As causas do longo conflito entre a Coréia do Norte e os Estados Unidos
A tensão não tem deixado de crescer no leste asiático. O governo norte-coreano teria detonado uma bomba nuclear subterrânea no dia 3/9. A resposta de Trump foi rápida: Ameaçou com novas sanções econômicas que já estão sendo discutidas na ONU, e não descartou uma resposta militar. A corrida armamentista não para. Depois de 25 anos a Coreia do Sul volta a instalar um arsenal nuclear de origem norte-americana que havia sido retirado nos anos 90 em um acordo entre as duas Coreias.
Qual é a razão do conflito? Realmente pode-se começar uma guerra na Ásia oriental?
Cenas similares têm acontecido nos últimos 20 anos. Será esta a última vez antes de estourar uma nova guerra?
São poucos os que acreditam que se pode chegar a uma guerra total, além de algumas tensões que se vem produzindo nos últimos anos. Porém não se pode descartar pelo caráter criminal e irresponsável dos adversários. Por um lado, um regime ditatorial de velho cunho stalinista, odiado por seu povo, e de outro, Donald Trump e o imperialismo ianque, que quer manter seu papel de polícia do mundo a todo custo e favorecer a indústria armamentista norte-americana. Trump, para que não fique duvidas, anunciou na rede social Twitter: “Vou permitir o Japão e a Coréia do Sul comprar uma quantidade substancialmente maior de equipamentos militares altamente sofisticados dos Estados Unidos” (Clarín, 6/9).
Qual é a origem desse conflito?
A Coréia foi ocupada pelo Japão até o fim da Segunda Guerra Mundial. Nas conferências de Yalta e Potsdam em 1945, os aliados, incluindo a URSS, pactuaram em dividir as Coréias. O Norte para influencia soviética e o sul para os ianques. Em junho de 1950 se desatou uma guerra apoiada pelo povo coreano. A China apoiou os norte-coreanos. Depois de três anos de guerra, os sul-coreanos e as tropas dos EUA, comandadas pelo general MacAtrthur foram derrotados. Entretanto houve um acordo em 1953 na ONU construído pelos Estados Unidos e a União Soviética, obrigando a ratificar a divisão das coreias pelo paralelo 38*. Desde então o conflito segue aberto.
Agora Trump quer colocar sob os ombros do governo norte-coreano a responsabilidade por uma nova guerra, aproveitando do seu caráter ditatorial e imprevisível. Mas, na realidade e o imperialismo que há anos tem questionando o direito soberano da Coréia do Norte desenvolver energia nuclear.
O Conselho de Segurança da ONU, com apoio de Rússia e China, já tomou algumas sanções sobre a Coreia do Norte. Em que pese nosso rechaço político ao regime ditatorial da família Kim, repudiamos essas sanções e outras que se adotem. O país mais agressivo do mundo, os Estados Unidos, tem milhares de mísseis atômicos. Israel tem 200 bombas nucleares. E ninguém sancionou os Estados Unidos e nem Israel.
Os socialistas revolucionários, que somos integrantes da Unidade Internacional dos Trabalhadores-Quarta Internacional, não reconhecemos nenhum direito do imperialismo e seus lacaios a questionar ninguém por suas decisões soberanas. São eles os primeiros agressores do mundo e promotores de todo o armamento atômico e nuclear. Por isso, se finalmente se impuser um ataque militar, estaremos ao lado do povo da Coréia do Norte.
Uma ditadura “comunista” capitalista
Isso não significa dar nenhum apoio a ditadura do chamado Partido dos Trabalhadores da Coréia do Norte, uma ditadura de partido único que governa com mão de ferro há mais de 60 anos. Um regime que segue venerando Stalin, que chegou ao cumulo de tornar-se uma “dinastia comunista”, já que se iniciou liderada por Kim Ji-Sung, avô do atual presidente, o jovem Kim John II que herdou o cargo de seu pai, o ditador Kim-Jom. É tarefa do povo norte-coreano dar fim à ditadura capitalista de forma stalinista.
