83 anos do assassinato de Leon Trotsky: Seu legado segue vivo
Gabe, juventude Vamos à Luta / SP
No dia 21 de agosto de 1940, o mundo testemunhava um dos eventos mais marcantes e trágicos do movimento comunista internacional e do século XX: o assassinato de Leon Trotsky a mando de um agente secreto de Joseph Stalin. Principal figura, depois de Lênin, da Revolução Russa de 1917 e fundador do Exército Vermelho, Trotsky foi um dos revolucionários mais proeminentes e influentes da União Soviética nas primeiras décadas de sua existência. No entanto, a partir de suas críticas e confrontos contra a burocratização e a falta de democracia interna em curso na URSS e no Partido Bolchevique, já sob liderança de Joseph Stalin, passou a sofrer perseguições e censura, que culminaram no exílio forçado de Trotsky e, finalmente, em seu assassinato no México, onde havia se refugiado.
As disputas entre Trotsky e Stalin, que se intensificaram após a morte de Vladimir Lênin em 1924, e é fundamental para entender as razões de seu assassinato. Enquanto Trotsky defendia a “Revolução Permanente” e a expansão da revolução socialista para além das fronteiras nacionais como Marx e Lênin, a democracia operária, Stalin priorizava a construção do socialismo em um único país, consolidando seu poder dentro da União Soviética, tudo isso para seguir mantendo seus privilégios burocráticos.
O exílio de Trotsky não significou o fim de sua oposição a Stalin e ao regime que ele personificava. Mesmo de longe, ele continuou a criticar as políticas de Stalin e a alertar para os perigos da burocracia crescente e da degeneração da revolução. Seu compromisso com suas convicções permaneceu inabalável, e ele usou sua habilidade como escritor e orador para denunciar o que via como traição ao marxismo revolucionário e a revolução de 1917.
No entanto, a perseguição implacável de Stalin não conhecia limites, e os tentáculos da NKVD (polícia secreta soviética) finalmente o alcançaram no exílio mexicano. Em 20 de agosto de 1940, Trotsky foi brutalmente atacado em sua própria casa por um agente da NKVD, resultando em ferimentos fatais. Sua morte marcou o fim físico de uma das vozes mais proeminentes da última liderança bolchevique viva que participara da revolução de 1917 ao lado de Lênin.
O assassinato de Leon Trotsky continua a gerar debates e análises profundas sobre seu papel na história e o legado. Sua contribuição revolucionária, seu papel na Revolução Russa e sua luta incansável contra o stalinismo seguem vivos, mesmo sem sua presença física, Trotsky continuou e continua a inspirar milhares de revolucionários ao redor do mundo.
Por que Stalin mantou matar Trotsky?
Desde o triunfo da Revolução de Outubro, uma das principais preocupações de Lênin e Trotsky consistia na expansão da revolução pela Europa, particularmente na Alemanha, que se encontrava em uma conjuntura revolucionária devido à Primeira Guerra Mundial. Ambos apenas visualizavam a possibilidade de desenvolver e consolidar o socialismo através da derrota do capitalismo e do imperialismo em nível global. Isso se dava em virtude das transações comerciais ocorrerem sob o regime capitalista e uma única república soviética isolada não seria capaz de construir o socialismo de forma plena, podendo até conduzir a uma derrota completa.
Após a derrota da revolução europeia, Lênin travou sua última batalha contra a burocracia que surgia no seio do Partido Bolchevique. Lênin uniu-se a Trotsky nessa luta, entretanto, já era tarde demais. Em janeiro de 1924, veio a falecer devido a três derrames. Com a morte de Lênin, o líder mais influente do Partido, Trotsky fundou a Oposição de Esquerda, uma fração interna que lutava pela restauração da democracia interna e contra a crescente burocratização do partido. Isso era personificado principalmente por Stalin. Além disso, lutava contra a recém-criada teoria do “socialismo em um só país”, desenvolvida em 1924 por Bukharin e Stalin. Com a contrarrevolução em pleno andamento na URSS e o poder consolidado da burocracia sob Stalin, a Oposição de Esquerda foi finalmente derrotada em 1927. Trotsky foi expulso do partido, exilado na Sibéria e, em 1929, banido definitivamente da URSS.
