Ato do 8 de março em SP | Defensores de Dilma e Lula agridem mulheres que criticam o governo, mas não calam a primavera feminista
Os atos do 8 de março tinham uma importância fundamental no país inteiro de levar pras ruas as pautas das mulheres, principalmente das mulheres trabalhadoras, frente a uma situação de crise econômica, cortes de verbas das áreas sociais, aumento da inflação, demissões, retirada de direitos, medidas aplicadas pelos governos de todos os partidos da ordem, do PT ao PSDB. Somado a isso, a questão da crise do zika vírus e do surto dos casos de microcefalia deixando mais claro a necessidade da legalização do aborto, que o PT, após 13 anos no governo, segue se negando a implementar.
Nesse sentido, o ato do 8 de março aqui em São Paulo, construído de uma forma unitária por diversas organizações, partidos e militantes independentes, tinha como eixos: defesa da autonomia e da liberdade das mulheres, pela legalização do aborto, contra o ajuste fiscal e a reforma da previdência, por democracia pra lutar e pelo fim da violência contra as mulheres. Esse foi acúmulo que se construiu nas reuniões de organização do 8.
O governismo sequestrou a pauta do ato
Após os fatos da delação premiada do Delcídio Amaral e a operação da Polícia Federal na casa de Lula, as mulheres governistas passaram a convocar o 8 de março com um outro eixo, em defesa do Lula e da Dilma. Mais uma vez jogaram no lixo a defesa das mulheres para defender nossos inimigos.
No sábado anterior ao ato, a CUT divulgou uma nota que colocava o 8 de março no calendário dos atos em defesa do Lula. A secretaria de mulheres do PT divulgou uma arte convocatória do ato das mulheres com os dizeres “Somos todas Jararacas”. Ou seja, desde antes já estava claro que o governismo queria transformar o nosso ato numa defesa do governo, de Lula e do PT.
O que ficou claro na concentração do ato no MASP foi que o PT e o PCdoB sequestraram o ato, colocando uma faixa com os dizeres “Somos todas Dilma” na frente do ato, com vários cartazes e faixas espalhados em defesa do Lula e da Dilma, controlando o carro de som, cantando palavras de ordem “não vai ter golpe”, e vaiando a fala de uma companheira do PSOL que falou que o ato não era pra debater o golpe e sim a pauta das mulheres.
A política e as agressões governistas geram a divisão
Quando a companheira Silvia Ferraro, ligada à CSP-Conlutas, fez sua fala denunciando que a presidente Dilma ataca os direitos das mulheres e chamando o Fora Todos, as mulheres do PT e PCdoB tentaram arrancar o microfone pra que ela não terminasse fala, e ela e outras companheiras do PSOL tiveram que descer escoltadas do caminhão de som. Embaixo, as mulheres governistas jogavam copos e garrafas de água e tentavam acertar com bandeiras. A companheira da juventude Vamos à Luta (CST-PSOL) e estudante de Letras da USP, Priscila Guedes, também foi agredida por mulheres e homens dos setores governistas.
As agressões verbais e físicas dos governistas do PT e PCdoB contra diversas mulheres do campo de oposição de esquerda ao governo não nos calaram e nos intimidaram. Lutamos e mostramos que defenderemos de todas as formas possíveis nosso direito democrático de denunciar o governo inimigo das mulheres trabalhadoras.
Aos defensores de Dilma e Lula não restam argumentos para a defesa do indefensável, já que este governo arrebenta com os direitos das mulheres, não pauta a legalização do aborto e agora quer realizar uma nova reforma da previdência para nos atacar ainda mais.
Precisamos tirar as conclusões deste episódio. As correntes governistas estão há muitos meses com um eixo claro, que é a defesa deste governo traidor. Não à toa, os principais atos que constroem são “contra o impeachment” e um suposto “golpe”. Isso tudo se acentuou após o “intocável” Lula ter sido denunciado pelas relações espúrias que mantém com as empreiteiras.
Após as agressões e a política governista no 8 de março não pode restar dúvidas dos verdadeiros interesses por trás dos atos que estão sendo chamados para os dias 18 e 31. Serão mais duas manifestações em defesa de Lula e Dilma e por isso não servem para apontar uma saída para as mulheres e o conjunto da classe trabalhadora. É evidente que para as mulheres lutadoras este não é o caminho, pois a governabilidade de Dilma que os governistas tanto defendem, hoje significa mais facilidades para aplicar o ajuste fiscal e atacar nossos direitos.
Mais de 3 mil mulheres marcham sem o governismo e fortalecem a luta por um campo alternativo da classe trabalhadora
Diversas organizações, partidos políticos, como nós da CST-Psol, PSTU, PCB, entre outros, coletivos feministas e de juventude, como Juntas e Rua, estudantes da USP, secundaristas das ocupações das escolas, independentes saímos em ato próprio pela Paulista até à Praça Oswaldo Cruz para colocar nas ruas as pautas das mulheres e denunciar todos os governos que atacam os nossos direitos. Nosso ato foi muito vitorioso, pois reuniu mais de 3 mil pessoas que mostraram que temos um lado claro que é o das lutas e greves das mulheres trabalhadoras, como a que hoje é protagonizada pelas professoras do Rio de Janeiro, e que não vamos marchar pra defender um governo que ataca os nossos direitos para garantir o lucro dos banqueiros e empresários.
A primavera feminista segue nas ruas e precisamos avançar pra construir uma verdadeira alternativa de oposição aos petistas e tucanos, que aponte uma saída pela esquerda pras milhares de mulheres combativas e lutadoras que não se venderam e seguem mobilizadas pra defender nossas pautas.