Repudiamos a brutal repressão no Egito!! Abaixo o governo civil-militar!!

Declaração do Comitê de Coordenação UIT-QI/CEI | Tradução Eduardo Rodrigues

No Egito se produziu um massacre pelas mãos dos militares e da polícia da nova ditadura instalada em julho. O violento despejo dos dois acampamentos de manifestantes egípcios que apoiavam ao deposto presidente islâmico, Mohamed Mursi deixou mais de 600 mortos e milhares de feridos. Estes são os primeiros cálculos, mas pode ser maior.

Esta é a jornada mais sangrenta que o país vive em sua história. A selvagem repressão ordenada e executada pelo governo civil-militar ocorreu não só na capital, Cairo, mas também em várias cidades do interior.

Desde o golpe de Estado de 3 de julho, os partidários do ex-presidente Mursi, convocados pela Irmandade Muçulmana se mobilizaram massivamente de forma permanente e terminaram instalando vários acampamentos reivindicando a liberdade de Mursi e sua reintegração no governo. O exército reprimiu várias vezes seus protestos e, finalmente, na quarta-feira 14 lançou uma selvagem repressão sobre os acampamentos em várias cidades e em diferentes bairros do Cairo. Especialmente na praça de Rabaa al Adaweya onde ficava um dos acampamentos.

Muitos dos corpos tinham sido baleados na cabeça ou no peito, mostrando claramente a ação de atiradores de elite do Exército. "As balas caem sobre os manifestantes de Rabaa al Adaweya de todas as direções", disse o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Mohammed el Beltagui, quem mais tarde foi detido pela polícia nas imediações da praça. Entre os assassinados pela repressão se encontram um jornalista do Gulf News e um cinegrafista do canal Sky News.

Após o massacre, o governo declarou o estado de emergência por um mês e anunciou um toque de recolher no Cairo e em 10 províncias (Gizé, Alexandria, Beni Sueif, Menya, Assiut, Sohag, Beheira, Sinai do Norte e do Sul e Suez), em uma tentativa de controlar a situação e evitar novas mobilizações.

Os povos do mundo devem repudiar este massacre

Cinicamente o governo de Obama "condenou" a violência, embora nunca tenha repudiado o golpe e siga enviando uma milionária "ajuda" militar de 1550 milhões de dólares para o exército egípcio. Tudo isso para continuar "pagando" seu apoio para a "paz" com Israel, contra o povo palestino. É por isso que logo após o golpe de julho, o governo e o exército egípcio fechou a fronteira com Gaza.

São os povos árabes e do mundo os que devem sair às ruas exigindo que pare este massacre e que se dê um fim a esta nova ditadura instalada no Egito.

São os militares que realmente exercem o poder no Egito, liderados pelo sanguinário e repressor general Abdel Fatah al Sisi, o ex-Ministro da Defesa do Governo Mursi, utilizado em Julho, na genuína rebelião popular contra o governo de Mursi e a Irmandade Muçulmana, com milhões mobilizados na emblemática Praça Tahrir, para tomar o poder com um golpe de Estado.

Em julho, equivocadamente o povo e os jovens mobilizados, saudaram a intervenção militar e a ocorrência de um golpe. Inclusive, os militares e seu novo governo receberam o apoio de setores da esquerda egípcia, que impulsionam a Frente de Salvação Nacional, entre eles a organização juvenil Tamarud, que impulsionou a revolta contra Mursi, e a Federação Sindical Independente, que colocou o Ministro do Trabalho. Somente o movimento juvenil 6 de abril tomou distância do governo militar.

Rejeitamos a política de colaboração de classes de um setor das forças de esquerda que hoje participa da Frente de Salvação Nacional, junto aos fulul (setores remanescentes do antigo regime) e as forças liberais. O apoio de uma maioria da esquerda ao golpe militar – que o legitima perante as massas – terá um preço muito alto. Somente o povo, seus trabalhadores, as mulheres e a juventude revolucionária mobilizados e no poder podem alcançar as mudanças fundamentais que têm sido levantadas desde a revolução iniciada em 2011.

