Conclusões sobre o fracasso do ato do MBL
por Diego Vitello – CST-PSOL
Dia 26/03 ocorreu o ato que estava marcado há meses pela direita que se organiza no MBL e Vem pra Rua. Após meses sem ir pra rua, tentando blindar o governo corrupto de Temer de todas as formas, acharam que era hora de sair às ruas. Assustados com o descontentamento popular generalizado no país, quiseram manter mobilizada uma base social que se mobilizou sob suas bandeiras na época do impeachment de Dilma. Com uma pauta difusa e pouco convincente, centrada na defesa da lava-jato, no fim do foro privilegiado, e envergonhadamente favorável à Reforma da Previdência. Porém, o ato que vinha sendo preparado e convocado há meses pelos seus organizadores, terminou em um brutal fracasso. Pouco mais de mil pessoas em São Paulo, 600 em Brasília e a esvaziada orla de Copacabana, cheia de trios elétricos e vazia de pessoas, foram as imagens que não deixaram dúvidas do fracasso. Até Alexandre Frota, ator pornô e “pensador contemporâneo” da direita brasileira, reconheceu o rotundo fracasso das mobilizações.
Um ato pelo “Fica Temer” e para blindar um governo de corruptos
O governo Temer, com apenas 10% de aprovação, foi poupado pelos organizadores do ato. Compondo partidos da base aliada do governo Temer, como o direitista DEM, o MBL teve que rebolar muito para se dizer “contra a corrupção” e blindar de forma descarada o governo Temer. Os escândalos de corrupção se acumulam no governo PMDB/PSDB. Cinco ministros já caíram e mais seis estão citados nos esquemas. O próprio Temer já coleciona centenas de citações nas delações premiadas. Marcelo Odebrecht, cita que Temer pediu R$10 milhões de “ajuda” ao PMDB e que sabia do Caixa 2. Os tucanos, que dão base fundamental de sustentação ao governo Temer, também estão citados em diversos esquemas de corrupção. Aécio, Serra, Alckmin, FHC, e todos os principais caciques do PSDB estão até o pescoço atolados na lama da corrupção.
Esses fatos contundentes só provam que a “nova direita” do MBL e do Vem pra Rua nunca tiveram interessados em lutar a fundo contra a corrupção. Pelo contrário, são dois movimentos que blindam e protegem os “seus” corruptos. O próprio vereador de São Paulo pelo MBL, Fernando Holiday (DEM), conhecido por suas vergonhosas e ultra-reacionárias posições contra a luta dos negros e LGBT’s, está sendo investigado pela Polícia Federal por prática de caixa 2.
Algumas conclusões sobre os deslocamentos da classe média
O fracasso do ato de 26/03 deixa um debate na esquerda: se a classe média que saiu às ruas em defesa do impeachment da ex-presidente Dilma havia girado definitivamente à direita durante todo um período histórico. Nós nunca compartilhamos dessa tese. Obviamente que a classe média oscila mais que outros setores sociais. Eternamente espremidos entre as duas classes fundamentais capitalista, a burguesia e o proletariado, os setores médios apresentam volatilidade política extrema. Obviamente que os atos em defesa do impeachment tinham uma direção burguesa e foram capitalizados por movimentos de direita reacionários.
Mas igualar base à direção, sem uma profunda análise política, é um erro perigosíssimo no que diz respeito à política marxista. Na verdade houve uma clara divisão da classe média na época do impeachment. Uma parte dela foi aos atos do MBL e de seus satélites da direita. Outra parte, assustada pela tese do “golpe” foi nos atos da Frente Brasil Popular e Frente povo Sem Medo. As pesquisas nos dois atos mostram uma composição majoritária de um perfil de manifestante. Curso superior, branco, renda de mais de 10 salários mínimos, etc. A classe trabalhadora, sobretudo seus setores mais organizados, não entrou em peso nessa briga. Parte importante da esquerda a acusou de passividade. Nada mais falso! Era natural, Dilma vinha retirando direitos e o desemprego aumentava. Mentiu descaradamente nas eleições de 2014. O outro lado (atos do MBL), tinha o explícito apoio dos tucanos e uma direção completamente desvinculada da classe trabalhadora. Na ausência de uma esquerda que tomasse em peso às ruas, não para defender o governo, mas para derrotá-lo junto com suas medidas, a nossa classe se manteve observando tudo atentamente. É um fato que o MBL e o Vem pra Rua, há pouco mais de 2 anos, colocaram milhões nas ruas sob suas bandeiras. Porém havia uma que era central, que Dilma saísse do governo. Não havendo grandes protestos contra o governo pela esquerda, é natural que protestos dirigidos pela direita opositora inflassem. Não existe vácuo em política, se à esquerda não disputa, perde terreno.
