“Não podemos apoiar o governo Lula/Alckmin nem depositar confiança na frente ampla.”

Entrevistamos o companheiro Babá, coordenador nacional da CST. Ele foi fundador do PT e da CUT. Posteriormente, fundou o PSOL. Ano passado, Babá e a CST romperam com o PSOL por discordarem do ingresso desse partido no governo Lula.

Confira.

Combate Socialista: Qual é a sua visão do primeiro ano de mandato da frente ampla de Lula/Alckmin?

Babá: Em primeiro lugar, gostaria de dizer que a CST esteve na linha de frente da luta para derrubar Bolsonaro. Após um governo genocida, há muitas expectativas em setores da classe trabalhadora e entre os jovens. Nós compreendemos, mas não nos deixamos levar por essa onda. Dito isso, a verdade dos fatos é que o governo Lula/Alckmin é capitalista e a serviço do imperialismo. É um governo que tem um discurso falando de democracia e de problemas sociais, mas que aplica ajustes contra a classe trabalhadora. Vejam bem: ao invés de acabar com o teto de gastos, como foi prometido na eleição, Lula/Alckmin aprovaram o Arcabouço Fiscal que limita as verbas para saúde, educação e geração de emprego. Isso impede, por exemplo, que a minha categoria, os servidores públicos federais, tenha reajuste esse ano. São muitos os colegas técnicos ou docentes que não estão satisfeitos com essa situação. Conheci de perto Lula e as principais lideranças do PT. Sei muito bem que o projeto de colaboração de classes jamais beneficiou a classe trabalhadora. Por isso, explicamos pacientemente que não podemos apoiar o governo Lula/Alckmin nem depositar confiança na frente ampla.

CS: Qual o impacto dessa linha de colaboração de classes nas lutas contra a extrema-direita?

B: Nós da CST combatemos ativamente a intentona de 8J. Nós, trotskistas, lutamos muito contra a ditadura. Eu mesmo fui espionado e enquadrado na Lei de Segurança Nacional, bem como outros camaradas da Convergência Socialista. Estamos a favor de uma ampla unidade de ação para esmagar a extrema-direita nas ruas. Mas o governo Lula/Alckmin, a frente ampla, não tem essa linha. Eles não utilizaram sua força para convocar mobilizações contra a extrema-direita. Eles canalizam tudo para a via institucional no STF. Mas Jair Bolsonaro e o general Augusto Heleno seguem livres. Não há nenhum grande empresário bolsonarista com bens confiscados. Eles ficam paparicando governadores ultrarreacionários, Lira e deputados do centrão. Não podemos esquecer que o golpista Múcio segue no Ministério da Defesa e que o bolsonarista Campos Neto permanece no Banco Central. O Republicanos, partido de Tarcísio, está no Ministério dos Portos. O resultado é que o bolsonarismo está ganhando musculatura. Acaba de fazer um forte ato nas ruas. A linha da frente ampla sobre a extrema-direita é um desastre.

CS: Qual sua opinião sobre a frente ampla nas eleições municipais de 2024?

B: A frente ampla usa e abusa da existência do bolsonarismo para transformar a eleição num plebiscito. Como se os trabalhadores e a juventude só pudessem votar no partido da ordem, camuflado de “democrata” ou “progressista”. Sendo assim, eu acredito que eles vão ter muitos votos. Mas isso aí nada tem de esquerda. Olhe só para a situação de Boulos, que colocou como vice a Marta Suplicy. Ela, no PT, se localizava à direita da Articulação. Depois que ela saiu do PT, piorou. Estava na gestão do Nunes, um prefeito que esteve no ato de Bolsonaro e agora ela é vice de Boulos! Já vi esse filme: Haddad se aliou com Maluf para vencer em SP, mas depois reprimiu protestos da juventude. Nós dialogamos com forças da chamada esquerda do PSOL, mas lá nenhuma força desacatou a linha de Boulos. Não somos parte desse toma-lá-dá-cá. Vamos utilizar a eleição para fortalecer posições socialistas e revolucionárias.

CS: O que você avalia sobre a ideia de uma frente eleitoral envolvendo UP, PCB, PCB-RR, PSTU e outras organizações?

B: Nós propusemos uma frente eleitoral da esquerda independente do governo Lula/Alckmin e de seus governadores, sem qualquer partido patronal. Uma frente eleitoral contra os governadores e prefeitos de direita e da extrema-direita. Propusemos uma reunião conjunta da UP, PCB, PCB-RR e PSTU, pois apesar das diferenças de programa, internacionais ou de estratégia, poderíamos apresentar uma opção comum com uma frente eleitoral, resguardando a independência de cada um dos partidos e organizações. Já fizemos isso, por exemplo, em 2006, com a frente de esquerda que agrupou socialistas e comunistas nas eleições (incluindo PSTU e PCB na mesma chapa). Ou seja, uma variante tática para tentar evitar a pulverização eleitoral, das forças que estão de fora da frente ampla. Mas não ficamos parados. Buscamos agrupar forças da esquerda socialista consequente através da reunião “de organizações e dirigentes socialistas revolucionários”. Essa é a nossa batalha!

 

Convite a uma reunião de organizações e dirigentes socialistas revolucionários

Nós, que assinamos esse convite, fomos construtores do Polo Socialista Revolucionário, uma iniciativa que consideramos que foi positiva em 2022, pela sua intenção de reagrupar setores que se reivindicam socialistas e revolucionários e que defendem um programa de independência de classe. Consideramos que as tendências que vêm se desenvolvendo da situação nacional e internacional só reafirmam essa necessidade, especialmente para a intervenção comum nos processos de luta de classes que surgem, mas também para buscar apresentar uma alternativa política aos que apresentam a Frente Ampla e a conciliação de classes como estratégia. Consideramos importante buscar unir esforços nesse sentido, visto que isso poderia fazer com que tal perspectiva pudesse chegar a setores mais amplos da base, com a união das distintas forças socialistas, em base aos mesmos fundamentos que nos fez constituir o Polo em 2022. Essa necessidade se coloca este ano também no terreno das eleições municipais, onde a esquerda institucional vai buscar se reafirmar e seria importante, especialmente em São Paulo, apresentar uma alternativa à chapa Boulos-Marta e à Frente Ampla, pois será uma eleição com dimensão de importância nacional. Nesse sentido, os que assinamos este convite, articulamos uma reunião dia 11/3, às 18h30, para debater essa perspectiva, e queremos convidar o PSTU e todos os setores do antigo Polo Socialista Revolucionário que desejarem se somar à reunião, na intenção de verificarmos os pontos de acordo que podemos chegar para encarar essa perspectiva com uma atuação em comum.

Saudações socialistas e revolucionárias

Assinaturas: MRT, CST, Socialismo ou Barbárie, Plínio de Arruda Sampaio, Editor de Contrapoder; Silvio Sinedino, Marco Antonio Perruso (Trog), Professor da UFRRJ.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *