Nahuel Moreno (1924-1987): Há trinta anos de sua morte
No dia 25 de janeiro completa 30 anos da morte do grande dirigente trotskista Nahuel Moreno, e como parte da reivindicação de seu legado, publicaremos notas e artigos da CST e dos nossos partidos-irmãos, ao longo da semana em homenagem a Moreno.
Por: José Castillo (El Socialista, Argentina)
Em 25 de janeiro de 1987, falecia Nahuel Moreno, o fundador de nossa corrente. Depois de três décadas, seus ensinamentos e desafios para construir o partido e a internacional revolucionária seguem mais vigentes do que nunca.
“Moreno foi, antes de tudo, um homem de ação, um revolucionário da época histórica da revolução socialista mundial. Sua obsessão foi fazer avançar a luta internacional dos trabalhadores contra o capitalismo imperialista mundial. Moreno foi um trotskista: um homem consciente de que ‘a crise da humanidade é a crise da direção revolucionária do proletariado’. O eixo de sua vida foi trabalhar a todo custo pela solução dessa crise, pela construção do partido mundial da revolução socialista: a Quarta Internacional. ” (1) assim seguia o editorial da nossa revista internacional ao informar a triste notícia da morte de nosso mestre.
Passaram 30 anos e o capitalismo segue enfiado em uma crise econômica que se agudiza cada dia mais. Contra suas consequências de aumento da miséria, de superexploraçao, de crescimento do desemprego, de guerras de saque e extermínio, de destruição ambiental, são milhões que se levantam para a luta todos os dias. Surgem daí, constantemente, novos dirigentes, novas camadas de vanguarda, com milhares de perguntas e questionamentos: é suficiente a luta sindical, estudantil, de juventude, indígena, feminista ou ambientalista? Deve-se apoiar os distintos dirigentes “progressistas”, “nacionalistas e populares” ou os “de esquerda” que aparecem em cada etapa como “o novo”, seja o subcomandante Marcos, Chávez, Evo Morales, Lula, os Kirchner, Syriza ou Podemos? Depois de tantos fracassos, vale a pena lutar para “tomar o poder”, ou é melhor se dedicar a construir algo anticapitalista somente num local restrito?
A atualidade das elaborações de Moreno está na capacidade de dar resposta a estas legítimas perguntas que milhares de lutadores nos fazem todo dia. Nahuel afirmava que apenas a luta sindical, que é sempre parcial, não basta. É preciso lutar pelo poder. Afirmava que não há saída enquanto a classe trabalhadora não governa, expropria a burguesia e o imperialismo, e começa a construir o socialismo. E que isso não era uma tarefa “nacional”, mas era parte de algo muito maior, a revolução socialista internacional. Por isso, é preciso militar, construir um partido e também uma internacional revolucionária.
Mas… qual partido?
Moreno defendia um partido que ajudasse com que as lutas triunfassem; José Páez, um grande dirigente classista de Córdoba e do Partido Socialista dos Trabalhadores (antecessor do Izquierda Socialista), sintetizou brilhantemente no ato de despedida do Moreno: “Moreno foi quem nos ensinou que não existe nada mais importante do que apoiar uma luta operária. Quando tinha 17 anos, junto com um grupo de companheiros, começou a militar apoiando a greve do frigorífico Anglo-Ciabasa. Mas também, era sempre ele que tratava de convencer de que a luta sindical só não bastava, que era preciso aliar à luta política. Que é necessário um governo dos trabalhadores para acabar com a miséria e a exploração capitalista, que é preciso fazer a revolução socialista, e que para triunfar faz falta um partido operário e revolucionário. E que essa luta é internacional”. (2)
Mas Moreno também sabia que para ganhar a direção do movimento operário tinha que lutar até a morte contra todos os partidos operários burocráticos e oportunistas, como os “comunistas” ou os falsos “socialistas” da socialdemocracia que frearam e traíram tantas revoluções. Por isso, o partido e a internacional que Moreno buscou construir ao longo de toda sua vida não deixaram um minuto de denunciar e enfrentar aqueles que, em diferentes conjunturas históricas, buscaram levar a classe trabalhadora e o povo a reboque das opções burguesas. E sabia que não havia nada pior para a classe operária do que as ideologias de conciliação de classes que postulavam que “se o patrão vai bem, o operário vai bem” (Perón), ou que “se pode redistribuir renda compartilhando com a burguesia” e, pior ainda, as que reivindicam “historicamente” revoluções passadas, mas diziam que agora que agora “não era necessário e que se devia buscar outros caminhos” (Fidel Castro). Moreno foi o principal dirigente que se pôs à frente da luta contra correntes do trotskismo, dentre eles a mais importante foi a de Ernest Mandel e seus seguidores, que capitulavam às direções majoritárias do movimento de massas, como Tito, Mao, o MNR na Bolívia em 1952, Castro é o sandinismo, da mesma forma como hoje fazem com Lula, Evo ou Chávez.
