O Governo Lula é capitalista e a esquerda precisa ser independente (Parte III)
3- O Governo Lula é capitalista e a esquerda precisa ser independente (Parte III)
(este texto é a terceira parte do O governo Lula e a luta contra a extrema-direita). Leia a parte I e II.
O que colocamos até aqui são questões fundamentais para a esquerda socialista e comunista. Primeiro porque o governo Lula/Alckmin não está em disputa. Não é neutro e sem definição de classe. Ele é capitalista e o rumo dele está expresso no arcabouço fiscal para o grande capital, suas relações com o Imperialismo e sua política de alianças conservadora. E segundo porque há um debate com as forças Lulista que ocupam cargos no governo Lula.
O PT, PCdoB e o PSOL, atuam sobre os demais partidos para abrandar as críticas ou neutralizá-las. Para isso usam a teoria da disputa dos rumos do governo ou dos campos burgueses progressivos. Ou seja, como se o governo Lula não tivesse um caráter de classe capitalista, fosse neutro, e integra-se um campo “progressista” ao qual os interesses da classe trabalhadora devessem ser subordinados. Para isso tentam canalizar tudo contra o Bolsonarismo, Lira e o centrão, como se Lula estivesse aprisionado por essas forças e não pudesse fazer mais ou melhor. Assim, o PT, PCdoB e PSOL tentam bloquear o surgimento de uma oposição pela esquerda ao governo Lula. Eles o fazem de distintas formas, uma delas é pela via da atuação nos espaços do movimento operário e popular, nas chapas sindicais comuns, a pressão via os mandatos parlamentares, os governos Municipais como o de Edmilson em Belém. A atuação da frente ampla sobre as organizações que estão fora do governo é essencial para eles, pois o fundamental para qualquer governo é ter apoio e sustentação, mesmo que seja externo.
Trata-se de um tema que merece muita atenção já que afetou muitos partidos Socialistas e Comunistas ao longo da história. Se localizando no lado de fora, sem compor ministérios ou cargos governamentais, atuaram para sustentar o governo capitalista. É célebre o caso do PCF, Partido Comunista Francês, em relação ao governo da frente ampla de Leon Blum nos anos 30, fazendo sua sustentação do lado de fora. No caso do Brasil o PCB apoiou o governo Juscelino sem ingressar nele. O PCB também deu apoio ao governo Goulart, mesmo que algumas vezes o criticando, sempre atuando em parceria com o PTB nos sindicatos nos anos 1960. No caso dos Partidos Comunistas, o apoio aos governos capitalistas foi fundamentado nas resoluções do VII congresso da Internacional Comunista, orientada por Stalin. Ela consta no célebre informe de Dimitrov, de 1938, e ficou conhecida como a estratégia das “frente populares”, orientando governos capitalistas em comum com partidos burgueses ditos “democráticos”, “progressistas” ou “antifascistas”. Quem aplicou essa linha, como o PCB ou PCdoB, jamais teve independência e ficou amarrado aos limites capitalistas do governo e do regime político ao qual ele serviu e apoiou. Atualmente é uma linha semelhante a essa – ao informe de Dimitrov – que o PSOL aplica ao compor e apoiar o governo capitalista de Lula/Alckmin.
O problema da linha que analisamos da UP é que ela, sem o afirmar, adentra pela teoria dos campos burgueses progressivos e permeia a disputa dos rumos do governo Lula. Com mais ou menos críticas ao arcabouço fiscal e corte de verbas, o fato é que ela hierarquiza a divisão entre um campo “fascista” e outro “antifascista”. E isso, querendo ou não, ameniza a contradição fundamental da sociedade capitalista que é a contradição de classe, entre a burguesia e o proletariado. A UP defende as pautas do proletariado, defende os interesses da classe trabalhadora, não o negamos. Mas nos exemplos que citamos, ela faz isso pressionada pelo campo burguês antifascista do governo Lula. E essa pressão leva, com mais ou menos intensidade, a submetê-las ao inimigo principal, o “fascismo”, a “extrema direita”, “Lira” e os “banqueiros”. Essa é uma explicação para não dar importância ao papel do governo Lula, não hierarquizar seus ataques ou nem sequer citá-lo.
Em nossa opinião, trata-se de uma questão importante e um debate necessário de ser feito pelo conjunto das esquerdas socialistas e comunistas. Por quê? Porque essa forma de elaboração leva, cedo ou tarde, a um processo de perda da independência; a uma dinâmica de ceder ao chamado campo burguês “antifascista” da frente ampla. É uma forma que, no final das contas, conduz ao apoio político externo, de fora, ao governo de Lula/Alckmin. Contraditoriamente, sem definir bem o caráter do governo capitalista de Lula/Alckmin e sua governabilidade conservadora, se torna difícil combater a extrema direita, Lira, o centrão e os banqueiros.
Confira o capitulo IV do artigo: É errado dar apoio político a um governo capitalista