A grande maioria da esquerda saía às ruas em defesa do governo corrupto encabeçado pelo PT. A mídia petista, nadando de braçadas na grana que recebiam do governo Dilma, dizia que havia protestos contra o governo porque toda sociedade estava se movendo à direita! Que o governo era bom, que era preciso “lutar” em sua defesa. Blindar o governo desastroso e anti-operário de Dilma, essa era a triste tarefa a que muitos se colocaram. Enquanto isso, a cada mês, a cada novo ato em sua defesa, Dilma atacava mais um direito do povo. Porém, o que diziam as teses petistas compartilhadas pela maioria da esquerda era que a maioria classe média estava nas ruas pedindo a retirada de todos os direitos sociais, a privatização generalizada, entre outros evidentes exageros. A mídia vinculada ao petismo (Carta Capital, Revista Fórum, Mídia Ninja, Brasil de Fato, Jornalistas Livres, Brasil247, etc.) foi bem sucedida nessa falsa propaganda entre os ativistas. Hoje temos que nos perguntar: por que esses mesmos setores que “queriam o fim dos direitos”, estão contra Temer e suas Reformas, que nada mais são do que a retirada de direitos? Até no próprio ato de 26/03 na Paulista, segundo pesquisa da Folha, mais de 70% estão contra a Reforma da Previdência.
Todas as pesquisas que saíram desde que Temer propôs a famigerada proposta, mostram que a imensa maioria da classe trabalhadora e os setores médios estão contra a Reforma. E dizem mais, que esses mesmos setores estão contra o governo Temer. A imensa maioria da população, incluindo a classe média, se estava também contra Dilma e seus ataques, como não estaria contra Temer e os seus?
Havia dois extremos nas análises sobre o futuro governo Temer, que na prática chegavam à mesma conclusão. De um lado, os “economistas” muito bem remunerados pela grande mídia diziam que com Temer a economia iria se recuperar e portanto a tendência do “novo” governo era aumentar a sua popularidade. Por outro, a mídia petista levava à conclusão de que a maioria da sociedade (que havia girado à direita) apoiaria as medidas de Temer. Nós opinávamos que era óbvio que o repúdio contra Dilma seguiria contra Temer. Pois o governo PMDB/PSDB significaria o aprofundamento das medidas amargas que Dilma já havia começado e que eram o motivo principal de sua impopularidade. Os que achavam que a base dos atos do MBL e seus satélites estava nas ruas por “ódio ao PT”, “ódio à esquerda”, “em defesa do fim das leis trabalhistas”, se enganaram, mais uma vez. Se fosse isso, Temer seria um campeão de popularidade! Foi pelas mãos dele e de seu partido que Dilma caiu e o PT saiu do governo; ninguém mais que ele quer aplicar o fim das leis trabalhistas, dos direitos sociais. A realidade, dura como sempre, insiste em se afirmar mais uma vez contra as teses do petismo.
É possível e necessário derrotar Temer e a Reforma da Previdência
Para além dos balanços e conclusões que temos que tirar dos processos políticos que passamos nos últimos 3 anos, que são importantes, sem dúvidas, existe uma constatação: a ampla maioria da sociedade, incluindo a classe média que foi às ruas pelo impeachment, está contra o governo Temer e a Reforma da Previdência. Isso deve ser aproveitado pela nossa classe. Os trabalhadores apresentam enorme disposição de luta. Contam para isso com o apoio da maioria da população. Isso é decisivo para derrotar o governo e também explica o sucesso completo dos atos dos dias 08/03, 15/03 e 31/03. Junto com o sucesso dos nossos três dias de luta, que marcaram a conjuntura em março, veio o inevitável fracasso do ato dirigido pelos apoiadores de Temer e suas Reformas dia 26/03.
Vivemos dias decisivos. Dia 28/04 as centrais sindicais marcaram uma Greve Geral. O atraso na data demonstra que não podemos confiar nem dar carta branca para as direções das centrais. É preciso confiar somente nas nossas próprias forças. Está colocado a necessidade de parar cada local de trabalho e estudo nesse país no dia 28. É possível ser também um dia onde coloquemos milhões nas ruas, aprofundando a crise do governo Temer e dificultando ainda mais a aplicação de seus planos de ajuste fiscal, abrindo o caminho de sua derrubada definitiva.