No exílio, Trotsky continuou a organizar a Oposição de Esquerda internacionalmente e a denunciar os crimes de Stalin e da casta burocrática que tomou controle da liderança da URSS e da Internacional Comunista. Essa casta conduziu o proletariado de diversos países, como China, Espanha, Hungria, Alemanha e Itália, a uma série de derrotas, levando os Partidos Comunistas ao redor do mundo a adotar uma política de ampla coalizão com a “burguesia nacional” e a busca por uma coexistência pacífica com o imperialismo.
Trotsky se opôs fortemente a essa concepção, que representava uma ruptura com os princípios revolucionários do marxismo. Ele se posicionou contra qualquer forma de aliança com a burguesia, defendendo vigorosamente o internacionalismo proletário e a independência política da classe trabalhadora em relação aos governos de ampla coalizão e nacionalistas.
Para consolidar completamente seu poder na URSS, Stalin e sua casta precisavam eliminar seus opositores, incluindo os membros da antiga guarda bolchevique que haviam liderado a Revolução de 1917 junto com Lênin e Trotsky. Por isso, em 1936, Stalin iniciou os Processos de Moscou, que envolviam a execução de todos os opositores políticos de Stalin. Isso incluía principalmente os membros da Oposição de Esquerda fundada por Trotsky. Mesmo estando no exílio, Trotsky foi julgado e condenado como traidor do povo soviético e agente de Hitler. Mesmo com seus inimigos internos derrotados, Trotsky, a principal figura de oposição ao stalinismo permanecia vivo e denunciando suas políticas, no final das contas, Trotsky era o último líder bolchevique da revolução de 1917 ainda vivo e que seguia combatendo a burocracia, mesmo em exilio. Com a fundação da IV Internacional em 1938, a fúria de Stalin contra Trotsky ultrapassou todos limites.
Stalin, juntamente com a NKVD, passou a coordenar pessoalmente o assassinato de Trotsky, que se encontrava exilado no México. Com uma equipe formada, Ramon Mercader foi recrutado e em 24 de maio de 1940 ocorreu a primeira tentativa de assassinato de Trotsky. Um grupo de agentes contratados pela NKVD disparou cerca de 240 tiros contra a residência em que Trotsky estava, porém, ele estava escondido em um local seguro, resultando na falha da tentativa de assassinato.
Após essa tentativa malsucedida, Stalin ordenou a infiltração de Mercader na casa de Trotsky. Uma vez infiltrado, Mercader se aproximou de Trotsky através do relacionamento que mantinha com a tradutora que trabalhava com ele. No dia 20 de agosto de 1940, Mercader, sob o pretexto de que Trotsky lesse um artigo escrito por ele, esperou até que Trotsky se distraísse para então tirar uma picareta de gelo de dentro de seu casaco e golpeá-lo na cabeça, resultando na morte do último líder bolchevique sobrevivente.
Stalin sentiu a necessidade de assassinar Trotsky como forma de romper o último elo de continuidade do marxismo revolucionário, como expressado na revolução de 1917, além de eliminar o seu principal opositor. Trotsky foi um oponente incansável da burocracia soviética e Stalin não podia permitir que ele continuasse vivo, influenciando os trabalhadores ao redor do mundo. Isso era particularmente preocupante devido ao início da Segunda Guerra Mundial, momento em que Stalin temia que o trotskismo se espalhasse e desencadeasse uma nova onda revolucionária na Europa.
Apesar de ter eliminado fisicamente Trotsky, o stalinismo não conseguiu eliminar o seu legado revolucionário. Após a morte de Trotsky, o trotskismo continuou vivo internacionalmente e novas lideranças emergiram para dar continuidade ao seu legado, como o argentino Nahuel Moreno. O trotskismo continua sendo uma força, representando aqueles que lutam pela emancipação dos trabalhadores e pela derrubada do sistema capitalista. Em contraste, o stalinismo continua a levar a classe trabalhadora a novas derrotas, ao se aliar e formar governos de coalizão, buscando a colaboração com a suposta “burguesia progressista” e formando frentes amplas em conjunto com ela. O trotskismo, sem dúvida alguma, representa a continuação revolucionária das ideias de Marx, Engels e Lênin.
“Diga aos nossos amigos que eu tenho a certeza da vitória da Quarta Internacional – vá em frente!”
– Leon Trotsky