Moreno lutou toda sua vida contra o ceticismo. Sempre teve plena confiança na capacidade de luta da classe trabalhadora. Acompanhou de forma obcecada cada revolução que se produziu em qualquer lugar do planeta e foi um fanático por divulgá-las e apoiá-las. Mas ao mesmo tempo era contundente: “enquanto o proletariado não superar sua crise de direção revolucionária, não poderá derrotar o imperialismo mundial e todas suas lutas, como consequência disso, estarão repletas de triunfos que nos levarão, inevitavelmente, à derrotas catastróficas”. (3)
Os novos fenômenos
Dois anos depois de sua morte, se deu um dos fatos mais importantes do século XX: a queda dos estados operários burocráticos do leste da Europa e da URSS. As massas tiraram esses governos ditatoriais e o mais poderoso aparato contrarrevolucionário do mundo ruiu. Contra grande parte da esquerda mundial, nos classificamos com uma vitória imensa, um grande triunfo revolucionário. Mas, lamentavelmente, a realidade histórica, pela negativa, deu razão à Trotsky e Moreno: a ausência de partidos e internacional revolucionária impediram que as massas freassem a abertura ao capitalismo imperialista que esses mesmos burocratas vinham implementando.
Mas isso não significou nem o fracasso do socialismo, nem nenhuma “vitória histórica” para o capitalismo imperialista. A crise econômica mundial continuou e se aprofundou. Desde então, ocorreram muitas novas lutas e revoluções. Daí surgiram as novas camadas de lutadores que hoje fazem as perguntamos que apresentamos mais acima. E também aqueles que, justamente horrorizados pelas aberrações ditatoriais e contrarrevolucionárias do stalinismo, nos questionam se a tomada do poder e a expropriação da burguesia não terminará, inevitavelmente, criando um regime como o de Stálin.
Aqui, novamente, encontramos a resposta em Moreno: “naqueles lugares onde se expropriou a burguesia… não há saída se não se impõe a democracia operária… enquanto não houver a mais ampla democracia não se começa a construir o socialismo. O socialismo não é só uma construção econômica. O único que fez essa análise foi o trotskismo, e também foi o único que chegou à conclusão de que era necessário fazer uma revolução em todos esses estados e também nos sindicatos para alcançar a democracia operária”. (4)
É possível fazer tudo isso? Novamente, e para terminar, damos a palavra ao velho Nahuel: “o nosso não é uma religião, não temos fé religiosa na classe operária. Se esta, com seus partidos e direções, não consegue derrotar o capitalismo, a situação será cada vez pior. (…) a questão é saber se a classe operária conseguirá se dotar de uma direção adequada (5) (…) eu não creio que seja inevitável o triunfo do socialismo. Creio que o resultado depende da luta de classes, na qual estamos enfiados. E que, então, o indispensável é lutar, lutar com força para triunfar. Porque podemos triunfar. Não existe nenhum deus que tenha fixado que não podemos fazê-lo. ”
(1) Correio Internacional N°27, Buenos Aires, Março-Abril 1987.
(2) Correio Internacional N°27, Buenos Aires, Março-Abril 1987.
(3) Moreno, Nahuel, Atualização do Programa de Transição, Edições El Socialista, Buenos Aires, 2014.
(4) Nahuel Moreno, Esbozo biográfico, Cehus, Buenos Aires, 2016.
(5) Nahuel Moreno, Conversações, Edições El Socialista, Buenos Aires, 2012.
(6) Nahuel Moreno, Esbozo biográfico, Cehus, Buenos Aires, 2016.
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