Cuba abre agricultura ao investimento externo
Dom 11/11/2012 – 21:25 | Laclasse.info – Tradução Felipe Melo
Por: Fernando Ravsberg
Na próxima safra açucareira cubana, a empresa brasileira Odebrecht irá administrar uma central da província de Cienfuegos. Será a primeira instituição estrangeira a participar da agroindústria desde 1959, quando se nacionalizaram os engenhos que antes eram controlados pelos Estados Unidos da América (EUA).
Os investimentos brasileiros crescem rapidamente graças a um crédito nacional de "mais ao menos US$ 1 bi, com um porto e com créditos para aquisições, talvez um pouco mais", explicou à BBC Mundo o embaixador do Brasil em Cuba, José Felício.
A indústria açucareira foi, desde a época de colônia, o motor da economia cubana. Contudo, a partir da crise econômica dos anos 1990 a produção diminuiu: de cerca de sete milhões de toneladas nos anos 1980, para somente 1, 38 toneladas na colheita do ano passado.
Buscando revitalizar o setor, o governo colocou à frente do Ministério um grupo de generais mais reconhecidos e depois dissolveu o mesmo, o convertendo em um grupo empresarial. Porém, nade tem conseguido que a indústria açucareira alcance nem sequer as suas modestíssimas metas anuais.
O embaixador do Brasil em Cuba garante que a linha de créditos é de mais de US$ 1 bi
A autorização para a Odebrecht intervir e administrar uma central é uma mostra da prioridade que o governo cubando concede para as relações com o Brasil, que neste momento também constrói a maior obra do país: o porto de Mariel, que vai custar cerca de US$ 800 mi.
Segundo o embaixador Felício, a estratégia regional brasileira é aproveitar a bonança econômica para impulsionar toda a região, visto que o Brasil não poderia crescer a margem dos seus vizinhos pobres, "porque o vai ocorrer é que essa pobreza vai se mover para nós".
O embaixador acrescenta que o Brasil pensa em produzir eletricidade com o bagaço de cana, "nós temos experiências, nossas plantas são suficientes e talvez se consiga algum crédito brasileiro para importar caldeiras e máquinas de turbina para produzir eletricidade".
O contrato para a administração da central açucareira "5 de setembro" será de 13 anos e outras empresas estrangeiras estariam negociando acordos similares, apesar que as leis dos Estados Unidos sancionem os que invistam em propriedades que tenha sido nacionalizadas.
De locomotiva a vagão
Desde 1990 a indústria tem tido uma que brutal na produção, passando de 7 milhões de toneladas para pouco mais de uma. Muitas vezes se especulou a possibilidade de investimentos na agricultura, porém, nunca, até agora, se atreveram a dar um passo em essa direção. O fato de que estavam totalmente em mãos cubanas era visto por alguns como um símbolo de soberania nacional.
Outro problema que enfrentava a direção política do país era que muitos investidores estrangeiros querem produzir açúcar para gerar biocombustíveis, proposta que tinha oposição pública e radical do ex-presidente Fidel Castro.
Finalmente optaram por deixar de lado a agroindústria, reduzindo-a pela metade, promovendo a paralisação de 70 centrais e realocação de milhares de trabalhadores. Foi um tsunami social que converteu em povos fantasmas as "company towns" – locais onde moravam os trabalhadores da indústria açucareira – que rodeavam os engenhos de açúcar.
Depois foi dito que os campos que estavam ocupados pela cana serviriam para criar granjas para a produção de alimentos, mas o certo é que o que mais se colheu foi "marabú", uma erva daninha que invadiu mais da metade do total das terras cultiváveis do país.
Política e açúcar
Durante a primeira metade do século XX, o EUA comprava uma cota de açúcar de Cuba com preços preferenciais, o que permitia manter um nível de vendas estáveis e com uma boa rentabilidade. No entanto, esse acordo se acabou com o triunfo da revolução socialista no país.
A reforma agrária nacionalizou centrais açucareiras e terras de propriedades de empresas estadunidenses. Washington respondeu eliminando "a cota" e deixando de comprar açúcar de Cuba, um golpe que poderia ter sido fulminante para a economia da ilha.
Neste momento foi determinante a entrada da União Soviética no jogo, que comprou toda a produção de açúcar de Cuba a preços ainda mais "preferenciais" que os oferecidos pelos Yanques. Assim a agroindústria sobreviveu a revolução recente.
A dissolução da URSS trouxe crise ao setor açucareiro que enfrentou um mercado que naquela época pagava preços inferiores aos custos da produção cubana. O governo de Fidel Castro decide, então, fechar a metade das 150 centrais de existiam no país.