14 de maio de 1948: fundação do Estado de Israel
Por Mercedes Petit, dirigente da Esquerda Socialista (UIT-QI)
A fundação de Israel não remete ao surgimento de um novo país ou nação. Tal data marcou o ápice da invasão da Palestina pelo movimento sionista, apoiado pelos diferentes imperialismos. Desde então, o povo palestino tem resistido à ocupação do seu território e exigido a sua devolução.
No final do século XIX, surgiu um movimento na Europa, o sionismo, promovido pela burguesia imperialista e por proeminentes bilionários judeus, como Rothschild. Naquela época, os judeus pobres foram vítimas de ataques (pogroms) nos impérios austro-húngaro e czarista, como parte da repressão contra trabalhadores, camponeses e diversas minorias oprimidas. O sionismo propôs a formação de um “Estado” teocrático, baseado na religião, afastando assim as massas judaicas – majoritariamente formada por camponeses, artesãos, pequenos comerciantes e trabalhadores pobres – da luta de classes dos seus respectivos países e, em particular, da influência dos partidos marxistas revolucionários, que arregimentavam muitos combatentes judeus.
“Uma terra sem povo para um povo sem terra”
Na Palestina, durante muitos séculos, a maioria da população árabe coexistiu pacificamente com uma pequena minoria judaica. O sionismo destruiu essa situação desde que começou a pôr em prática o seu plano de “colonização” e ocupação militar daquele território. Com a ajuda direta do imperialismo britânico, que era amo e senhor da região, o sionismo difundiu a falsa “história” das terras vazias, que voltaram às mãos dos seus legítimos habitantes desde os tempos bíblicos.
Na realidade, milhões de palestinos viviam ali ao lado da pequena minoria judaica. A Palestina estava sob domínio inglês desde o fim da Primeira Guerra Mundial. Longas lutas de resistência anti-imperialistas ocorreram em todo o Oriente Médio. Entre as duas guerras ocorreram numerosas insurreições contra os colonialistas britânicos e franceses. Na Palestina, entre 1936 e 1939, ocorreu o auge da resistência. A Inglaterra teve que mobilizar para lá metade das tropas do seu exército, um dos mais poderosos do mundo.
Ao mesmo tempo, o sionismo organizou o seu próprio exército local, o sinistro Haganá. No final da década de 1930, praticamente conseguiram afogar em sangue a resistência e continuaram o seu trabalho genocida, com massacres de aldeia em aldeia.
Em 1947 – valendo-se do justo sentimento de solidariedade aos judeus por conta da perseguição contra eles perpetrada pelo nazismo -, os sionistas conseguiram “legalizar” nas Nações Unidas (contando também com apoio do próprio Stalin) a ocupação de uma parte do território. Houve grandes manifestações e greves de protesto entre os palestinos, massivamente forçados a emigrar para os países árabes vizinhos, através de um genocídio. Apontaremos aqui apenas um caso, o da aldeia de Deir Yassin, aniquilada em 9 de abril de 1948. Em 14 de maio, foi proclamado o “Estado de Israel”. Através de uma guerra com os países árabes vizinhos, eles também ocuparam a terras destinadas pela ONU aos palestinos.
Um enclave racista e agressor
Israel desenvolveu-se e continuou a expandir-se com o apoio econômico e militar direto do imperialismo ianque, servindo como uma espécie de “porta-aviões” terrestre localizado no mundo árabe, um gendarme da contrarrevolução imperialista no Oriente Médio. Apesar disso, conseguiu ganhar prestígio entre setores da esquerda como um projeto “socialista”, enquanto o massacre dos palestinos foi silenciado e a sua crescente resistência foi acusada de terrorismo.
Mas nunca conseguiram derrotar este povo heróico, que foi obtendo reconhecimento internacional para a sua luta e desmascarando os invasores. A crise em Israel forçou os seus vários governos a começar a devolver partes das áreas ocupadas. E os palestinos foram recuperando terras centímetro por centímetro.
A conciliação com o imperialismo e o sionismo praticada pela direção palestina (Al Fatah) deu espaço para o crescimento da questão dos “dois Estados”. Durante mais de 20 anos, diferentes projetos políticos nesse sentido, buscando legitimar o enclave, surgiram e fracassaram. Os seus sucessivos fracassos provêm das raízes irreconciliáveis do conflito. Há um povo, os palestinos, que sofreu uma invasão, foi expulso de suas terras e jogado na pobreza, mas que não para de lutar e de se fortalecer. E há um “Estado” artificial, Israel, baseado no genocídio, na ocupação racista e militar de um território que pertencia a outro povo. Na década de 1960, foi fundada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Ela cresceu agitando um slogan que continua a indicar o caminho da luta na região: por uma Palestina laica, democrática e não racista. Com o seu heroísmo, o povo palestino avançará incansavelmente até atingi-lo.