31 anos de seu falecimento: Nahuel Moreno e a construção de partidos revolucionários
Por: Francisco Moreira
Foi um construtor incansável de partidos revolucionários e da Quarta Internacional. Polemizou com aqueles trotskistas que abandonaram o programa revolucionário e a tarefa de construir partidos. E também com aqueles que buscavam atalhos, influenciado por distintas ideologias burguesas.
Em outubro de 1917, Lenin e Trotsky, dirigentes do Partido Bolchevique, encabeçaram a tomada do poder pelos soviets na Rússia. Após a morte de Lenin e com o processo de burocratização encabeçado por Stalin desde 1924, Trotsky se convertia na principal figura da oposição de esquerda. O stalinismo, para impor seu programa reacionário de “socialismo em um só país”, liquidava toda a democracia interna dentro do partido, perseguindo e assassinando a geração bolchevique que havia encabeçado a revolução. Enquanto isso, Trotsky tentava dar continuidade ao legado de Lenin e à luta pela revolução socialista. Em 1938, exilado e perseguido, fundou a Quarta Internacional junto a uns poucos seguidores, buscando a construção de um partido revolucionário mundial. Mas seu assassinato em 1940 por um agente stalinista e as dificuldades produzidas pela Segunda Guerra Mundial desagregaram a jovem organização e muitos de seus adesistas iniciais começaram a abandonar seu programa.
O trotskismo argentino e o primeiro aporte de Moreno
Na Argentina, os primeiros trotskistas aparecem em 1928. Na década de 1930, vários intelectuais e alguns operários (entre eles Mateo Fossa) defendiam as posições da oposição de esquerda e, a partir de 1938, da Quarta Internacional. Vários grupos tentavam publicar periódicos e boletins, mas todos com pouca duração. Sua atividade principal era desenvolver intermináveis discussões internas, em um ambiente boêmio cujo local emblemático era o Café Tortoni, do centro de Buenos Aires. Uma de suas principais figuras era Liborio Justo (filho do presidente Agustín P. Justo) que usava o pseudônimo Quebracho e que se somou ao trotskismo durante alguns anos. (1)
Em junho de 1943, o jovem Hugo Bressano, com apenas 19 anos, se uniria à LOR (Liga Operária Revolucionária), impulsionada por Quebracho. Foi ele quem deu à Hugo o pseudônimo Nahuel Moreno, mas o expulsou alguns meses depois, tal como era seu costume. Em julho de 1943, Moreno terminou de escrever O partido (2), um trabalho no qual polemizava com Quebracho e o trotskismo de café.
Aquele texto seria o resultado de uma análise consciente de “Que fazer?” de Lenin (3). Postulava que, na tarefa de construir o partido, o primeiro passo seria “empalmarmos com a vanguarda operária atuando nos organismos de massa, como clubes de bairros stalinistas, sindicatos, oficinas, bairros, comitês de juventude…”.
Em 1944, com a orientação elaborada em O Partido, Moreno fundaria o Grupo Operário Marxista (GOM), levando pela primeira vez uma organização trotskista argentina a militar entre os trabalhadores. Começou sua atividade em Avellaneda, zona industrial do sul de Buenos Aires, no bairro de Villa Pobladora.
Polêmicas no trotskismo do pós-Guerra
O “morenismo” se forjou, na Argentina, enfrentando no seio da classe trabalhadora tanto o projeto “nacionalista burguês” de Perón, como as demais direções que promoviam falsas saídas dentro do marco capitalista. Em 1948, Moreno participou do segundo Congresso da Quarta Internacional e, desde 1951, seria protagonista de seus debates mais fundamentais. Nesse ano, no terceiro Congresso da Quarta, Michel Pablo e seu discípulo Ernest Mandel começaram a impor uma linha de capitulação ao stalinismo (Tito, Mao, entre outros) e aos nacionalismos burgueses na América Latina, Ásia e África (Paz Estenssoro, Ben Bella e outros). Moreno alertou que essa orientação oportunista levava a renunciar a construção de partidos revolucionários e da Quarta Internacional.
O triunfo da revolução cubana em 1959 reacendeu o debate. Moreno defendeu a primeira revolução que adotou medidas de transição ao socialismo na América Latina contra as posições sectárias. Mas enfrentou a corrente mandelista que capitulava à direção castrista. A burocracia cubana se adaptou ao stalinismo e, ao longo do tempo, restaurou o capitalismo.
Frente todos esses fenômenos, e seguindo a posição marxista de Lenin e Trotsky, Moreno reafirmou a necessidade de construir partidos revolucionários como única alternativa de direção para os trabalhadores e demais setores explorados e oprimidos. (4)
A luta para construir partidos revolucionários continua
As experiências de luta do movimento de massas nos séculos XX e XXI demonstram que não há outra alternativa de fundo para as massas exploradas que não passe por novas revoluções de outubro: conquistar governos de trabalhadores que lutem pelo socialismo. Vez e outra a heróica luta dos povos do mundo é levada ao beco sem saída da política burguesa por culpa das direções reformistas ou traidoras. Por isso, a tarefa continua para superar a crise de direção revolucionária em cada país e no mundo.
Está mais vigente do que nunca a luta contra todos aqueles que cedem à confusão na consciência e às modas. Segue a polêmica com aqueles que defendem “mudar o mundo sem tomar o poder”. Também com aqueles que esperam até que exista um acúmulo de forças favoráveis, ou quem afirma que se trata de alcançar o “possível“, ou seja, que somente devemos arrancar conquistas parciais dos patrões e dos capitalistas. Por isso, se propõem a fazer só sindicalismo ou construir “movimentos sociais” ou “partidos anticapitalistas amplos” com programas reformistas. São os que abandonam uma clara diferenciação com os partidos burgueses, renunciam a luta pela expropriação e estatização da economia e/ou a batalha para conquistar governos dos trabalhadores.
A tarefa de construir novos partidos revolucionários sobre a base de um programa de luta pelo poder dos trabalhadores e pelo triunfo de novas revoluções de outubro é o grande desafio do século XXI. A crise dos aparatos políticos reformistas e burocráticos continua. A rebelião das massas contra os governos e seus dirigentes políticos cresce, e isso abre novas oportunidades para seguir batalhando pela direção.
Nesse sentido, um dos principais legados de Lenin, Trotsky e Moreno é que devemos estar abertos a novos fenômenos políticos e sindicais que possam surgir, intervindo sem sectarismo e com toda audácia para construir partidos revolucionários. Desde a Unidade Internacional dos Trabalhadores (UIT-QI) seguimos o caminho para reconstruir a Quarta Internacional, buscando a unidade com outras forças revolucionárias.
(1) GONZÁLEZ, Ernesto (coordenador). “El trotskismo obrero e internacionalista”. Tomo 1. Editorial Antídoto. Buenos Aires: 1995.
(2) Moreno. “El partido”. IN: Problemas de organización. CEHUS. Buenos Aires: 2017
(3) Moreno. Op. cit.
(4) Moreno, Nahuel. “El partido y la revolución. Edições El Socialista. Buenos Aires: 2013.