperialismo na região leva anos. De fato, Irã tem sido determinante para manter o governo da ocupação americana no Iraque de Nuri Al Maliki, que viveu o exílio entre Damasco e Teerã. No último 1º de novembro o primeiro ministro iraquiano visitava Washington com o tema das relações com Irã na agenda e se oferecia a facilitar a reta final das negociações.
O acordo sela a unidade contra a Revolução Síria
Os primeiros a felicitarem-se pelo acordo foram o ditador sírio Bashar Al-Assad e os islâmicos do Hezbollah, a milícia libanesa aliada de Teerã que combate na Síria junto ao regime. Também desde o Iraque, Maliki o saudou como um "grande passo para a segurança e estabilidade" na região. A negociação do acordo se cruzou com a ameaça de ataque imperialista na Síria. O teatro dos enfrentamentos entre os interesses do Irã e os do imperialismo quanto ao regime sírio desaparece e se evidencia o acordo de fundo entre o imperialismo e os Aiatolás: afogar a luta da juventude e dos trabalhadores.
Se fecha o cerco e o imperialismo pactua com os principais aliados do regime sírio: primeiro com Rússia a entrega do arsenal químico sírio para evitar um ataque direto; e agora com Irã que renuncie a disputar com Israel a hegemonia militar na região. Parece que as discrepâncias se acabam e se certifica a frente de "todos" contra o povo da Síria. Al-Assad pode estar tranquilo: ninguém de fora irá se interpor em seu caminho. Tampouco é casual que a outra contraofensiva da contrarrevolução, o golpe de estado do Egito que conta com o apoio dos norte-americanos e de Israel, também contara com o apoio do regime de Bashar Al Assad.
Com o acordo entre os Estados Unidos e Irã, o regime de Al Assad tem carta branca para interromper a Revolução, agora ainda mais isolada. Nos dias em que se firmavam os acordos, o regime lançava uma nova ofensiva na região de Qalamun contra as posições rebeldes com o apoio de Hezbollah e das milícias xiitas iraquianas.
Faz falta a solidariedade internacional com a luta do povo sírio
A Revolução Síria se enfrenta com um governo ao qual não falta armamento, que chega da base russa e do Irã, enquanto se aplica o embargo dos Estados Unidos e da União Europeia contra as forças revolucionárias. A entrada de armamento procedente de Qatar e Arábia Saudita, e consentida pela Turquia a conta-gotas, tem sido dirigida a setores islâmicos (Al Nusra e o Exército Islâmico do Iraque e Síria), que lutam por objetivos totalmente alheios ao da Revolução e tem imposto um conflito sectário que trouxe confrontos com os comitês locais, o exército livre e os curdos.
Mas, apesar desse brutal isolamento, a resistência do povo sírio contra o regime não pára. Possivelmente porque os 150.000 mortos e as dezenas de milhares de detidos, desaparecidos e torturados são muitas razões para continuar a luta. Mas a esquerda internacional, a que deveria se colocar ao lado deste povo contra o tirano, o imperialismo e o bloqueio das grandes potencias que querem estabilidade a qualquer preço, abandonou este povo.
Aqueles que se identificam com o chavismo o fazem abertamente, apoiando o regime assassino. Os PCs assinando teorias conspiratórias, negam mesmo a existência da revolução. E outro setor diz: "que não se molha" porque tudo é "muito complicado", que exige uma revolução "pura" para terminar impondo ao povo sírio uma série de condições que não se aplica à esquerda em sua prática cotidiana. E com esta política de uns e outros, a esquerda síria está cada dia mais isolada, sem armamento e sem apoio político nem material, enquanto o islamismo vai se impondo sobre o terreno, com a força que chega de fora. Basta de silêncio cúmplice, faz falta de uma vez por todas colocar em marcha a solidariedade internacional com o povo da Síria