Após as eleições europeias, como barrar a ascensão da extrema direita?

Por Luta Internacionalista (Estado Espanhol), Movimento Alternativa Socialista (Portugal), Partido da Democracia Operária – IDP (Turquia), Movimento Liga Marxista Revolucionária (Itália), seções da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional.

26/06/2024. As eleições para o Parlamento Europeu deixaram algumas reflexões: o aumento da abstenção, como consequência do distanciamento crescente dos trabalhadores e dos jovens diante das instituições e partidos que deveriam representá-los, enquanto as condições de vida se deterioram gravemente, com a queda dos salários e das pensões, empregos precários, cortes de verbas nos serviços públicos, dificuldades de acesso à habitação.

Uma abstenção que afetou mais os partidos da esquerda parlamentar e permitiu o avanço da direita (o PP europeu) e, sobretudo, da extrema-direita (tanto o CRE de Meloni como o ID de Le Pen), que capitalizaram parte do descontentamento de setores da classe média empobrecida e de um setor da classe trabalhadora, como já aconteceu nas mobilizações agrárias. A extrema-direita se beneficiou do militarismo adotado pelos governos europeus e do endurecimento da política de imigração, que endossou os seus postulados reacionários.

Houve também um voto contra os governos, que têm aplicado planos de ajuste contra os trabalhadores e os setores populares. Os grupos parlamentares socialistas e de esquerda mantiveram seu tamanho. Eles geralmente perdem votos quando estão no governo e ampliam o seu espaço quando estão na oposição. As maiores vítimas foram os liberais e os verdes, que tinham obtido um aumento significativo em 2019.

Tal combinação de fatores teve a sua expressão máxima nas crises dos governos que estão no coração da União Europeia: Alemanha e França. Também a Bélgica, em que caiu o primeiro-ministro.

Macron, que perdeu 10 deputados, convocou eleições gerais para 30 de junho, com o segundo-turno em 7 de julho. As grandes mobilizações dos coletes amarelos, a luta contra a reforma previdenciária e, finalmente, as mobilizações rurais derrubaram a sua popularidade. Diante do genocídio praticado por Israel, Macron manteve-se ao lado do Estado sionista e reprimiu as manifestações de solidariedade com o povo palestino. O Reagrupamento Nacional (RN) de Le Pen ampliou sua bancada em 12 deputados, ficando como primeira força política. Também cresceram o PS e a França Insubmissa.

Na Alemanha, a crise do governo é forte. Os dois principais partidos, os sociais-democratas e os verdes, tornaram-se respectivamente a terceira e quarta forças políticas, atrás da CDU de direita e da AFD de extrema-direita, que foi a primeira força nos cinco estados da Alemanha Oriental. A social-democracia do chanceler Olaf Scholz obteve um novo mínimo histórico, com 13,9% dos votos. Com a economia em recessão, greves em defesa dos salários e uma política alinhada com o Estado sionista, o governo tem reprimido duramente os protestos pró-Palestina, essencialmente nas universidades.

Os resultados eleitorais não colocam em perigo os acordos entre grupos, que estabelecem a distribuição de cargos nas instituições europeias. Porém, a crise que se abriu nos dois países centrais atravessa toda a UE. É também o reflexo do que está ocorrendo com os imperialismos da UE, que estão perdendo terreno para outras grandes potências.

Como barrar a extrema direita?

A extrema-direita, embora não tenha crescido tanto quanto as sondagens previam, obteve 24,3% dos votos. Experimentou um recuo onde comanda o governo, como na Polônia. Na França, na noite da eleição, houve uma manifestação contra a extrema-direita. Apesar de não enfrentarmos o fascismo como na década de 1930, não devemos minimizar a ameaça que a extrema-direita representa contra os salários e as pensões, contra os trabalhadores migrantes, contra os direitos democráticos das mulheres e dos coletivos LGBTI, contra a educação e a saúde pública, contra as medidas adotadas para impedir a destruição ambiental capitalista…. Estamos vendo isso na forma de uma motosserra com Milei ou de outras formas com Meloni.

Os governos de extrema-direita devem ser confrontados com mobilizações, como está sendo feito na Argentina, com duas greves gerais e nos protestos contra a Lei Bases e a repressão. E com a construção de uma alternativa anticapitalista e de ruptura, como fazem os nossos companheiros da Izquierda Socialista com a Frente de la Izquierda y los Trabajadores Unidad.

Mas como impedir o avanço da extrema-direita? Na França, a esquerda parlamentar firmou um acordo de constituição da Nova Frente Popular (NFP): France Insubmissa, Partido Comunista Francês, Partido Socialista, Praça Pública, Geração-S, Esquerda Republicana e Esquerda Ecossocialista. O Novo Partido Anticapitalista (NPA-A) aderiu ao acordo, que conta com o apoio de organizações sindicais e ONGs.

A presença entre os candidatos da NFP de François Hollande, que foi presidente da França entre 2012 e 2017, significa toda uma declaração de intenções. As medidas adotadas pelo seu suposto governo de esquerda subordinaram os interesses dos trabalhadores aos dos grandes patrões; ele aplicou políticas racistas e repressivas contra os trabalhadores migrantes; e abriu a porta à extrema direita. O programa da NFP não vai além de reformas, que já apareceram noutros programas e que não foram aplicadas quando Holland estava no governo. A NFP já anunciou que se prepara para uma coalizão com Macron, caso ganhe as eleições. Sem medidas de ruptura com os interesses dos grandes patrões, não há mudanças reais. Portanto, a ausência de tais medidas é parte do problema e não da solução. E é a esse beco-sem-saída que as políticas dos governos supostamente progressistas da União Europeia (como a Alemanha, o Estado espanhol e anteriormente Portugal e a Grécia com o Syriza) nos conduzem, abrindo a porta à ascensão da extrema-direita. É por isso que é ainda mais desastroso que o NPA-A, um partido que afirma ser trotskista, apoie a NFP. E que a sua principal figura pública, Philippe Poutou, seja candidato.

A unidade é necessária, mas para a mobilização contra os governos – de qualquer cor – que aplicam a austeridade contra trabalhadores e aposentados e políticas contra a imigração. E que são cúmplices do genocídio palestino. Somente apresentando a perspectiva de uma solução efetiva para as justas demandas da classe trabalhadora e dos setores populares bloquearemos a penetração da extrema-direita nos bairros.

Também é necessária a unidade para a construção de uma alternativa anticapitalista, a serviço das lutas, comprometida com a formação de um sindicalismo combativo; que apresente um plano econômico operário de urgência face à crise; que lute por governos dos/as trabalhadores/as. Um passo nessa direção na França teria sido a formação de uma frente a partir das organizações que reivindicam o trotskismo.

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