“Depois das eleições as lutas continuam”, Orlando Chirino.
Tradução: Pedro Mara | Laclasse.info
Caracas, 10 de Outubro
“Saúdo a todos os trabalhadores, jovens e mulheres que votaram na nossa opção. Saúdo a todos os militantes e amigos do PSL, assim como as organizações de esquerda e personalidades que apoiaram minha candidatura, em que pese a grande pressão que existiu para que os votos se concentrassem nos candidatos majoritários onde a eleição se polarizou”. Assim declarou Orlando Chirino, que foi candidato à presidência da Venezuela pelo Partido Socialismo e Liberdade, em sua primeira atividade depois do último pleito.
“Houve uma aguda polarização entre as duas opções do sistema, tal como se previa. Ambos concentraram 99,4% dos votos. Apesar disso, a nossa candidatura deu uma dura batalha para plantar o slogan de que os trabalhadores devem governar e levantar a bandeira do verdadeiro socialismo. Este grande esforço dos militantes e simpatizantes do Partido Socialismo e Liberdade ganhou o voto consciente de mais de 4 mil trabalhadores, moradores de comunidades e jovens que optaram por dar seu apoio a uma alternativa classista e revolucionaria. Após as eleições reafirmamos mais do que nunca a correta batalha politica que demos em condições adversas.
Enquanto o governo usou todos os recursos do Estado para impulsionar a campanha de Hugo Chávez, enquanto a candidatura de Capriles foi financiada pelo empresariado, não havendo financiamento público nem acesso equitativo para todos os candidatos. Por isso não assinamos o acordo proposto pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral – uma espécie de TSE venezuelano) e exigimos minutos gratuitos para os candidatos e um debate que permitisse apresentar as propostas de cada um”, acrescentou Chirino.
“Reafirmo minhas convicções e as do meu partido, de que não há solução para os problemas dos trabalhadores e do povo com esse falso socialismo que preconiza o presidente Chávez. Reafirmo isso construindo um caminho alternativo, sabendo, todavia, que ainda há milhões de pessoas que têm alguma esperança de que este governo mude. Mas, com todo respeito a esses trabalhadores e moradores das comunidades, lhes digo que não haverá solução, porque depois de 14 anos de promessas não cumpridas, nada indica que iremos discutir e respeitar a negociação coletiva com os servidores públicos, os petroleiros, ou os trabalhadores do cimento e os trabalhadores das empresas básicas. Durante todos esses anos o governo não investiu nas empresas da Guayana, nem na petroleira, nem no setor elétrico, para evitar que desastres como o de Amuay (explosão numa refinaria que deixou 39 mortos) ou que continuem os apagões. Não há nenhuma razão para pensarmos que agora haverá respeito ao direito de greve e a autonomia sindical. Devemos dizer ao povo, aos trabalhadores e aos jovens que Chávez continuará governando com as transnacionais do petróleo, com as empresas mistas, com os empresários a que ele chama ao ‘dialogo’ outra vez”, afirmou o dirigente do Partido Socialismo e Liberdade.
“Capriles e os partidos da MUD (Mesa da Unidade Democrática) não inspiram nenhuma confiança nos milhões de pobres que habitam as comunidades populares. Eles seguem vistos como neoliberais. Chávez soube tirar proveito disto, sobretudo na última etapa da campanha, quando acusou a MUD de possuir um pacote neoliberal debaixo da manga. O irônico é que o governo de Chávez também tem aplicado um plano de ajuste com o aumento da IVA (Imposto de Valor Agregado), liberação dos preços dos alimentos, congelamento salarial e desvalorização monetária”, explicou.
“Lamentavelmente um setor de trabalhadores, especialmente do funcionalismo público, petroleiros, universitários e jovens, optaram por votar em Capriles, tentando punir Chávez, mas sem considerar que Capriles teria dado continuidade à entrega da riqueza do petróleo às transnacionais e os benefícios aos bancos e comercio exterior, em detrimento dos interesses da maioria. A esse setor nós também chamamos para que venham construir essa alternativa política”. Para Chirino, depois de concluída a eleição presidencial, os problemas dos trabalhadores se mantem e aluta continua. “Durante a campanha eleitoral afirmamos que enquanto os trabalhadores não governassem os problemas dos venezuelanos iriam seguir sem solução, e haveríamos de seguir lutando. Um exemplo desse caso são os trabalhadores das universidades que estão mobilizados por seu contrato e aumento salarial, assim como os da Sidor e das empresas de alumínio, que se preparam para discutir os seus contratos. Outros seguirão lutando por habitação, por trabalho e pelo serviço público gratuito. Esta é a situação de milhões de pessoas, além do resultado eleitoral. Está claro que os que votaram em Chávez ou votaram em Capriles continuarão lutando e se mobilizando por seus direitos, e seguiremos militando e agitando que é necessária uma saída de fundo diante dessa crise”.
Além dos votos obtidos no calor da campanha eleitoral houve avanços importantes para o Partido Socialismo e Liberdade. “Para nosso partido os resultados concretos deste processo são positivos, que não se medem somente pelos votos. Assentamos as bases para seguir construindo um partido revolucionário e estendendo sua influencia a 20 Estados do país. Nas eleições legislativas em Dezembro teremos candidatos em 14 Estados e teremos pelo menos 8 candidatos a governadores. Demos visibilidade para nossas propostas programáticas em todo o país, chegando a mil ativistas. Isto se concretizou em mais de 4 mil votos conscientes por uma alternativa verdadeiramente socialista e revolucionaria. Avançamos na possibilidade de construir uma alternativa verdadeiramente de esquerda, entre numerosos ativistas e lutadores em todas as regiões do país. Cada vez mais estamos com capacidade de representar os trabalhadores, os lutadores populares e a juventude, uma opção revolucionaria, que está nas lutas cotidianas do povo, assim como no terreno eleitoral, e que continua levantando a necessidade de que o petróleo seja 100% venezuelano, sem empresas mistas nem transnacionais, que a PDVSA seja gestada democraticamente pelos trabalhadores, e que os recursos da renda do petróleo estejam a serviço das necessidades do povo venezuelano”, concluiu o dirigente do Partido Socialismo e Liberdade.