Texto 3 – O desvio sectário e obreirista do PCB

Diego Vitello e Michel Tunes, coordenação da CST

No último artigo, vimos que o PCB adere ao campo stalinista dentro da Internacional Comunista.

O VI Congresso e o “terceiro período” stalinista

É o VI congresso que aprova uma linha ultraesquerdista e sectária. O que se denominou de “terceiro período”, em que se prognosticava uma intensa radicalização das massas de forma linear em todo o globo. Negava-se qualquer unidade com os partidos socialdemocratas – qualificados de “social-fascistas” – e ocorriam a rupturas dos sindicatos de massa e o fim da Frente Única que só poderia ocorrer “na base” (ou seja, não existir, pois as bases seguem seus dirigentes e organizações). Stalin, mais adiante, vai resumir essa linha na frase: “objetivamente, a Socialdemocracia é a ala moderada do fascismo […] não se trata de antípodas, mas de gêmeos”. Assim surgem aventuras sectárias, causando tragédias. A principal delas foi a divisão das forças proletárias na Alemanha, que determinou a subida de Hitler e do Nazismo ao poder em 1934.

Mesmo na fase ultraesquerdista, a estratégia etapista se mantinha: o Brasil deveria fazer uma revolução agrária e anti-imperialista. Basta ver que uma resolução da “Internacional Comunista sobre a Questão Brasileira”, redigida em Moscou em 1930, definia o “caráter da revolução brasileira” segundo “as premissas de uma revolução do tipo democrático-burguês” (A Classe Operária, 17/04/30).

O sectarismo do PCB e boicote à FUA

Um dos exemplos desse momento no PCB pode ser visto em suas respostas ao manifesto do líder tenentista Luís Carlos Prestes e sua proposta de uma Liga de Ação Revolucionária, contrapondo a ela uma “frente única” das massas “realizada na base” (A Classe Operária, nº 96), sendo que Octávio Brandão insistia que o PCB não entendia a frente única “através das combinações politicas feitas no alto, entres os chefes”, mas sim como uma aliança “das massas operárias e camponesas”.

O auge dessa política isolacionista foi o boicote à Frente Única Antifascista. Fundada em 1933, por iniciativa da LCI (Liga Comunista Internacionalista), e contando com PSB, União dos Trabalhadores Gráficos, Legião Cívica 5 de Julho, Bandeira dos 18, jornal “A Rua”, revista “O Socialista” e a Coligação Proletária dos Sindicatos, que agrupava 80 entidades sindicais. Posteriormente, o PCB foi arrastado a participar. A maior ação política dessa Frente foi a vitória no episódio que ficou conhecido como a “Batalha da Praça da Sé”, em que a Frente impediu uma manifestação dos integralistas (fascistas brasileiros) no centro de São Paulo, após horas de uma batalha campal com sete mortos e trinta feridos. Em maio de 1934, a FUA realiza uma forte manifestação de primeiro de maio com inúmeros sindicatos e organizações operárias, mas o PCB já havia rompido a Frente e se autoisolado. Nesse processo, uma forte luta interna no PCB gerou a ruptura de vários comunistas de São Paulo, liderados por Hermínio Sacchetta, que aderem ao trotskismo e são parte da fundação do PSR (seção da IV Internacional).

A imposição do monolitismo stalinista

A orientação ultraesquerdista foi aplicada em todos os PCs, significando a destituição ou expulsão de muitos de seus dirigentes. Bukharin e o responsável pelo secretariado latino-americano da Comintern, Humbert-Droz. Mella de Cuba e Mariátegui do Peru são marginalizados. Na Argentina, já se encontra expulso Mateo Fossa. Esse é o pano de fundo do que se chama de “obreirismo” do PCB: a avalanche burocrática que decepa a direção do partido. A partir de então, opinar causa expulsão. Um exemplo: Plínio Mello, então responsável pelo Bloco Operário e Camponês, participa de uma reunião do secretariado sul-americano da Internacional Comunista, onde crítica a política do terceiro período. Em seguida é expulso. Posteriormente, junta-se à Liga Comunista Internacionalista trotskista.

Um dos marcos do giro da fração stalinista no PCB é a reunião do Comitê Central de outubro de 1929, que avalia a linha da I Conferência Comunista Latino-Americana e do X Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista e os “perigos da direita”. Entre 1930 e 34, a direção executiva central do PC e de regionais importantes se modifica. Astrojildo, Brandão, Heitor Ferreira, Fernando Lacerda e Leôncio Basbaum vão sendo afastados e substituídos por Miranda, Bangu e Luís Carlos Prestes. Sob essa nova direção e já em meio ao giro para a frente popular do VII Congresso da Internacional Comunista é que o PCB prepara o desastroso levante militar de 1935, da ANL, mas isso já é assunto para a próxima parte deste especial, numa próxima edição do Combate Socialista.

O socialismo num só país

O VI Congresso reafirma o chamado “socialismo num só país”, propagado por Stalin desde 1924. Uma ideologia antimarxista, que abandona a definição de que o desenvolvimento das forças produtivas se choca e está em contradição com as fronteiras nacionais. Uma ruptura com a revolução internacional defendida por Lenin e os bolcheviques. A partir dessa nova linha, abandona-se o internacionalismo proletário em nome da errônea ideia de que um país socialista pudesse se desenvolver de forma isolada. Daí deriva a ideologia de que a URSS poderia construir seu próprio socialismo, utilizando seus próprios recursos, desde que não houvesse uma nova intervenção imperialista. Isso justifica a defesa da URSS não pela via da luta de classes e da revolução internacional, mas sim pela via da diplomacia e da colaboração de classes com determinadas potências capitalistas. De tal modo que a Comintern e suas seções nacionais se transformam em linhas auxiliares da construção socialista nacional da URSS, para evitar a intervenção imperialista e permitir que a autarquia socialista siga viva e avançando. É decretada a morte do bolchevismo e da estratégia revolucionária mundial, da conquista do poder político pelo proletariado dirigido por um partido revolucionário. Com ziguezagues à direita ou à esquerda, essa ideologia não mudava. É o que mais à frente resultaria na chamada “coexistência pacífica” com o imperialismo e a própria dissolução da Internacional Comunista em 1943.

 

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