Entre Havana e Buenos Aires | As razões da viagem de Obama
Por Miguel Sorans
Muitos se perguntam por que Obama viaja a Argentina no dia 24 de março, quando completam 40 anos do golpe genocida apoiado pelos EUA. A Obama não interesse que ocorra manifestações em repúdio a sua visita na Argentina. Não lhe interessa porque é parte de um operativo político pela America Latina que tem dois destinos: Cuba e Argentina. As razões porque ele viaja a Buenas Aires são óbvias. Obama quer dar apoio ao novo governo reacionário e pro-yanque de Mauricio Macri. É uma viagem para ratificar que serão aliados para seguir pagando a dívida e para favorecer as multinacionais e o capital financeiro contra o povo trabalhador.
Isso é claro e não necessita de muitas explicações. Porém, qual são as razões da viagem a Cuba? Responder a esta interrogação requer muita explicação. Não se soluciona com duas frases. Porque, lamentavelmente, o pano de fundo dessa histórica viagem é ratificar que em Cuba segue avançando o processo de restauração capitalista, sob a condução de Raúl Castro. Obama viaja para apoiar esse capitalismo “a la cubana” e para avançar com as intervenções estadunidenses na ilha.
Esta definição pode impactar e deixar chocados muitos trabalhadores e jovens antiimperialistas e de esquerda que sempre tiveram Cuba como uma referência de luta pelo socialismo. Mas a verdade é que a mais de 20 anos o Partido Comunista Cubano (PCC) e seus dirigentes Fidel e Raúl Castro vinham abrindo a economia para as intervenções estrangeiras e instalando um sistema de empresas mistas. Dessa forma seguindo o mesmo caminho aberto pela China de restauração capitalista. A direção cubana vem escondendo essa realidade argumentando que eles estariam “atualizando o socialismo” para torná-lo “próspero e sustentável”. O mesmo que diz os dirigentes comunistas da ditadura chinesa, mas governam explorando seu povo para as multinacionais. Isso não é socialismo.
A realidade cubana desmente as palavras de Raúl Castro e do PCC. Há vários anos estão instaladas em Cuba multinacionais européias, canadenses e de outros países. No setor hoteleiro, por exemplo, já estão os grupos estrangeiros Meliá, Barceló, Iberostar, Accor, entre outros. No setor de níquel opera desde 1992 a multinacional canadense Sherrit. No tabaco, desde 1994, se formou a Habanos SA, empresa mista com a espanhola Altadis, que é propriedade de um grupo inglês. O rum Havana Club está associado com a francesa Pernod Richard (proprietária do whisky Chivas Regal).
A outra cara são os trabalhadores que recebem salários de entre 15 e 20 dólares. Um dos mais baixos do mundo. Em um país onde as greves e os protestos estão proibidos, os sindicados são oficiais e vigora um regime de partido único.
O acordo de Obama com Raúl Castro busca terminar com a ausência de empresários e investidores estadunidenses. Por isso Obama está jogado nesse pacto e propõe que termine o resto do bloqueio. Parte do pacto é a nova lei de investimentos, aprovada em Cuba em abril de 2014, que autoriza a instalação de empresas com 100% de capital estrangeiro e que a emigração cubana poderá fazer negócios na ilha como pessoas físicas ou jurídicas.
Graças a isso, pela primeira vez desde a revolução cubana de 1959, vai se instalar uma fábrica de tratores dos Estados Unidos em Cuba sem necessidade de associar-se com o estado. Ou seja, não será mista. Será localizada na zona do porto de Mariel, uma zona franca que estão preparando para instalação direta de empresas privadas (ver mais dos no Clarín 16/2/16). A outra abertura são os 30 vôos diários entre Estados Unidos e Cuba, 20 de Havana e 10 de outras cidades, com empresas aéreas estadunidenses.
“A companhia telefónica estadounidense AT&T e as redes hoteleiras Starwood y Marriott anunciaram propostas de acordo para fazer negócios em Cuba, segundo o jornal The Wall Street Journal. ́Somos otimistas de que vamos obter luz verde do governo estadounidense para ter hotéis com a bandeira da Marriott en Cuba’, explicou Tom Marder, portavoz da Marriott, que confirmou que Arne Sorenson, presidente da rede hoteleira, viajará a Cuba de 20 a 22 de março.” (Página 12, 12/3/16).
Já existem algumas empresas estadunidenses atuando. A Western Union tem 220 locais abertos a anos, Airbnb, que aluga apartamentos e casas para o turismo, a companhia telefonônica IDT e as companhia de celulares Sprint e Verizon Wireless que oferece serviços na ilha. A visita de Obama aponta em consolidar a abertura dos negócios em Cuba.
Apesar de sobrar apenas partes do embargo imposto nos anos sessenta pelos EUA, seguiremos apoiando o histórico clamor do povo cubano pela total abolição e pela restituição do território da base de Guantánamo.
Como repudiamos a presença de Obama em Argentina, também pensamos que sua presença em Cuba não levará nada que possa favorecer o povo cubano. Não haverá nenhum progresso com as multinacionais, com o investimento estrangeiro e com a restauração capitalista aplicada por Raúl Castro. Em Cuba está colocado a luta por salários dignos, pelo direito de protesto, terminar com o regime de partido único e por recuperar as conquistas alcançadas com a revolução socialista.
Traduzido por Danilo Bianchi da Equipe de Tradução da CST. Texto originalmento postado no site da Unidade Internacional dos Trabalhadores – UIT-QI | http://goo.gl/4CNv5H