Os socialistas revolucionários dissemos naquele momento que era um grave erro aprovar o golpe e abrir uma confiança nos militares e em seu novo governo integrado por forças políticas e lideranças políticas patronais e pró-imperialistas que se opunham à Irmandade Muçulmana. Como o Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, que agora renunciou, depois de ter apoiado repressões anteriores. O verdadeiro poder são os militares que vem reprimindo e prendendo milhares de partidários da Irmandade Muçulmana. Se trata de uma nova ditadura que massacra o povo e que ameaça as conquistas democráticas da revolução árabe.

Basta de repressão! Abaixo a nova ditadura! Liberdade para os presos políticos!

Rejeitamos a repressão contra a Irmandade Muçulmana. Os setores populares que hoje são massacrados são imprescindíveis para aprofundar a revolução. Eles devem romper com a direção islâmica neoliberal, mas isso só é possível se a esquerda assumir uma política de independência de classe. Além disso, os ataques dos militares contra partidários de Mursi, só preparam a repressão contra as forças da esquerda amanhã.

Em primeiro lugar, devem ser os trabalhadores, a juventude e o povo do Egito que tomem as ruas para acabar com estes massacres e exigindo o fim da ditadura. Os mesmos que se mobilizaram contra Mursi devem fazê-lo agora. Começando pelo movimento Tamarud e a Federação Sindical Independente, que devem romper já com os militares e ir às ruas para exigir o fim da repressão à Irmandade Muçulmana e a libertação de todos os seus dirigentes e militantes presos.

Nós, socialistas revolucionários, apoiamos a mobilização popular contra o governo de Mursi e da Irmandade Muçulmana, porque Mursi junto com os militares seguiu reprimindo o povo e governando para os de acima. Nós não demos nenhum apoio político para a Irmandade Muçulmana porque se trata de uma força social e política patronal, ligada a grandes sectores empresariais egípcios. Mursi foi cavando sua própria cova porque não quis romper com o antigo regime, mas sim uma transição pactuada para conter a revolução. Para este objetivo encontrou o apoio do Exército e dos Estados Unidos.

Mas nunca apoiaremos a um governo militar e sua repressão. E menos ainda que sejam eles os que julguem a Mursi e aos líderes da Irmandade Muçulmana. Será o povo e as suas organizações que o farão. Este tem sido um grande erro de setores da juventude e da esquerda egípcia. Não há nem militares nem golpes progressivos. Apenas os trabalhadores, a juventude revolucionária e o povo no poder trarão a mudança fundamental que impulsionou a revolução árabe. Por isso exigimos que pare toda a repressão, que se retire o estado de emergência, se liberte o ex-presidente Mursi e a todos os dirigentes e militantes da Irmandade Muçulmana, que saiam todos os militares e se constitua um governo das organizações sindicais, juvenis e populares que derrubaram Mubarak em 2011 e imponha-se um plano econômico operário e popular de emergência.

Em uma dinâmica de revolução permanente, as massas avançam na experiência da mobilização e estão derrotando obstáculos, como o islamismo político, que aparecia como a principal força política com capacidade para desviar a revolução de seus objetivos. Mas as necessidades das massas e suas reivindicações democráticas e sociais não têm saída sem um projeto que avance em direção ao socialismo e rompa com qualquer resto do antigo regime. A derrubada de Mursi comprova que este processo não pode se dar por etapas, consolidando primeiro uma democracia parlamentar burguesa e, em seguida, avançando em medidas sociais, porque toda política que não progrida em direção a ruptura com o capitalismo, dará às forças reacionárias uma chance de se reagrupar. E porque, se a democracia não significa pão e trabalho, que sentido terá para os milhões de que saíram à ruas em 30 de junho? O dilema não é islamismo ou ditadura, mas sim ditadura ou revolução.

Desde o Comitê de Coordenação UIT-CI/CEI chamamos aos trabalhadores e os povos do mundo e todas as organizações que se declaram democráticas e de esquerda a pronunciar-se contra esta repressão criminosa e pelo fim desta nova ditadura militar.

– Repudiamos o massacre perpetrado por militares no Egito!
– Basta de repressão! Fora o estado de Emergência!
– Liberdade a Mursi e a todos os presos políticos da Irmandade Muçulmana!
– Fora o governo civil-militar!
– Por um governo das organizações sindicais, juvenis e populares que derrubaram Mubarak!

Comitê de Coordenação UIT-QI/CEI

Unidade Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI) / Comitê de Enlace Internacional (Frente Operária da Turquia – Luta Internacionalista do Estado Espanhol)