Frente contra a crise e a Constituinte fraudulenta do governo Maduro
por Sintrasalud Capital, Sinatra UCV, C-CURA e PSL
Não vote no dia 30 de Julho
Diversas organizações sindicais e políticas, nos pronunciamos contra a tentativa do governo venezuelano de aprovar uma Assembleia Nacional Constituinte (ANC), fraudulenta e antidemocrática, sem consulta prévia a ninguém, com objetivos de perpetuar Maduro no poder, não realizar eleições e avançar em medidas cada vez mais repressivas e de restrições às liberdades democráticas. Uma Constituinte que não responde às urgentes necessidades do povo trabalhador, como alimentação, saúde, salários dignos, emprego e segurança.
Tudo isso, no contexto de uma brutal crise econômica, com salários destruídos; uma inflação galopante; escassez de produtos, sem precedentes; corrupção; importações fraudulentas; fuga de capitais; demissões e suspensões, em empresas públicas e privadas; com as reservas internacionais mais baixas, em décadas, e um governo que enfrenta a crise fazendo com que os trabalhadores paguem por ela, aplicando um ajuste selvagem e em total acordo com os empresários, sob o pretexto de uma guerra econômica dirigida pelo “império”.
A ANC representa uma provocação aos setores populares que honestamente acreditaram na democracia participativa e com protagonismo, através da qual enxergavam a possibilidade de intervir diretamente nos problemas mais importantes da vida política, social e econômica da Venezuela. E agora, cinicamente, o governo diz não ser necessário consultar o povo sobre se quer, ou não, uma ANC, evidenciando que nunca acreditou na ação participativa do povo. Parece-nos grotesco que o governo insista na ANC com o argumento de ser um instrumento de paz, quando na realidade tem se constituído em uma declaração de guerra pelo número de mortos, feridos, presos e perseguidos, equiparando-se neste sentido aos governos do Punto Fijo*.
A tentativa do governo da Venezuela de aprovar de qualquer forma e com muita repressão a ANC se produz no marco de uma verdadeira rebelião popular que já dura mais de quatro meses. Rebelião na qual estão se incorporando cada vez mais setores populares, inclusive setores que foram base social do chavismo e não se identificam politicamente com a MUD**.
A situação, hoje, é muito diferente da que aconteceu em 2002 e 2003, quando a burguesia, seus partidos e o imperialismo impulsionaram um golpe e uma paralisação-sabotagem para aniquilar o processo de organização e mobilização popular que estava em desenvolvimento.
Por tal motivo não existe a suposta polarização Chavismo x MUD, visto que a grande maioria do povo quer sair do pesadelo que representa o governo Maduro, no entendimento que a contradição fundamental na sociedade capitalista é entre os que vivemos de um salário e de nosso trabalho e os que exploram esse trabalho e oprimem as maiorias populares. Nesse sentido, tanto a MUD quanto governo Maduro representam o capital e os exploradores.
Neste marco crítico e complexo, as organizações que assinamos este documento consideramos que devemos ter uma posição clara em favor das mobilizações e das diversas expressões de protestos populares e também das paralisações cívicas, convocadas contra o governo e sua Constituinte fraudulenta, sem com isso darmos nenhum apoio nem outorgamos nenhuma confiança à MUD e seus partidos, com nossas próprias palavras de ordem e programa: Fora Maduro! Comida e saúde sem restrições nem chantagens! Salários dignos! Educação gratuita para todos! Imediata suspensão do pagamento da dívida externa! Petróleo 100% venezuelano, sem multinacionais nem empresas mistas!
Consideramos fundamental dar continuidade às paralisações com uma greve geral, pois a greve é o instrumento por excelência de luta dos trabalhadores. No entanto, discordamos das convocatórias irresponsáveis que fazem sindicalistas vinculados com a MUD. Uma greve deve ser discutida e consultada em assembleias. É necessário ir às portas de fábricas e de empresas para fazer o debate e organizar a greve, desde as bases, democraticamente.
Estas iniciativas, as assumimos a partir de uma posição de independência de classe. Não temos nada a ver com a MUD e a combatemos, pois representam interesses opostos aos do povo trabalhador e da juventude que se mobiliza. Rejeitamos sua proposta de Governo de Unidade Nacional, que pretendem como eixo das mobilizações. Também chamamos a atenção dos trabalhadores e do povo sobre o ‘discurso de oposição’ da MUD ser somente isso: discurso, pois se conseguissem chegar ao governo, instrumentariam um pacote de ajuste parecido ao que hoje aplica Maduro.
Neste cenário, são lamentáveis as posturas das esquerdas chavista e não chavista, que se negam a valorizar os genuínos protestos realizados país afora, deixando o povo mobilizado, largado à própria sorte e à disposição da condução oportunista da MUD, que aproveita o descontentamento popular com o governo Maduro para apresentar-se como a única opção, quando na realidade representam interesses antagônicos aos do povo trabalhador.
Concordamos com algumas organizações sobre a necessidade de construir uma alternativa ou uma nova referência política para o povo e os trabalhadores. Para tanto, acreditamos que além das declarações ou ações circunscritas ao que é simplesmente midiático, devemos nos mobilizar com a população e nos unir aos setores que lutam e reclamam por uma direção consequente.
Diante deste quadro e ante a imposição e o abuso do governo Maduro de tentar consumar a fraudulenta Assembleia Nacional Constituente, conclamamos o povo venezuelano a NÃO VOTAR NO DIA 30 DE JULHO e a continuar mobilizado, sem temor, rejeitando as chantagens e as ameaças do governo. Nosso povo está rebelado e não aguenta mais imposições nem manipulações com o “Carnê da Pátria” e as “Bolsas CLAP”***. Não somos mendigos e estamos decididos a tirar esse governo corrupto, de fome e repressivo e a derrotar sua Constituinte antidemocrática.
Assinam:
Sintrasalud Capital
SinatraUCV – Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Universidade Central de Venezuela
José Bodas, secretario general de la FUTPV, Federação Única de Trabalhadores do Petróleo de Venezuela e integrante de C-cura
Miguel Angel Hernández, Partido Socialismo y Libertad
* O Pacto de Punto Fijo foi um acordo político firmado, em 1958, entre os três grandes partidos venezuelanos: Acción Democrática (AD), Unión Republicana Democrática (URD), de centro-esquerda, e o social-cristão, Comité de Organización Política Electoral Independiente (Copei) para assegurar a governabilidade do país, após a derrocada da ditadura de Marcos Pérez Jiménez. O pacto durou quatro décadas, até os anos de 1990.
** Mesa de Unidade Democrática – organização que agrupa as forças políticas da oposição, de direita, pró-imperialista
*** Bolsas CLAP – Bolsas de alimentos, distribuídas pelos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP)
*** Carnê da Pátria, documento de identidade eletrônico que regula o acesso a alimentos adquiridos nos CLAP