Panamá: diante dos ataques de Donald Trump, a mais ampla unidade

Por Propuesta Socialista [Proposta Socialista], seção panamenha da UIT-QI

 

Desde que Donald Trump foi declarado vencedor das eleições presidenciais dos EUA, ele intensificou uma campanha de mentiras contra a administração do Canal do Panamá. Não só está tentando desinformar, mas também dando a entender abertamente que não descarta o uso da força se o Panamá não seguir suas ordens.

Sua ofensiva se baseia na manipulação da população estadunidense com falsidades como:

– Que os Estados Unidos “deram” o Canal ao Panamá (inicialmente, Trump alegou que o ex-presidente Carter vendeu o Canal por um dólar);

– Que o Canal do Panamá está sob o controle da China;

– Que o Panamá impõe tarifas injustas aos navios estadunidenses;

– Que 30.000 cidadãos estadunidenses morreram na construção do Canal;

– Que os Estados Unidos irão “recuperar” o Canal do Panamá.

Tais argumentos não são casuais nem inocentes. Fazem parte de uma estratégia para alimentar o nacionalismo imperialista e justificar maior ingerência no Panamá. Trump e seus seguidores estão recorrendo à velha doutrina expansionista: a Doutrina Monroe, que foi usada no século XIX para eliminar a influência europeia na América Latina com o lema “América para os americanos”.

Hoje a história se repete: eles buscam submeter o Panamá ao poder de Washington e chantagear o governo Mulino para que ceda às suas exigências.

A resposta do governo de José Raúl Mulino

Com retórica nacionalista, Mulino declarou que o Canal do Panamá é panamenho. Entretanto, suas ações contradizem suas palavras. Em vez de uma firme defesa da soberania nacional, ele contratou figuras do Partido Republicano — próximas a Trump — para fazer lobby em Washington, supostamente para “informar” o presidente estadunidense sobre a realidade do Canal e demonstrar que ele opera sem interferência chinesa.

Porém, por trás desse “lobby” o que está claro é que Mulino não pretende confrontar Trump, mas sim agradar aos Estados Unidos. Ele deixou claro que seu governo prioriza as relações com Washington acima de qualquer outra nação, incluindo a China, demonstrando seu alinhamento com os interesses da potência norte-americana.

Enquanto isso, os empresários panamenhos aguardam a chegada de Marco Rubio para “esclarecer” que o Canal é administrado por panamenhos, numa tentativa de preservar “boas relações” com os EUA. Tais relações significaram a histórica submissão da burguesia panamenha aos ditames de Washington.

Por outro lado, a Assembleia dos Deputados continua discutindo a entrega dos recursos do Fundo de Previdência Social para os bancos e outras empresas. Fundos que pertencem aos trabalhadores panamenhos.

A resposta do povo panamenho e da classe trabalhadora

No entanto, a história não é escrita por governos burgueses. A soberania está sendo defendida pelo povo. Jovens, mulheres, povos originários, camponeses e a classe trabalhadora em geral estão rejeitando as ameaças de Trump e denunciando sua política imperialista e racista, que visa não apenas o Panamá, mas o mundo inteiro. Não se trata apenas do Canal: trata-se da dignidade do povo e do seu direito de decidir o próprio destino.

Trump provou ser um inimigo dos povos, com sua política de:

– Deslocamento do povo palestino, através do extermínio efetuado pelo Estado sionista de Israel;

– Ataques, perseguição e prisão de imigrantes na base de Guantánamo;

– Violação dos direitos das mulheres e das dissidências;

– Agressões econômicas e diplomáticas contra o México, a Groenlândia e o Canadá;

– Destruição do meio ambiente;

– Cortes e eliminação de programas sociais, que afetam os mais vulneráveis, entre outros;

O Panamá não pode ceder a tais ameaças. A soberania não é negociável. Ela deve ser defendida com unidade, consciência e luta. É hora de cerrar fileiras contra qualquer tentativa de dominação estrangeira, venha de onde vier.

Não obstante o exposto, é necessário assinalar que uma parte da população foi influenciada pela ideia de não defender a soberania panamenha sobre o Canal e o território nacional, argumentando que “o Canal não lhes dá nada” e que “tudo fica com os ricos”. Agora, como consequência disso, alguns setores permanecem indiferentes.

Tal postura tem raiz em dois fatos:

  1. Os empresários são os principais beneficiários do Canal, acumulando riqueza enquanto o povo permanece atolado na precariedade;

 

  1. O dinheiro arrecadado, que deveria melhorar a vida da maioria da população, não se reflete no bem-estar popular, permanecendo concentrado nas mãos de poucos, enquanto a população permanece sem acesso a serviços básicos decentes.

A isso se soma a estratégia deliberada dos Estados Unidos – através de sua embaixada e levada a cabo com a aprovação de Lucinda Molinar, ministra da educação no governo de Ricardo Martinelli e no atual – de apagar a memória histórica do luta do povo panamenho, especialmente da mobilização patriótica de 9 de janeiro de 1964. Tentaram enfraquecer o senso de soberania e de dignidade nacional, promovendo a dependência e a resignação.

Diante disso, é urgente tomar medidas concretas para fortalecer a soberania e o bem-estar do povo:

– Recuperação imediata e estatização dos portos de Cristóbal e Balboa, bem como das empresas de energia elétrica, telefonia e outras. Permanência dos aeroportos sob administração estatal, sem as concessões a empresas francesas que Mulino está negociando na surdina. Garantir com tais medidas que os recursos nacionais beneficiem o povo trabalhador e não os interesses estrangeiros;

– Um plano de obras públicas, que garanta água potável para toda a população panamenha, acabando com o acesso privilegiado de poucos a um direito fundamental;

– Reparos e construção de estradas públicas, para melhorar a mobilidade e as condições de desenvolvimento em todo o país;

– Garantir a soberania alimentar, promovendo a produção nacional e reduzindo a dependência de importações, que só enriquecem as corporações transnacionais;

– Urgente injeção de recursos no Fundo de Previdência Social, fortalecendo um sistema solidário, que proteja a classe trabalhadora e os setores mais vulneráveis.

A soberania não é negociável. Ela deve ser defendida por meio da organização, da conscientização e da luta da classe trabalhadora e do povo.

Os Mártires deixaram claro: um Canal a serviço das trabalhadoras e dos trabalhadores, não dos empresários, das companhias de navegação ou dos interesses estadunidenses!

Marco Rubio, persona non grata!

Trump, tira as mãos do Panamá!

Um território, uma bandeira! Viva os Mártires de janeiro de 1964!

 

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