México: POS-MAS exige justiça para os estudantes assassinados e suas famílias
Os desaparecidos devem aparecer com vida! | Tradução Adolfo Santos e Felipe Melo
Fora Aguirre Rivero e José Luis Abarca! Ambos devem ser julgados e presos!
Como um grande “estadista”, assim se apresenta José Luis Abarca Velázquez, prefeito licenciado de Iguala, no estado mexicano de Guerrero. Umas das fotos que circulam nos meios de comunicação o apresentam com um terno lustroso, rosto sorridente e a bandeira de México ao fundo. A seu pedido, o conselho desse município outorgou-lhe licencia por 30 dias depois da carnificina onde foram assassinados três estudantes da Escola Normal Rural de Ayotzinapa e outras três pessoas, entre as quais um adolescente de apenas 14 anos integrante do time de futebol “Los Avispones de Chilpancingo”. Além disto, estão desaparecidos outros 43 estudantes.
Da mesma forma se apresentam o governador de Guerrero, Angel Aguirre, e o presidente Enrique Peña Neto, representantes de um estado que se vangloria eficiente ao reprimir os protestos sociais, e exemplares no uso do terror para enfrentar a crítica e a discordância. Num Estado com estas características, o que acaba de acontecer contra os jovens da Escola Normal de Ayotzinapa não é de se estranhar, ainda que indigna e provoca uma raiva difícil de conter. Os representantes de um Estado que promove a violência e a impunidade, que utiliza as Forças Armadas de todos os níveis para manter o controle de seu desgoverno, são os responsáveis pelos desaparecimentos.
Até agora se sabe que os normalistas foram baleados por agentes municipais de Iguala e “encapuzados” pertencentes a grupos criminosos vinculados às próprias autoridades estatais, enquanto que integrantes dos Exércitos observavam impávidos o que estava a acontecer. Nas caminhonetes da policia municipal foram “levantados” os jovens para supostamente serem apresentados perante um juiz de nome “Ulisses”, mas depois disso nada mais se soube dos 43 estudantes.
Nem o exército, nem o governador, nem a Policia Federal ou a recentemente criada gendarmería – grupo policial especial – fizeram nada para colocar um basta à trajetória delitiva do prefeito de Iguala. Este personagem já tinha sido denunciado por seus vínculos com o narcotráfico, pelo assassinato de lutadores sociais integrantes da União Popular, mas ele continuou tranquilo em seu cargo. Aos dirigentes do PRD², seu partido, que militam na corrente Nova Esquerda, da qual faz parte o prefeito Abarca, também não se incomodou com a reputação do funcionário.
Todos eles são responsáveis. Os representantes deste decadente Estado capitalista mexicano são os responsáveis da morte e desaparecimento dos estudantes porque permitiram a impunidade, se aliaram às forças do crime, às vezes colocando-se a seu serviço, às vezes servindo-se delas.
Cogita-se que a agressão contra os “normalistas” está relacionada a numerosos esforços que buscam fechar a Escola, da mesma forma que querem fazer com todas as escolas normais rurais do país. “Sementes de guerrilheiros”, assim as chamou Elba Esther Gordillo³ que cumpre sentença numa prisão do Distrito Federal. Porém, apesar das terríveis agressões os normalistas continuam resistindo.
No entanto, esta agressão selvagem foi muito além do aceitável: pretende ser um castigo marcado a sangue para quem se dispõem a lutar. Esta ação desprezível quer semear o terror e levar adiante as mais lesivas contrarreformas que cerceiam as conquistas do povo trabalhador. Elas pretendem favorecer a voracidade dos capitalistas, que também pretendem acabar com a educação crítica e de resistência.
Os fatos têm comovido todo o país. Mas a maior parte dos dirigentes das organizações sindicais e sociais (quase todas controladas pelo PRI) faz um tenebroso silencio. Ao momento de redigir esta declaração, somente uma parte das organizações que se localizam no campo independente, entre as que se destacam as integrantes da Nova Central de Trabalhadores, organizações políticas de esquerda, como o POS-MAS e organizações defensoras de direitos humanos, emitiram uma posição uma clara a condenar o massacre e as desaparições forçadas, e estão se organizando para exigir justiça.
A mobilização deve se estender por todo o país, envolver milhares de lutadores e não pode parar até os responsáveis, não somente os que dispararam, mas quem propiciaram este crime brutal, estejam presos, incluídos o governador e o presidente municipal. Os estudantes assassinados e seus familiares devem ter justiça; os desaparecidos devem ser devolvidos com vida o mais rápido possível. O exército deve voltar aos quarteis, os corpos repressivos devem ser desativados e os políticos corruptos, aliados dos criminosos, devem ser destituídos, julgados e encarcerados.
Os trabalhadores e o povo pobre devem passar por cima dos dirigentes corruptos e entreguistas, que só servem para frear sua mobilização. Novas direções sindicais e políticas devem ser construídas com urgência, que sejam capazes de conduzir a luta social e revolucionária no México. É impostergável a necessidade de lutar para transformar radicalmente este país, extirpando o câncer capitalista que ataca e mata as maiorias.
De imediato, é necessário impulsionar a mais ampla unidade dos que estão dispostos a se mobilizar para frear esta escalada repressiva e as contrarreformas que destroem as conquistas populares e arrebatam os cada vez mais limitados direitos.
É urgente a mobilização para derrotar o governo, os patrões e os repressores, como fizeram os jovens do Politécnico, massivamente, valentemente, sem confiar no governo e suas falsas promessas. Mobilizarmo-nos, tomar as ruas massivamente para resistir e eventualmente passar à ofensiva. Estas são as tarefas urgentes nas que está empenhando esforços a militância do POS-MAS, Partido Operário Socialista-Movimento ao Socialismo.
POS-MAS Partido Operário Socialista-Movimento ao Socialismo é a seção mexicana da UIT-QI
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¹ Ayotzinapa; Localidad del Estado de Guerrero donde ocorreu o massacre de estudantes normalistas. O estado de Guerrero está localizado ao sul-oeste de México.
²PRD: Partido da Revolução Democrática fundado por Cuauhtémoc Cárdenas em 1989 depois de romper com o PRI.
³ Elba Esther Gordillo: burocrata sindical do SNTE Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Educação. Foi também dirigente do PRI. Tanto na sua atuação sindical como política se envolveu em grandes escândalos de corrupção mediante os quais acumulou suculentas fortunas. Gordillo foi arrestada por cargos de corrupção pelas autoridades mexicanas o 26 de fevereiro de 2013, quando descia de seu jet privado en que havía viajado desde Califórnia.