Texto 2 – Adesão ao Stalinismo e a defesa do etapismo
Michel Tunes e Diego Vitello, coordenação da CST
No primeiro artigo deste especial, tratamos da fundação do PCB em 1922. O partido recém fundado enfrenta o problema da repressão policial. Mas o maior obstáculo é o surgimento de uma burocracia na URSS e na Internacional Comunista, que bloqueou o desenvolvimento dos partidos comunistas e os desviou da revolução socialista internacional. Uma de suas principais teses era a da “revolução por etapas”, uma divisão mecânica da luta de classes, como se existisse uma fase “burguesa” ou “pequeno-burguesa” com fins exclusivamente “democráticos” ou “anti-imperialistas”. Isso subordina o movimento operário aos limites da ordem burguesa e contraria o próprio bolchevismo e a Revolução Russa de 1917.
Agrarismo e industrialismo
Uma das primeiras elaborações do PCB foi “Agrarismo e Industrialismo” de Octávio Brandão, um dos seus dirigentes junto com Astrojildo Pereira e Paulo Lacerda. Esse documento caracteriza a “situação feudal do Brasil” (Editora Anita Garibaldi, pág. 76), “um país medieval” e utiliza as palavras de ordem “pelo industrialismo” e “contra o governo de agrários do Brasil” (pág. 81). A classe operária deveria se subordinar à pequena-burguesia – em especial aos praças, que protagonizaram as revoltas militares – marchar em bloco com a burguesia industrial para o “esmagamento dos agrários” (pág. 148). Um dos processos internacionais citado positivamente é o Kuomintag, um partido burguês nacionalista chinês. Essa linha vai se aprofundar em 1926 e 1927. A direção do PCB fez um acordo com um setor da oposição liderado por Leônidas de Rezende para lançar o jornal “A Nação”. Nas suas páginas é traçada a linha de construir um Kuomintang brasileiro. Era o momento em que Stalin impôs a aprovação do Koumintang como membro simpatizante da Internacional Comunista. Essa linha levou ao massacre do operariado chinês em 1927 (ver mais no livro “China: da revolução à restauração capitalista)
A cisão de 1928
Essa política de alianças kuomintanguista foi rechaçada na direção do PCB por Rodolfo Coutinho, que, anos antes, representou o PCB no V Congresso da Internacional Comunista. Na mesma reunião, Joaquim Barbosa, liderança sindical do PCB, absteve-se.
A imposição de métodos burocráticos que impedem os debates de problemas sindicais leva Joaquim Barbosa a publicar uma carta aberta com críticas nesse terreno. Ele termina expulso e o Comitê Regional do Rio de Janeiro é burocraticamente destituído. O que motiva Rodolfo Coutinho a se demitir da direção nacional do PCB. Posteriormente, 50 membros do partido enviam um abaixo-assinado à direção do PCB exigindo uma conferência. Sendo ignorados pela direção, a maioria deixa o PCB. Barbosa seguiu seu rumo sindical por fora do PCB. Rodolfo Coutinho, junto a outros militantes, dentre eles Lívio Xavier, encaminham um “memorial” ao III Congresso do PCB onde afirmaram que “O bloco operário e camponês de agitação, tornou-se a caixinha de segredos dos conchavos, tramados à revelia do partido, com parlamentares profissionais e políticos da burguesia. A questão do Kuomintang, preconizado pela CCE, foi a pedra de toque de todos os desvios, cristalização dos erros em que incidiu ‘A nação’ (…) os erros doutrinários da CCE, a estratégia tonta por ela preconizada e a concepção de um antagonismo irremediável entre o agrarismo e o industrialismo, em substituição à luta de classes, provocaram nas esferas superiores do partido os resultados mais lastimáveis”. Tal texto não foi publicado aos organismos de base do PCB, aparecendo apenas anos depois no jornal Luta de Classe (número 3, julho 1930).
A adesão definitiva à fração stalinista
O VI Congresso da Internacional Comunista, em 1928, controlado por Stalin e Bukharin, selou os rumos dos partidos comunistas. Ali Astrojildo Pereira, do PCB, foi eleito para a Executiva da Internacional Comunista. É o ano do expurgo dos trotskistas dos PCs. Um longo relatório sobre a “opposição trotskista” é publicado no jornal do PCB. O VI Congresso definiu para o mundo colonial e semicolonial uma etapa de revolução democrático-burguesa, onde os PCs deveriam “tomar parte ativa e geral do movimento revolucionário de massas dirigido contra o regime feudal e contra o imperialismo”. Poucos meses depois ocorre o III Congresso do PCB, onde a direção do Partido aprova essa linha. No relatório dos delegados do PCB ao VI Congresso da Internacional Comunista, publicado em Autocrítica, n°6, as diretrizes são: “sustentaremos (o governo da pequena-burguesia) enquanto lutar contra o imperialismo, os proprietários agrícolas e contra a reação e o combateremos quando se aliar a eles, ao mesmo tempo em que devemos preparar a segunda vaga para derrubar a pequena-burguesia” (ContraCorrente, pág. 43).
O VI congresso da IC é o que marca uma virada ao ultraesquerdismo, o chamado “terceiro período”. Bruscamente, Stalin começa os ataques à ala direita do PCUS. Bukharin e outros dirigentes são destituídos e isso se reflete na Internacional Comunista. No PCB, a antiga direção é toda destituída, com Brandão e Astrojildo caindo no ostracismo. É a preparação para uma linha aventureira que levou o proletariado a muitas derrotas internacionais. No Brasil, o ápice desse processo foi o boicote à Frente Única Antifascista e, sobretudo, o desastrado levante comunista de 1935. Nos anos 30, o PCB já está sob uma nova direção, tendo à frente Luís Carlos Prestes e outros militares. Mas isso já é assunto para a terceira parte deste especial, numa próxima edição do Combate Socialista.