Uma “santa aliança” contra o povo catalão
O vacilante Puigdemont suspendeu a independência e a sujeitou a uma negociação com Madri. Só a mobilização popular e operária, junto com a solidariedade dos trabalhadores do resto do Estado espanhol, pode alcançar que se faça efetiva a decisão da maioria do povo catalão de constituir uma república independente.
Dezenas de milhares de manifestantes se reuniram em torno do Parlamento catalão na tarde de 10 de outubro para esperar a declaração de independência. O chefe do governo catalão suspendeu a declaração e a condicionou a negociações com o regime monárquico. Milhares vaiaram Puigdemont e se retiraram em sinal de protesto. A Candidatura de Unidade Popular (CUP) rechaçou a suspensão da independência. A frente contra a independência é encabeçada pelo imperialismo. Em reunião dia 26 de setembro com Rajoy, na Casa Branca, Trump foi claro em seu apoio ao regime monárquico e a unidade do Estado espanhol. “Creio que a Espanha é um grande país e teria que seguir unida”, assegurou o magnata racista que governa os Estado Unidos, a menos de uma semana do referendo em que mais de 90% dos votantes catalães se expressaram a favor da independência.
A resposta do próprio Rajoy a este exercício democrático foi enviar milhares de repressores para atacar com fúria os votantes, gerando centenas de feridos. Logo depois da grande greve geral em que os trabalhadores catalães deram uma resposta unificada a repressão e em defesa da independência, grandes empresas como CaixaBank, Banc Sabadell, Gas Natural, VidaCaixa, Colonial, Abertis, Mediolanum e vinte mais anunciaram sua saída da Catalunya, em boicote a independência e pelo clima de mobilização popular, que consideram pouco propício para os negócios capitalistas. Em 5 de outubro o papa Francisco manifestou ao embaixador espanhol que estava contra a autodeterminação do povo catalão. No mesmo teor se pronunciaram autoridades da União Europeia logo depois do referendo, os grandes blocos do Parlamento Europeu e a Comissão Europeia, apoiando a repressão de Rajoy.
Somado a isso, o regime espanhol tem deixado atuar impunemente grupos neonazistas em Zaragoza e Valência e têm sido realizadas mobilizações em Madri e Barcelona com consignas patrióticas e cânticos franquistas. Inclusive o porta-voz oficial do Partido Popular, Pablo Casado, ameaçou os independentistas com um destino similar ao de Lluis Companys, cujo movimento independentista foi esmagado militarmente em 1934 e anos depois foi capturado na França e entregue pelos nazistas a Franco, que o torturou e fuzilou. O PSOE e Izquierda Unida, onde estão os restos do PC espanhol, defendem o regime de 1978. “Podemos” chama um movimento por negociação, chamado “Parlem”.
Ante esta ofensiva, o governo autônomo da Catalunha não cumpriu sua promessa de declarar a independência após 48 horas do referendo e finalmente tem emitido uma declaração ambígua de independência, em espera. É preciso fazer valer a vontade majoritária do povo catalão por independência, que se expressou no referendo e na greve geral. Os companheiros de Lucha Internacionalista (LI) advertem em uma declaração de 6 de outubro que retroceder ante as pressões do regime seria desastroso: “Só a proclamação da república, acompanhado a firme vontade popular, nos colocará em melhores condições para neutralizar a repressão. De encarar melhor o que virá como um conflito entre a República Catalã e a Monarquía espanhola, que não desde o marco de uma autonomía interventista.
[…] Proclamar e manter com firmeza a República catalã é manter a mobilização na rua. Por isso nós temos que organizar desde baixo, nos locais de trabalho e estudo, e aprofundar os organismos que foram chaves em 1/10: os comitês em defesa do referendo, agora de defesa da república. Sua coordenação e fusão com as forças sindicais e o movimento estudantil que fizeram possível a greve geral é urgente, com um plano de continuidade que inclua novas convocatórias de greve”. Mais de 80% da população na Catalunha e do País Basco repudiam a repressão de Rajoy e quase 50% no resto do Estado espanhol.
É crucial para derrotar apodrecido regime espanhol a unidade dos trabalhadores de todo território ibérico e o aprofundamento da mobilização e a organização popular autônoma. Lamentavelmente a Intersindical-CSC desmontou a segunda greve geral, diante das tentativas de criminalização. Como diz LI: “na Catalunha se joga o futuro imediato da Monarquia em todo o estado. Por isso os protestos já começaram a expressar força nas ruas do País Basco, Madri e Andalucía. Há que fazer um chamado à solidariedade dos povos e trabalhadores do estado espanhol e internacionais. Seria fundamental convocar em Barcelona um encontro com organizações políticas, sindicais e sociais de todas as partes”.