A queda da ex-União Soviética em 1900-1991 e o processo de restauração capitalista ali e na China a deixaram política e economicamente isolada. Isto, somado a dois anos seguidos de catástrofes com inundações – em 1995 e 1996 – e uma administração burocrática e corrupta produziu uma grave escassez de alimentos em 1997, chegando a um quadro de fome que deixou saldo de mais de 3 milhões de mortos em um país com população de 25 milhões (Coreia do Sul registra um pouco mais de 50 milhões).
Ainda que tenha ocorrido o desastre, a burocracia cívico-militar governante seguia com seus altos salários e privilégios, criando a loucura de uma indústria nuclear. Ao mesmo tempo o país ia se arrebentando, com escassez de alimentos, apagões elétricos permanentes e quase sem transporte pelo continuo desabastecimento de combustíveis.
Na realidade, esta ditadura nada tem de comunista ou de socialista, exceto pelo nome. Por que desde os anos 90 entrou em curso a restauração do capitalismo seguindo o exemplo do seu vizinho e conselheiro, Partido Comunista da China. Com salários de 60-80 dólares, sem sindicatos, nem direito a greve, o investimento estrangeiro direto foi autorizado em 1999. Assim foram se instalando no norte do país empresas do capitalismo chinês, e no sul criou-se um complexo acordado com a Hyundai, multinacional sul-coreana, e no resto do país já existem investimentos da Fiat, Siemens, e capitais da Rússia, Paquistão, Cingapura e Tailândia que se voltam ao setor mineiro, petrolífero, energia nuclear, de eletrodomésticos, ferroviário, e vários outros, com dificuldades para os capitalistas pelos cortes e energia e baixa infraestrutura( menos de 10% das estradas são pavimentadas).
Milhões se perguntam: Porque a ditadura coreana segue há anos com seus testes de misseis e com ameaças aos EUA? Realmente querem uma guerra que seguramente pode devastar o país? O que querem?
A realidade por trás destas perguntas tem a ver com a crise econômica e social que enfrenta a Coréia do Norte. Cujo ditador e os privilegiados e corruptos que o rodeiam buscam, de forma demencial uma negociação para subsistir como regime com respaldo do exterior.
A entrada do capitalismo não fez mais que aprofundar a exploração e miséria das massas norte-coreanas e sua crise econômica e social. Por isso a ditadura usa a chantagem e testes nucleares para buscar uma negociação com o imperialismo ianque, obtendo concessões como a entrega massiva de alimentos (ocorreu várias vezes no governo Clinton) e buscando construir o status capitalista como a China e o Vietnã. Rússia e China alimentam essa negociação com um regime que consideram aliado.
Trump usa a Coréia do Norte para fortalecer sua presença militar na região e favorecer os negócios armamentistas
Os Estados Unidos tem uma presença militar permanente desde 1953, com cerca d 40 mil soldados na Coreia do Sul, sua ponta de lança no leste da Ásia. Há tempos declarou a Coreia do Norte como parte do “eixo do mal”, como um Estado terrorista. Se negando, desde a era Bush a fechar um acordo econômico-político mesmo que o tenha feito com China e Vietnã.
Na verdade, o imperialismo exagera o suposto poderio norte-coreano para ter justificativas para que seus aliados continuem aumentando seus negócios e fortaleçam sua presença militar na Coreia do Sul e em toda a região. Cada ameaça da Coreia do Norte tem servido para aumentar sua presença com tropas, navios e aviões em uma região chave do globo. Existem suspeitas de que a Coreia do Norte não tem o potencial nuclear declarado e que se usá-lo pode acabar rapidamente. Já que é um país muito atrasado em infraestrutura e tecnologia industrial.
Trump retoma a “doutrina” de Bush de criar os “eixos do mal” e de ter na Coréia do Norte o bode expiatório preferido para seguir usando em sua corrida armamentista.
Os socialistas revolucionários, sem prestar nenhum apoio político à nefasta ditadura norte-coreana, exigimos o fim das sanções econômicas da ONU à Coreia do Norte, rechaçamos qualquer agressão militar imperialista, e reivindicamos a imediata retirada das tropas imperialistas na Coreia do Sul e em todo o leste asiático.
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